CAPÍTULO 1

33 5 3
                                    

"Começar de novo e contar comigo / Vai valer a pena ter amanhecido / Sem as tuas garras sempre tão seguras / Sem o teu fantasma, sem tua moldura" - Gostava tanto de você, Tim Maia

FEVEREIRO DE 2018

Fazia aproximadamente um mês que um professor havia chegado a cidade e iniciado trabalho no colégio onde Grace estudava.
Mesmo que ela não estudasse no tal colégio, saberia sobre a chegada de uma pessoa ali. A cidade contava com poucos habitantes, então havia certa facilidade em notar mudanças em geral. Além disso, a vizinhança costumava compartilhar muitas informações entre si. Grace descobriu pela vizinhança que o homem se chamava Jorge Webster, morava sozinho, sem filhos e tão pouco tinha uma companheira.
Grace não tinha aulas com Sr. Webster e não tinha nenhuma opinião sobre ele, se comentava que era um bom professor. O que ela realmente tinha curiosidade em saber era a razão dele ter saído de uma cidade grande para estar ali.
Anteriormente, Grace ouviu sem querer Sr. Webster conversando com a diretora sobre a criação de um projeto de incentivo e mentoria aos alunos daquela instituição que tinham desejo em uma carreira fora da cidade. Foi então que Grace se deu conta que precisava se apresentar adequadamente a ele. A oportunidade que ele queria oferecer, ela queria receber.

Então, quase uma semana depois de ouvir isso, Grace foi até a biblioteca do colégio em busca de um livro. Enquanto preenchia a ficha — sem se lembrar da quantidade de vezes que já havia feito aquilo —, notou que Sr. Webster camimhava até uma mesa. Ela decidiu que aquela seria sua oportunidade.
Após preencher a ficha, pegou o livro desejado e cumprimentou o professor ao se aproximar da mesa onde estava.

— Bom dia. — Ele responde ao cumprimento dela.

— Se importa que me sente aqui? — Ela aponta para a cadeira.

— De maneira alguma.

Grace se senta e se acomoda. Webster abre sua pasta e mexe nas suas coisas como se ela não estivesse ali. A garota começa a se perguntar se não é uma má ideia falar com ele.

— Sr. Webster - diz meio receosa —, é verdade que dava aulas em uma faculdade?

— Sim. — Responde olhando papéis e levanta o olhar voltando a falar. — Faculdade é de seu interesse?

SIM!

— Penso bastante nisso, mas não sei como conseguir entrar em uma. Estudo conteúdos que os professores daqui não ensinam, leio muitos livros e ainda não me sinto confiante em tentar.

— Olha, estudar e ter determinação é chave para conseguir o que entrar na universidade. — Ele deixa a caneta de lado e os papéis já tinha abandonado. — Tem alguma atividade extra no seu histórico escolar?

— Aqui não tem muita coisa, fiz curso de lingua estrangeira e tenho algumas medalhas que ganhei no campeonato de matemática.

Sr. Webster anui parecendo ter gostado do que ouviu.

— Seu nome jovem?

— Grace. Grace Lee.

— Eu sou Jorge Webster, pode me chamar de Jorge se preferir. Não dou aulas para você então não é anti-étnico. — Ele coça a cabeça e me olha de forma serena — Eu posso te ajudar entrar em uma universidade esse ano.

Jorge explicou a ela como o processo seletivo funcionava e quais eram os meios de entrada em universidades. Ela o contou qual faculdade gostaria de fazer e ele mapeou suas opções.

— Sr. Webster, quanto vai valer sua ajuda?

— Nada, tudo que desejo é que você consiga o que deseja. Nesse pouco tempo ouvi muito sobre você Grace Lee, coisas boas, os professores te elogiam.

Quando ele cita os professores, Grace relaxa músculos que tencionaram sem perceber.
Passou por ela um leve medo de que ele soubesse de que ela não gostaria que ninguém soubesse.

Então preferiu afastar esses pensamentos e refletir sobre o que Sr. Webster havia dito.

— E como seria sua ajuda?

— Te ajudaria a estudar e por fim escreveria uma carta de recomendação para a faculdade onde trabalhei, lá tem o curso que você quer fazer.

Ela tentou se conter, aquela ansiedade e animação crescendo no peito, mas era demais para conseguir segurar. As expectativas, elas doiam tanto quando eram em vão, entretanto, ali estava Grace as alimentando.
Finalmente. Finalmente ela via uma luz no fim do túnel. Pela primeira vez, alguém se solidarizou a ajudar de verdade.

Quando olhou para aquele homem a sua frente e deixou por alguns segundos suas feições serem tomadas por aquele sentimento, felicidade.
Notou que Jorge parecia feliz pela sua felicidade e sentiu um alívio diferente, do qual não estava acostumada.

Grace recolhe suas coisas e sai da biblioteca depois de ter as últimas palavras com Jorge. Ela tinha que falar com seu avô, já que era seu único responsável presente, para saber se podia e quando podia iniciar as aulas.

Grace trabalhava em uma lanchonete e precisa ir iniciar seu turno dentro de oito minutos, quando tudo que ela queria era ir para casa e contar ao seu avô o que lhe ocorreu.

Tinha uma oportunidade e sabia que não devia desperdiçá-la. Ela quis por sua vida inteira deixar a cidade. E faria todo o possível para conseguir.

Pedalou apressadamenre até chegar ao trabalho, quando entra na lanchonete olha em volta vasculhando o lugar.
Sempre vai uns babacas a lanchonete perturbar as garçonetes e beber como se não houvesse bares por ai.
Com um suspiro, vai até o balcão pegando seu avental e uma touca. Entra na cozinha e vê a Sra. Forbes entregando bandejas para a outra garçonete, a Patty, ela a olha e sorri forçadamente.

— Que bom que chegou. — Sra. Forbes tira uma bandeja das mãos da Patty e gesticula, a liberando, ao dar a bandeja para Grace, volta a falar: — Você soube? A boatos de que a família Parker voltou a cidade.

Todo sinal que felicidade que havia em Grace foi sucumbido, como um fósforo apagado em um sopro. Sentiu seu coração murchar dentro do peito e seus pulmões se apertarem como se houvesse criado uma camada espessa em sua volta, e assim, não conseguisse se encher de ar.
Sua mente entrou em pani, ou algo do tipo. As palavras de Karol Forbes se repetiam e repetiam em sua cabeça.
A familia Parker voltou a cidade. Como um disco arranhado.
A garota olha para baixo e vê suas mãos levemente trêmulas, reagindo, usa os braços para proteger o tronco e se abraça.
Sra. Forbes tenta ajudá-la, se aproxima e com delicadeza põe a mão no meu dorso. Ela repete palavras tranquilizadoras. Pede para que Grace respire devagar.

Não sabe por quanto tempo ficou sentindo tremores e sem conseguir pensar normalmente, mas depois que diminui, Grace pede desculpas a Sra. Forbes por ser uma péssima funcionária e deixar clientes esperando. Ela se culpa e pede desculpas várias vezes. Karol a tranquiliza, entretando, pede para iniciar o trabalho logo.

Grace faz o que acredita ser paga para fazer, ela serve, limpa, fala com clientes, lida com babacas e às vezes até ajuda na cozinha. No final do turno, ela olha para Karol e se lembra novamente das palavras que preferiria não ter ouvido. Ao pensar nisso, ela se pergunta do que adiantaria já que moram ao lado de sua casa.

— Grace, sinto muito que essa história ainda mexa com você dessa maneira.

Assentindo responde: — Tudo bem Karol, vou lidar com isso.

Grace's Memories - Luiza Matos (Malu_Books)Onde histórias criam vida. Descubra agora