MATRIMÔNIO

331 29 0
                                    

LETICIA LOPES

O sol da manhã penetrava os vitrais da igreja, lançando padrões de luz nas pedras frias e na nave repleta de cadeiras de madeira esculpidas.

O aroma de flores frescas e velas acesas preenchia o ar, criando um ambiente de sagrado esplendor.

A atmosfera estava carregada de uma tensão palpável, não apenas pela solenidade do matrimônio, mas também pela reunião das poderosas máfias, que haviam se reunido em respeito ao império Lopes.

Ou melhor ao meu matrimônio.

Estava atrás das portas pesadas de carvalho, respirando com dificuldade enquanto meus dedos tremiam ligeiramente ao segurarem o buquê de lírios brancos.

Eu iria me casar, com alguem com do dobro de minha idade, e que mal conhecia.

Meu irmão sempre me tratou feito uma princesa, porém nossa familia tinha que seguir muitas regras, foi o que me manteve grande parte de minha vida em um convento seguindo as regras ditadas pelos antecessores de minha família.

Tento respirar fundo e passo a mão livre sobre meu vestido, um esplendor de rendas e seda, que fluía suavemente até o chão,levanto a cabeça e sinto enquanto o véu, preso delicadamente em meus cabelo, caía em camadas etéreas sobre meus ombros e rosto, destacando minha pureza.

Meus olhos, amplos e nervosos, refletiam a luz dos candelabros e a emoção que se avolumava em todo salão,  que em parte me gerava medo.

Olhou para o espelho dourado que adornava a pequena ante-sala, notando as marcas da juventude que ainda ressoavam em meu rosto, agora coberto por uma máscara de formalidade e expectativa.

O silêncio era quase ensurdecedor, cortado apenas pelos sussurros discretos dos membros das famílias reunidas e pelo ocasional ruído do terno dos convidados se ajustando nas cadeiras.

Eduardo, o meu irmão mais velho, estava ao seu lado segurando firme meu braco que estava entrelaçado ao dele.

Ele parecia uma torre de força e calma, embora seus olhos refletissem um sentimento de proteção e preocupação. -Você está linda, Letícia - ele disse com um tom suave, tentando acalmá-la. - Lembre-se, é apenas um momento. Luiz é um ótimo homem, que aceitou isso pelo nosso bem, pelo seu bem- diz e engulo seco concordando - o amor é algo que mem idade e classe interessa - diz e eu o olho nos olhos - faça dar certo que você será feliz- diz - resto virá com o tempo.

Forço um sorriso, mas meu estômago revirava de nervosismo.

Nunca tinha visto Luiz desde a infância, e a ideia de entrar naquele altar com um homem que, até então, era uma pessoa que abdicou de sua vida em prol de minha familia era reconfortante, mas que tinha uma idade bem superior a minha era outra realidade, era na verdade esmagadora.

- Não se esqueça- ele diz - eu te amo e sempre cuidarei de você- fala e sinto vontade de chorar de alegria de tê-lo como irmão.

- também te amo irmão- digo e o vejo se emocionar.

As portas se abriram com um rangido suave, e a música começou a tocar.

O coral de vozes suaves entoava uma peça clássica, que ecoava pela vasta igreja, preenchendo-a com uma sensação de solenidade.

O meu olhar estava disperso até encontrar o altar à frente, onde Luiz estava de pé, vestindo um terno escuro que contrastava fortemente com o brilho do ambiente.

Comecei a caminhar, cada passo era uma luta para manter a compostura.

O olhar dos convidados era uma sensação quase física, como se todos estivessem esperando a revelação de algo grandioso.

Vi rostos familiares, alguns com sorrisos satisfeitos e outros com expressões reservadas, principalmente daqueles que haviam tentado negociar meu matrimônio com seus herdeiros.

As máfias presentes eram uma presença opressiva, mas a seriedade do evento fez com que a tensão se transformasse em uma espécie de manto invisível que envolvia todos.

Meu coração acelerava a cada passo, e seus olhos tentavam se focar em Luiz.

Ele estava parado, de braços cruzados, observando-a com uma expressão de contemplação.

Não podia negar sua beleza, seus traços genuínos e sua postura intimidante, o faziam exalar respeito e poder, não era atoa que ele era o braço  direito de meu irmão.

Porém ele não havia nenhuma demonstração explícita de emoção, mas havia uma profundidade em seu olhar que transmitia uma complexidade de sentimentos.

Me perguntei o que ele estava pensando, e se ele estava tão ansioso quanto eu, ou talves compartilhando da mesma sensação de medo e terror.

Chegamos e ele se aproximou, meu irmão o encarava com admiração enquanto me passava para ele, agora como sua propriedade.

Entrelaçamos os braços e seguimos em direção ao altar.

A cerimônia prosseguiu com palavras de promessa e compromisso, que se tornaram um borrão na minha mente.

As palavras do padre eram um eco distante, enquanto eu me concentrava em Luiz e nas promessas que estavam prestes a fazer.

Cada "sim" era uma confirmação não no âmbito  de amor, mas de uma fusão de mundos que até então estavam separados.

Quando chegou o momento das promessas, me senti paralisada com a pressão dos olhos de todos, especialmente dos que estavam presentes em nome de várias máfias que, por sua própria natureza, eram conhecidos por seus pactos e alianças de poder.

A responsabilidade que sentia em se unir a Luiz não era apenas uma questão de segurança para mim, mas também de manter a estabilidade do império Lopes e a aliança que eles representavam.

Luiz deu um passo à frente, e as palavras que proferiu eram claras e firmes.

- Letícia Lopes aceita Luiz Cardoso como seu legítimo esposo - ele repetiu e senti Luiz apertar carinhosamente minhas mãos para que eu reagisse.

- ah, sim - disse com a voz trêmula.

- em poder a mim,  concedida pela igreja católica, eu os declaro, marido e mulher.

A igreja explodiu em aplausos e felicitações enquanto nós nos afastavamos do altar.

Senti uma onda de alívio e ainda mais nervosismo.

A cerimônia tinha terminado, mas a verdadeira jornada estava apenas começando.

Ao olhar para Luiz, que agora era meu esposo, tentei encontrar conforto na ideia de que eles poderiam, de fato, construir algo juntos, apesar de todas as complexidades que a vida lhes reservaria.

Enquanto saíamos da igreja, estávamos distantes por esses breves momentos ate sentir a sua mão segurando a minha como conforto, e pela primeira vez, tive a sensação de que, apesar da magnitude do dia e das pressões que viriam com ele, havia algo de real e humano que se escondia por trás da formalidade do evento.

Com isso, me preparava para enfrentar a nova vida ao lado de Luiz, cheia de desafios e promessas provavelmente.

ENSINA-ME - SPIN OFF - FONTANAS SEGUNDA GERAÇÃO- LIVRO 5Onde histórias criam vida. Descubra agora