#4 Castle Lake - The Man

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    As águas cristalinas do lago Castle refletiam as perfeitas sombras das colinas, altas e rochosas, cobertas por um musgo esverdeado e escorregadio. A pastagem era baixa, quase rasteira, pelo vale ao redor das águas. Um morro enorme, mais alto que os demais, se fazia presente em um ponto mais afastado, e ele era coberto por árvores de troncos grossos e robustos. Próximo ao morro havia um amontoado de casas, consideravelmente grande, cerca de dez a quinze mil habitantes no território. Não havia fábricas ou grandes indústrias, o ar era limpo e dava para sentir aquele oxigênio fresco, todas as coisas utilizadas pelos residentes – e isto inclui roupa, comida e demais objetos – eram importados de cidades vizinhas como Foursquare e Brainstorm. De certa forma, os moradores se orgulhavam dessa cultura, de serem os mais conscientes coletivamente, mais respeitosos com a natureza, e até tinham alguma soberba por vezes. Chegaram até a fechar a fronteira com Grayish, pois eles não queriam aqueles criminosozinhos perpetuando suas crueldades pela cidade – aqueles vermes. O índice de criminalidade em Castle Lake era praticamente abaixo de zero, e que continuasse assim. A última vez que a polícia registrou uma ocorrência foi sete anos atrás, quando o senhor Willys teve uma de suas cabras roubadas. Mas isso estava começando a mudar; duas semanas atrás houve um caso de roubo a uma mercearia, o autor do crime portava uma faca; dois dias depois, houve outro assalto, dessa vez em uma farmácia; cinco dias depois, um homem foi assassinado; já ontem, e este foi o pior de todos, uma menininha foi violentamente estuprada, morta por asfixia, e descartada no rio Blood River, que corria entre algumas daquelas colinas. O corpo ficou preso em um tronco de árvore, o que facilitou para ser encontrado, na manhã de hoje. A cidade estava em polvorosa.

    Já era noite, cerca de sete e meia. Um homem estava amarrado a uma cadeira, e tentava abrir os olhos, certamente o efeito do midazolam estava passando. A visão turva e embaralhada não o impedia de ver uma pessoa sentada em um sofá, de frente para um aparelho de tv ligado. O seu algoz bebia uma cerveja long neck, despreocupado. Sentindo um enjôo, talvez pelo efeito do sedativo, ele tenta compreender as coisas ao redor. Ele reconhece o lugar, é o galpão da cidade, aqui ficam armazenados todos os mantimentos que Castle Lake importa, e agora pode ver com clareza que o outro homem – ele o consegue reconhecer como Paul Bettany, que trabalha na marcenaria – não estava sentado em um sofá, mas sim em sacos de trigo. Balbucia alguns sons indecifráveis, fazendo Paul tirar a cerveja de sua boca para encará-lo.

    – Ah, olá. – Sorri, mas seus olhos seguem frios. – Como se sente, Eddie?

    – Eu quero vomitar – resmunga, sentindo um refluxo ardente subir e descer pelo seu esôfago.

    – Já vai passar, Eddie – sussurra.

    Edwards Snell mal sabia, mas hoje seria o seu último dia de vida. Sim, ele morreria, com requintes de crueldade e da forma mais visceral possível. Paul pega uma faca da bainha de seu cinto, aproximando do pescoço de Eddie, pressionando firme contra a pele, quase afundando de vez a ponta da lâmina na carne.

    – Eu poderia acabar com isto agora mesmo. – Faz mais pressão. – Mas seria fácil demais – recua.

    Edwards percebe seus pulsos e tornozelos firmemente presos por uma corda. Não há saída.

    – Eu não fiz nada. – Balbucia, uma baba até escorre dos lábios para o queixo. – Por que está fazendo isso comigo?

    – Alice Tompson... Te lembra alguma coisa? – Sussurra, ameaçador.

    – Quem?

    – Alice Tompson... – repente pausadamente. – A. L. I. C. E. T. O. M. P. S. O. N. – soletra.

    – Eu não sei quem ela é, eu não me recordo – diz.

    Paulie coça o queixo, pensativo, os lábios flexionados.

Blood RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora