A sensação que enchia as veias de Alice, quando ela pisava dentro de um set de filmagem, era sempre a mesma.
Euforia.
Deleite.
Expectativa.
Pertencimento.
Ela não sabia quando a paixão pelo cinema havia nascido em si; talvez sempre tivesse estado ali, disfarçada já nas brincadeiras de criança, quando imitava os gestos e as falas das atrizes das novelas infantis que assistia com Sueli.
O tempo passou, os anos vieram, mas aquela vontade, aquele desejo palpitante, aquela energia eletrizante que a rodeava toda vez que estava diante de um holofote...
Ah, aquilo só ficava mais forte.
E se acentuou nas aulas de teatro, nos pequenos curtas que participou, durante seus estudos em Artes Cênicas.
Ela sabia que havia nascido para estar diante de uma câmera.
Só precisava mostrar aquilo para o resto do mundo também.
Vai dar certo. Vai dar certo. Vai dar certo.
— Bom dia. Por favor, aonde os testes femininos serão feitos?
— Ali, naquela direção. É só seguir por aquele caminho.
— Muito obrigada.
Erguendo o queixo e inspirando fundo, Alice seguiu para a direção apontada, contagiada pela energia do vai-e-vem tão típica dos estúdios.
Aquele poderia ser seu novo local de trabalho.
Só precisava que tudo desse certo.
Vai dar certo. Vai dar certo. Vai dar certo.
Apesar dos estragos causados pela chuva, Alice tinha que admitir que o dia cinzento, com vento úmido e uma fina garoa, deixava o clima para os testes ainda melhor — afinal, o filme que o estúdio queria produzir era um suspense noir, ambientado na década de 50, cheio de suspense, sensualidade e traições.
Uma audição em um dia nublado e escuro deixava tudo ainda mais alinhado e certo.
O teste que faria era para o papel de Verônica Cesarini, a protagonista misteriosa e típica femme fatale dos filmes daquele gênero, que, aos olhos do investigador da história — o outro protagonista—, pareceria apenas mais uma vítima enredada na trama recheada de crimes, figuras marginalizadas e noites chuvosas.
Para Alice, a proposta do estúdio de gravar aquele filme em Blumenau era ousada e inovadora.
A maior parte das produtoras preferia focar nas comédias nacionais, nos dramas clássicos sociais, nas novelas e em algumas outras pequenas produções.
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Cenário de Ilusões (Série Bodini) | DEGUSTAÇÃO
Romance*ESSE É O QUINTO (5º) LIVRO DA SÉRIE BODINI, NÃO É NECESSÁRIO LER OS ANTERIORES PARA ENTENDER ESSA HISTÓRIA, MAS PODERÁ CONTER SPOILERS DOS LIVROS ANTECEDENTES* O produtor e diretor cinematográfico Gustavo Bodini foi criado pela mãe longe da grande...