1. um

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Era o último dia do último interrogatório. O ar na sala estava pesado, saturado pelo cheiro de sangue e pela tensão acumulada. Ele levou as mãos aos bolsos do sobretudo, em busca de um cigarro, algo que o ajudasse a limpar a mente. Encontrando o que procurava, acendeu o cigarro e tragou profundamente, sentindo a fumaça preencher seus pulmões enquanto seus olhos percorriam o corpo ensanguentado à sua frente.

— Você... — a voz do homem caído era fraca, quase um sussurro, mas carregava uma mistura de desprezo e desespero. Ele tossiu, o som molhado denunciando os ferimentos internos. — Você não passa de uma puta snezhnayan! — As palavras saíram com esforço, como se fossem a última coisa que ele pudesse dizer.

O assassino, agora distraído pelo insulto inesperado, ergueu uma sobrancelha. Por um momento, ele saiu do transe meticuloso de seu trabalho. Lentamente, um sorriso presunçoso curvou seus lábios.

— Eu gostei disso. Obrigado. — Ele disse calmamente, jogando o cigarro no chão e apagando-o com a bota. Sem pressa, recolheu suas ferramentas, deixando o homem ferido em seu estado miserável, mas com vida. Afinal, ele não seria mais um problema, pelo menos não para a Tsaritsa.

Quando ele se virou para sair, foi surpreendido por um par de olhos dourados fixos nele. Eram atraentes, quase hipnotizantes, mas ele rapidamente afastou o pensamento.

— Oi. — A voz do estranho era suave, mas carregava uma autoridade inconfundível. O ruivo reconheceu de imediato a figura à sua frente, embora não sentisse qualquer ameaça.

Tentando se esquivar para a esquerda, na esperança de ir para casa e relaxar, Childe foi interrompido quando o estranho deu um passo à frente, bloqueando seu caminho.

— Qual é o seu nome? — A pergunta veio carregada de um tom curioso, quase desesperado, se alguém prestasse atenção. — E se me permite, para quem você trabalha? — O homem esboçou um sorriso que, de certo modo, era cativante.

— Não interessa. — Respondeu Childe secamente, sem rodeios, enquanto tentava manter a compostura.

— Oh, se eu estou perguntando é porque interessa. — O estranho insistiu, sem se deixar abalar pela resposta fria.

Childe não se deu ao trabalho de responder novamente, apenas desviou para o outro lado e continuou a caminhar. Contudo, mais uma vez, o homem o impediu de prosseguir.

— Trabalhe para mim. Por favor, menino bonito.

Childe parou abruptamente, confuso. A surpresa foi rápida, logo substituída por risos ao seu redor, embora o homem à sua frente mantivesse um semblante sério.

— É assim que você consegue seus subordinados, Morax? — Childe finalmente deu uma resposta, um toque de sarcasmo em sua voz.

O homem, agora identificado como Morax, não pareceu surpreso. Na verdade, ele esboçou um sorriso malicioso enquanto se aproximava.

— Apenas com quem chama a minha atenção. — Respondeu, a voz carregada de uma confiança perigosa.

— Eu trabalho sozinho. — Childe declarou, tentando encerrar a conversa.

— Ótimo, então trabalhe para mim. — Morax repetiu, sua voz firme.

— Não. — Childe não hesitou. Ele deu as costas e saiu, acreditando que havia encerrado o assunto.

Pelo menos, era o que ele pensava.

[...]

Uma semana se passou, mas Childe não conseguiu tirar Morax da cabeça. Por onde andava, lá estava o homem, encostado em um carro luxuoso, observando-o com aquele mesmo olhar penetrante. A sensação de ser seguido, observada a cada movimento, o deixava no limite. Mas, por outro lado, havia algo inegavelmente atraente no fato de que alguém tão influente estava interessado nele.

Childe, também conhecido como Tartaglia ou Ajax, era o décimo primeiro mensageiro da Tsaritsa e servia às fileiras dos Fatui. Embora fosse um guerreiro temido, sua vida não era completamente consumida pela violência. Como todos os mensageiros, ele tinha permissão para levar uma vida "normal" fora das missões. Columbina, a terceira mensageira, por exemplo, possuía uma padaria popular no centro de Fontaine.

E Childe? Ele trabalhava no caixa de um restaurante fast food, escondendo sua verdadeira natureza por trás de um uniforme simples e um sorriso profissional.

Naquele dia, enquanto atendia os clientes, sentiu uma presença familiar ao seu lado. Antes mesmo de ouvir a voz, ele sabia quem era.

— Olá, menino bonito. — A voz rouca sussurrou em seu ouvido, enviando um arrepio pela sua espinha. Childe piscou, tentando se concentrar na tarefa à mão.

— Olá. — Ele respondeu, forçando um sorriso. — O que deseja, senhor? — Perguntou, mantendo o tom formal.

— Você. — Morax respondeu com um sorriso enigmático, os olhos dourados brilhando.

Childe mordeu o lábio para conter um sorriso, ciente do quão perigoso aquele homem era.

— Minhas desculpas, senhor, mas temo dizer que não estou no cardápio. — Respondeu, tentando manter o tom leve.

— Você sabe do que estou falando, menino bonito. — Morax colocou um pequeno cartão sobre o balcão, empurrando-o em direção a Childe. — Trabalhe para mim.

Childe pegou o cartão, observando-o por um momento antes de levantar os olhos para encontrar o olhar de Morax. Ele podia sentir a intensidade do pedido, mas também a ameaça sutil que o acompanhava. Com um último olhar desafiador, Childe sorriu e guardou o cartão no bolso.

— Agradeço a oferta, senhor, mas acho que já tenho um emprego. — Ele disse, a voz carregada de um tom desafiador.

Morax apenas sorriu, sabendo que o jogo estava longe de acabar.

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