Sim, duas semanas depois, duas benditas semanas depois daquele fatídico Natal, duas malditas semanas em que eu vivi um verdadeiro inferno na Terra.
Eu acho que vocês não devem lembrar de um detalhe muito importante da minha apresentação, e por isso eu vou lembrar vocês.
Eu não tenho proximidade com minha família. E eu tenho motivos demais para isso.
E tudo começou há 16 dias atrás, na fatídica manhã de natal em que minha mãe apareceu na porta da minha casa e Jung Hoseok estava deitado em um colchão na minha sala, porque aparentemente, tudo tem como piorar. A senhora Min estava na minha frente, impassível, como sempre, com seu casaco de marca e bolsa larga, tinha também o celular caro na mão, parecia estar no meio de uma ligação, mas a desligou imediatamente quando eu abri a porta.
Algo curioso sobre mim: eu poderia ter sido rico, muito rico, vim de uma família de donos de empresas nacionais enormes, meus pais e tios ganham milhares por hora, mas eu sempre achei tudo aquilo uma idiotice, desde pequeno eu preferia mil vezes me jogar na areia junto dos meus amiguinhos - não que eu tivesse feito isso mais do que uma vez na vida - a ter o melhor carrinho de controle remoto. Viver numa família rica nunca fez sentido para mim, e esse foi o maior dos problemas, eu me tornei um pleno rebelde sem causa na cabeça da minha mãe. E tudo isso tinha caído quase como carma na minha fuça, já que eu fazia parte de uma empresa extremamente abusiva para meramente sobreviver.
Agora vocês me perguntam "mas eles não te ajudaram com as contas?", bom, não, meu pai - o único que eu consegui ter contato na época que eu passei fome praticamente, já que a empresa estava a beira da falência - chegou a rir de mim, mas eu não o culpo, a última vez que ele me viu eu tinha 10 anos, ele nem sequer reconheceu minha voz, e eu não me dei o trabalho de explicar toda a minha história até ali.
Mas há algo a mais sobre minha mãe – e meu pai – que vocês não sabem, e essa coisa mais apenas piorou umas três vezes a situação, porque, ignorando todas as minhas preces, antes mesmo que a mulher na minha frente explicasse qual tinha sido sua ideia genial que a fizera parar na minha residência, eu ouvi uma voz vinda da sala, como se fosse o próprio demônio se disfarçando de anjo:
– Yoongi hyung? Quem está na porta?
E era isso, eu estava morto pelo resto do século, porque se não bastava meus melhores amigos terem certeza que eu quero ter algo com esse menino, agora minha mãe homofóbica teria certeza que eu tenho um caso com meu colega, no máximo amiguinho.
Será que hoje em dia alguém considera perguntar pra mim esse tipo de coisa? A cara de Min Yooah na minha frente me provava que não, a forma como ela só me empurrou para o canto como se eu fosse um peso de porta dentro da minha própria casa também.
Foi aí que meu inferno começou. Ela parou do lado do colchão que estava na minha sala, onde estava um Hoseok, meio sentado, meio deitado, como se estivesse – e estava – confuso demais com o que acontecia, e se minha mãe fosse o super-homem, o farol vermelho ambulante já não mais estaria entre nós. E então ela dirigiu o olhar para mim, enquanto o Jung saia lentamente da tela azul, seu sorriso cínico me alertava que sua língua de cobra estava pronta para fazer o comentário errado, na hora errada, eu já queria me enfiar no chão como uma avestruz.
– Eu achei que sua fasezinha tinha passado, Yoongi, querido, mas acho que não posso te culpar por mulher alguma te querer. – Hoseok quase pulou da cama quando percebeu o que a mulher dizia, seu rosto ficando tão vermelho quanto o cabelo levemente desbotado enquanto se levantava, eu quase dei um tapa na minha testa, ótimo, agora eu parecia ainda mais suspeito.
– Primeiramente, bom dia, Yooah. – eu disse, tentando o meu máximo respirar fundo. – Segundo, não é nada do que está pensando, e terceiro, o que você faz na minha casa numa manhã de natal?
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Odiavelmente amável
Fanfic"Olha, nunca foi minha intenção ser um azarado, muito menos fazer minha desgraça diária de entretenimiento diário. Mas é o que dizem, se o cavalinho ta na chuva, nada mais justo que jogar ele na piscina também. Afinal, nada é desgraça o suficiente p...