Capítulo I: Esse é o seu pai.

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Kyungsoo se encontrava limpando a bagunça que o filho tinha feito na sala antes de ir para a escola quando ouviu batidas na porta. Olhou para o relógio no pulso, realmente estava na hora do seu filho chegar em casa. O ômega limpou as mãos na bermuda e se levantou seguindo em direção a porta onde a destrancou e a abriu para que seu filho pudesse entrar.

– Omma!

Um garoto, de seis anos passou sorridente pela porta, em dois passos curtos Kyungsoo foi abraçado pelo pequeno de sorriso contagiante.

Jongdae lembrava Jongin de muitas formas, o menino era alegre e cheio de uma tamanha curiosidade, chegava a ficar envergonhado as vezes pelas coisas que o pequeno alfa dizia na inocência para a vizinhança, mas seu filho ainda era um alfa e querendo ou não Jongdae se irritava com felicidade e perdia interesse nas coisas de igual modo, assim como Jongin.

– Oi príncipe, – o apertou fraquinho –como foi seu dia? – questionou abrindo os braços em seguida para que o menor o soltasse.

– Foi bom, a professora Park deixou a gente mexer com cola colorida – Jongdae contou.

Kyungsoo se ergueu novamente e fechou a porta trancando-a.

– E que desenho fez?

– Aqui ó.

O alfa tirou a mochila das costas e caminhou até o sofá abrindo e tirando duas folhas A4 grossas. Na primeira folha era um desenho de três pessoas, já na segunda o desenho parecia com uma bandeira verde com um quadrado vermelho no centro.

– Sente falta da bisa não é? – Kyungsoo perguntou olhando a terceira pessoa na primeira pintura.

O ômega viu o filho concordar com a cabeça.

– Aqui é do dia que fizemus o pic-nic – apontou pra “bandeira”.

– Estão lindos querido, quer por na geladeira? – perguntou.

Novamente Jongdae concordou com a cabeça e foi na direção da cozinha.

Outra coisa que Jongdae havia herdado do Kim, o acenar com a cabeça.
Kyungsoo repudiava essa, porque as vezes ele questionava ao filho oque ele queria em cômodos separados, Jongdae concordava com o lanche sem falar e no fim Kyungsoo não levava comida pro filho por causa do silencio, horas depois Jongdae chegava na cozinha ranzinza oque deixava Kyungsoo também ranzinza.

– Omma.

– Sim? – Kyungsoo caminhou pro outro cômodo com ambos os desenhos na mão direita.

– O Junmyeon me chamou pra ir brincar na casa dele amanhã, eu posso?

Junmyeon é o filho alfa de Baekhyun com Sehun, às crianças possuíam a mesma idade e moravam de frente uma para a outra, oque facilitava na convivência também dos pais, eram amigos essa amizade teve início quando Kyungsoo se mudou.

– Claro que pode, mas os pais deles estão sabendo disso? – Após pregar os desenhos no metal com o auxílio de imãs, virou-se para a criança.

– O Junmyeon disse que sim.

– Vou conferir com os pais dele mais tarde, por hora vá lavar as mãos para jantarmos.

Nem precisava mais conferir com os amigos, todo sábado Jongdae e Junmyeon brincavam juntos, independente de qual casa seria e, nesse mesmo dia o Do aproveitava para ir ao mercado comprar comida.

Era assim que tinha se transformado a vida de Kyungsoo. Mudou-se para Busan onde sua avó residia, passando a morar na casa da mulher assim que chegou. Jongdae nunca tinha chegado a ver foto do rosto dos avós, nenhum deles e Kyungsoo preferia assim. Era somente ele, a criança e sua avó, ou era até o falecimento por idade avançada da mulher a quase um ano.

O alfa já tinha chegado a questionar sobre seu appa uma vez quando sua bisavó ainda estava viva. Kyungsoo congelou poucos segundos até ouvir de sua avó que seu appa era também Kyungsoo. Sabia que seu filho era esperto e sabia também que o menor não tinha mais questionado sobre pois não teria uma resposta concreta, somente quando tivesse uma idade madura o suficiente para entender. Entender que Kyungsoo fez a melhor escolha para eles dois.


Na manhã seguinte Kyungsoo estava se preparando para ir ao mercado quando ouviu batidas na porta. Andou até a mesma achando que fosse um dos pais do Junmyeon ou até mesmo o próprio Junmyeon, já que os dois eram vizinhos, mas não. Ao abrir a porta Kyungsoo se deparou com um homem de tom de pele bronzeado, cabelos pretos e com as características que lembravam muito Jongin.

O ômega se assustou, não era ele ali era? Não podia ser porque não fazia sentido Jongin largar a boa vida que tinha em Seul para vir a Busan.

– Ah Kyungsoo eu finalmente te achei – havia alívio na voz.

Confirmado, é Jongin na frente dele.

O ômega engoliu em seco, piscou algumas vezes sem ao menos conseguir abrir a boca pra falar, até mesmo levou a própria mão ao rosto se dando um tapa para ver se acordava desse sonho sem sentido, nada. Jongin ainda estava parando ali olhando para si agora com uma feição de susto que surgiu logo após o auto-tapa.

– Omma eu já vou pra casa do J- – a voz que tinha começado alta foi diminuindo seu tom até parar. – Quem é esse omma? – Kyungsoo olhou para trás vendo seu filho com o rosto cheio de curiosidade para o homem na porta.

– Agora não querido – sua voz saiu trêmula. – Vá brincar com o Jun e se comporte.

Jongdae concordou com a cabeça sem tirar os olhos do homem na porta e passou pelos dois dizendo um bom dia cheio de desconfiança para o mais alto.

– Por que ele te chamou de omma? Está casado? – Jongin perguntou deixando de olhar atentamente para a criança já do outro lado da rua.

Kyungsoo suspirou.

– O-o que está fazendo aqui? – gaguejou atordoado, sentia que tinha levado um soco no estômago.

– Posso entrar? – Novamente o Do engoliu em seco.

Deu um passo para trás e em três Jongin encontrava-se dentro de sua casa.

– Pode, não repara na bagunça – falou dando espaço para que o maior entrasse.

Havia alguns brinquedos pequenos ainda espalhados pelo canto e na estante papeis e um estojo.

– Mas nem tá bagunçada – ouviu o Kim murmurar.

Kyungsoo fechou a porta e se virou indicando que o alfa se sentasse, já o Do optou por ficar de pé e cruzar os braços.

– Agora diga o que veio fazer aqui.
Seu coração parecia que ia saltar do peito sempre que abria a boca, pois quando fechada tudo que Kyungsoo sentia era calmaria, como se estivesse na praia em um dia perfeito.

– Vim atrás de você oras. Você simplesmente sumiu, não disse nada, nem pra onde iria – contou. – É seu filho? Você tá casado?

– Sim ele é meu filho e não sou casado.
Kyungsoo respondeu sincero, não tinha porque mentir ou omitir a verdade. Era um homem mais responsável agora, não mais o menino de anos atrás, mas era o pai do seu filho ali na frente a pessoa por quem achava não nutrir mais sentimentos, tinha que escolher suas palavras com cuidado.

– Qual a idade dele? E por que ele parece se conectar de alguma forma comigo? – Jongin franzia o cenho enquanto perguntava olhando-o nos olhos.

– Seis anos e isso que você tá sentindo é uma ligação de pai pra filho.

– O QUÊ? – Jongin falou atordoado. – Quando? Por que? Onde? Por que não me disse? – disse rápido.

Dessa vez Jongin era quem parecia ter levado um soco na boca do estômago e toda o atordoamento foi embora num estalar de dedos.

– Você teve coragem de ir embora sem me dizer que estava a espera de um filho meu? Você é doido? O que se passou pela tua cabeça pra fazer algo tão imbecil assim? – Jongin falava com raiva, e Kyungsoo não tirava a sua razão.

– Éramos jovens, não estávamos nem aí pra nada – Kyungsoo começou. – Você era um babaca, estava na cara que não iria assumir, então fiz a jogada mais óbvia e fui embora.

– Jogada mais óbvia? – Jongin questionou incrédulo. – Nossa vida não era a porra de um jogo de xadrez cheio de estratégia. Beleza eu era um babaca, mas ainda assim não achava que eu tinha o direito de saber que você estava carregando um filho meu? Vivíamos falando de filhos quando estávamos juntos...

– Como eu disse e você mesmo, tu era um babaca, e quando eu descobri a gravidez foi que essa ficha caiu, você não ia assumir ele Jongin e sabe disso.

– Eu não era um babaca... – sua voz saiu mais baixa.

– Você andava com babacas e perto deles agia como tal, queria que eu pensasse o que?

– Ainda assim isso não é desculpa.

– Eu sei que não é.

Silêncio.

– Demorou sete anos pra me achar? – ergueu a sobrancelha mudando um pouco o assunto.

– Eu não tinha muito oque fazer, não podia largar tudo e ir atrás de você tendo só dezesseis anos de idade – o alfa baixou a cabeça apoiando-a nas mãos. – Com um mês que você não apareceu na escola eu fui perguntar de você pros seus pais e eles me falaram que você tinha ido embora e fecharam a porta na minha cara – contou. – Insisti um pouco mais até o último dia de aula, na formatura e depois fui atrás de um emprego, os anos se passaram e eu voltei lá pra questionar e seu pai gritou comigo dizendo que você estava aqui com a mãe dele, então eu vim.
– Beleza, me achou, agora me diga o que quer – falou grosseiro.

– Eu só vim saber se você estava bem, mas aí eu descubro que tenho um filho e bom... agora quero recuperar o tempo que não tive ao lado dele – disse claramente decidido. – Você me deve isso e sabe disso.

Kyungsoo ficou calado. Jongin sempre possuiu o direito de conhecer a criança mas nunca pensou que isso viesse a acontecer de fato.

– Eu acho que temos muita coisa pra conversar e outras pra por em ordem nas nossas próprias cabeças então... volta mais tarde para termos essa conversa de forma mais completa, eu vou falar com o Jongdae e amanhã a noite se você ainda estiver pela cidade, se ele quiser eu – engoliu em seco – te convido para vir jantar, assim você vai poder falar com ele – Jongin concordou. – Preciso do seu número de celular pra contato – novamente o Kim concordou.


Depois que Jongin saiu Kyungsoo foi comprar os mantimentos, seu rosto pálido fez os conhecido perguntarem se o ômega estava bem. Em uma hora retornou para casa, deixou tudo que comprou dentro de uma bacia com água e água sanitária e seguiu para a casa da frente e bateu na porta.

– Oi Kyungsoo – Sehun saudou.

– Oi, o Baek tá? – o alfa assentiu e deu espaço para que entrasse.

Kyungsoo tirou os sapatos os deixando ali fora e entrou.

– Ele tá na cozinha – o ômega seguiu sozinho para o cômodo.

– Baekhyun – chamou pelo amigo entrando na cozinha.

– Oi, que cara é essa?

– Minha cara de eu nunca pensei que isso fosse acontecer, lembra que eu te falei sobre o pai do Jongdae?

– Sim, e daí?

– E dai que ele apareceu aqui e quer se aproximar dele – contou.

– É o direito que ele tem né, fazer oque?! Mas pelo que me contou dele achei que ele nunca fosse aparecer.

– Esse é o ponto – Baekhyun fez uma cara pensativa.

– Isso pode ser bom, Jongdae poder conhecer o pai e até vir a gostar dele.
A figura mais próxima de appa que Jongdae tinha era com Sehun. Em ocasiões normais Baekhyun possuía todo o direito de sentir ciúmes do seu marido sendo a figura paterna para outra criança, porém Kyungsoo era seu amigo e Jongdae não possuía culpa de nada, mas em parte Baekhyun se sentia aliviado em saber que Jongin faria o papel de appa da criança como deveria.

– Porque se a gente parar pra pensar e analisar a situação como um todo, a única figura de appa que ele tem é o Sehun e o Sehun não é nem pai dele. Você foi um babaca por ter ido embora sem falar nada...

– Eu tava assustado, o que queria que eu fizesse?

– Eu ficaria bravo se o Baek fizesse isso comigo – a voz do Oh foi ouvida.

Kyungsoo se virou para trás e viu o alfa escorado na porta de braços cruzados.

– Voc-

– Mas também entendo o motivo por você ter ido embora... – teve a fala interrompida. – Como ele reagiu?

– Pouco surpreso eu acho, ele sempre foi calmo comigo quando não estava com os amigos idiotas – contou revirando os olhos no final.

– Pensa assim, a história de vocês dois terminou, não digo que terminou, mas teve um fim muito mal contato ele pode ter vindo atrás é porque não conseguiu seguir em frente tendo um lance mal resolvido com você... E aí ele chega na sua casa e descobre que é pai quando na verdade só queria saber se você estava bem com tudo. Não é todo alfa que faz isso.

– As vezes seu marido fala umas parada profunda – Kyungsoo zoou pouco fazendo Baekhyun rir nasalado.

Sehun se fingiu der ofendido pondo a mão no peito e fazendo cara de dor.

– Mas é sério, – o alfa voltou a expressão anterior – ele sentiu que tinha responsabilidade sobre vocês, se não, não teria vindo até aqui vários anos depois atrás de ti – Kyungsoo se pôs a pensar, a fala do amigo fazia total sentido.


Mais tarde Kyungsoo já tinha guardado toda a louça e se dirigiu para o quarto do filho. Jongdae estava deitado na cama o esperando como fazia toda noite.

– Qual vai ser a história de hoje, omma? – Jongdae voltou-se para si com os olhos brilhantes.

Kyungsoo andou até a beira da cama e se sentou pensando em como contar.
– A história de hoje vai ser sobre o seu appa – dito isso Jongdae deitou a cabeça confuso, mas não abriu a boca. – Quer ouvir? – o alfa assentiu. – Primeiro eu sei que você tem pouca idade e que mesmo assim você já deve ter escutado escondido esse assunto enquanto eu conversava com seus tios e você brincava com o Jun – falou se referindo a família da casa na frente –, mas não é porque você tem seis anos que eu vou te dar todos os detalhes, vou falar do melhor jeito para que você entenda, certo? – Jongdae concordou atento a cada palavra que saia da boca do ômega.

Ele queria saber do seu appa, toda criança sem appa gostaria de saber e com Jongdae não era diferente.

– Seu pai e eu nos conhecemos na escola, ele era muito bonito e eu acabei me apaixonando por ele – um curto sorriso involuntário surgiu no canto dos lábios do ômega, Jongdae notou. – Um dia eu criei coragem e falei pra ele que gostava dele, ele... Seu pai e eu ficamos juntos e era perfeito, só que seu pai não tinha amigos tão legais e as vezes acabava agindo como eles quando estava com eles, está entendendo?

Jongdae concordou no segundo seguinte e Kyungsoo prosseguiu.

– Eu acabei ficando grávido de você, mas fiquei com medo de falar pro seu pai e ele me rejeitar na frente de todo mundo.

– Mas se vocês estavam juntos por quê ele ia te rejeitar? – Jongdae perguntou confuso.

– Por causa dos amigos dele, posso continuar? – o alfa concordou. – Então depois de descobri que eu carregava você na barriga eu fui embora sem dizer de você pro seu pai – parou de falar para ver se o menino o questionaria, mas não Jongdae continuou calado e sem expressão alguma no rosto. – Lembra do homem que viu hoje na porta? – o menino assentiu – É ele. Ele é seu pai.

– Ele foi embora? – Jongdae questionou calmo, sério até demais e não olhando para si, mas para qualquer outro ponto que não fosse seu omma.

Kyungsoo sentiu um nó se formando em sua garganta, preocupado com qual seria a reação do filho.

– Sim, mas ele pode retornar amanhã se você quiser conhecê-lo... – disse calmo pois sabia o mesmo estava começando a ficar com raiva de si.

Kyungsoo engoliu em seco.

– Faz isso, chama ele para vir aqui – Jongdae se virou de costas.

Kyungsoo suspirou e se levantou, saiu do quarto, fechou a porta e rumou para o seu próprio. Pegou o celular e chamou pelo contato recém adicionado. Jongin disse que apareceria por volta das cinco da tarde e assim Kyungsoo resolveu que era melhor encerrar aquele dia.


No dia seguinte Kyungsoo passou toda  a maior parte do dia sendo ignorado por Jongdae, mas também não buscou se desculpar com o filho por ter feito oque fez. Como toda criança Jongdae precisava de uma figura paterna algo que Kyungsoo havia negado ao filho quando decidiu ir embora, ou seja, na cabeça do Do o Kim mais novo tinha todo o direito de estar chateado consigo.

O ômega estava sentado na cadeira da cozinha, Jongdae estava na sala pintando, até que escutou batidas na porta. Kyungsoo se levantou e se dirigiu até ela, passando por Jongdae que instintivamente parou de desenhar e se sentou no chão olhando para a porta.

Ao abrir a porta, Jongin sorriu pequeno, Kyungsoo não conseguiu retribuir o sorriso do Kim por fora porque por dentro sentia borboletas no estômago e odiava senti-las. Apenas moveu a cabeça curtamente em um aceno e deu espaço para que entrasse.

– Boa noite – Jongin falou.

– Jongdae vem aqui – Kyungsoo chamou pelo filho enquanto fechava a porta.

Ao se virar o menino vinha caminhando na direção dos dois e parou encarando Jongin sério. O ômega suspirou e apertou os lábios.

– Este é seu appa Kim Jongin – disse.

– Olá – Jongdae cumprimentou.

Jongin sorriu e deu alguns passos na direção da criança, se agachou ficando de frente para este.

– Me desculpe por não ter vindo antes – Jongin disse. Kyungsoo engoliu em seco e Jongdae concordou.

Notou pequenas lágrimas se formando nos olhos do filho e o viu se jogando para abraçar o maior sendo assim retribuído. Kyungsoo segurou as lágrimas observando a cena.

– Kyungsoo, pode ir pra cozinha? – Jongdae perguntou ainda chorando se afastando do homem.

Jongin também olhou para si, o ômega engoliu em seco e foi sem dizer nada.

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