O Sorteio

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Segunda-Feira

Uma Semana Antes


Rio de Janeiro sem dúvidas é a cidade mais movimentada de toda a região Sudeste.

Bem, pelo menos essa é a minha opinião. Ainda mais que só andei pelo Rio, São Paulo e Espírito Santo. Mas aqui é a minha casa. É onde o coração está, é o que dizem. Meu lar doce lar.

Principalmente o bairro que moro, Campo Grande. Ela costuma ser bem movimentada. Igual a Bangu e Santa Cruz. É aquele lugar bem povão mesmo. Gente vendendo água na rua, várias lojas abertas, alto-falante berrando as suas promoções e tocando músicas, vendedores de salgados e lanches como pipoca e churros...

A melhor parte é quando tem jogo de Futebol. Principalmente os do Flamengo, que a propósito é o meu time do coração. Os bares ficam tão lotados de torcedores que a cerveja com churrasco rola a solta. O dono liga a TV e magicamente a clientela aparece. De repente todo mundo se gosta e se junta pela mesma causa que é torcer pelo time. Isso até que é legal. Para mim é o melhor momento para esquecer todos os problemas do mundo.

Daqui a pouco vou sair do trabalho e estou louco para esquecer todos os meus problemas. Todo mundo tem uma forma de fugir da vida que está levando. Mesmo que por pouco tempo. Além do mais o meu dia está sendo um pé no saco por um motivo relativamente simples: recebi um aluno novo!

Estamos no estande de tiro. O guri acha que a vida é igual a um jogo do GTA onde você pode atirar normalmente com uma pistola de punho virado para o lado, igual a aqueles bandidos de filmes americanos. Mal sabe ele que sem ter uma alça de mira, você não chega em lugar nenhum a menos que o tiro seja a queima-roupa. Ou que tenha anos de proficiência com armas.

O que é o meu caso. Mas isso é uma longa história. E mesmo assim não atiro como um retardado!

O moleque de vinte e poucos anos não para de querer tirar foto toda hora. Parece uma criança mimada com o celular na mão. Estou dando graças a DEUS que não tenho uma pistola para dar um tiro no aparelho! Sou um homem negro de cabelo curto com dez anos de Polícia, treinamento do BOPE e especialização bélica para no final ficar aturando um bostinha que só quer aparecer na Internet...

Bom, pelo menos o salário que recebo vale o esforço. E o motivo de ter largado o batalhão não vale mencionar agora. É um assunto bem delicado. Não vale a pena ficar lembrando disso. Uso uma camisa polo preta com detalhes da cor amarela na manga e na frente da camisa. Uma calça jeans azul claro e tênis branco. Um relógio de ponteiro azul escuro no pulso esquerdo

O estande de tiro tem cinco espaços para praticar. Todos separados com uma parede e possuem uma mesa para deixar a arma em segurança. Estamos no número dois e ele está atirando com uma Sig Sauer P320 e tem duas reservas de munição tirando a que já está na arma. O que mais me incomoda é que finalmente chegamos na parte da prática e ele está simplesmente tirando foto com a arma na mão. Será que essa geração não consegue parar um minuto sequer de olhar no celular?

Atrás do alvo tem uma parede resistente o suficiente para não deixar atravessar qualquer tipo de tiro que for dado. Todo esse espaço é de preto com o mesmo tipo de estrutura caso haja um tiro acidental.

Quando o pivete começou a fazer stories para o Instagram com a pistola na mão, resolvi interromper:

- Aí! - falo de forma firme e ele me olha assustado - Vai atirar ou vai fazer pose?

Ele me olha com uma cara achando que é famoso e diz:

- É para ganhar mais seguidores.

Me aproximo. Não gostei da maneira que ele falou comigo, como se fosse um famoso só porque um bando de idiota gosta de mostrar na internet nessas porcarias. Então deixo bem claro que não estou para brincadeira. Principalmente com um detalhe que ele nem prestou a atenção...

A Corrida da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora