Capítulo 02

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Acionei o alarme do carro e caminhei em direção ao elevador. Assim que entrei, apertando o botão para meu andar vi Gizelly praticante correndo em minha direção. Encarando ela pressionei o botão diversas vezes para que as portas se fechassem, mas infelizmente entrou a tempo.

— Você é infantil a esse ponto? — falou ofegando e ajeitando a bolsa no ombro.

Revirei os olhos e virei para ela que me olhou surpresa.

— O que você tem com Jason Cooper? — Gizelly estreitou os olhos sem nada dizer. — Estão saindo? — Ela deu um sorriso conseguindo me deixar ainda mais irritada do que já estava desde a noite anterior.

— Você... Ah não Rafaella, será que os anos não ajudaram no desenvolvimento dos seus neurônios? — Encostei o indicador no ombro dela que deu um passo atrás, consequentemente chocando-se contra a parede do elevador.

— Quem é você para falar assim comigo? — Minha vontade era esgana-la ali mesmo.

— E-eu não sei o que fiz de errado para você já começar o dia me tratando assim. — Fez sua melhor expressão de confusão e fechei os olhos tentando me acalmar enquanto me afastava antes que minhas mãos fossem para seu pescoço.

Ela continuava exatamente a mesma, usando a mesma arma de dez anos atrás, se fazendo de sonsa e coitadinha quando me estressava.

As portas do elevador abriram e virei o rosto para o outro lado enquanto entravam algumas pessoas.

Separação amigável? Era impossível manter uma discussão com ela. Como poderíamos ter tido uma separação em que eu conseguisse voltar a sequer olhar em seus olhos?

Gizelly acabou com nossos sonhos, minha vida ficou de cabeça para baixo por causa dela e quase tive que trancar a faculdade após entrar em depressão. Se não tivesse saido de seu apartamento provavelmente teria chegado ao fundo do poço igual a ela na época.

Como conseguiu sair? Isso eu não sei e nunca quis saber, afinal me libertei no momento em que atravessei a porta de sua casa e não ia entrar em seu joguinho depois de tanto tempo, ainda o correndo o risco de me prejudicar.

— Como assim Gizelly quer demitir toda a equipe de repente? — questionei assim que Ricky me deu a informação.

— Ela já os demitiu, estava agora a pouco no RH tratando da contratação de novos funcionários. — Esfreguei minhas têmporas mantendo os cotovelos sobre a mesa. — Eles estão desesperados pedindo que reconsidere.

— Sinto cada vez mais vontade de matar essa mulher — murmurei.

Fiquei de pé e passei as mãos pelos cabelos verificando se não tinha nenhum fio fora do lugar, logo em seguida caminhei saindo de trás da minha mesa, dizendo a mim mesma que não ia perder a paciência.

Segui para o andar de baixo e assim que entrei na área da divisão de casamentos vi os funcionários que estavam fungando enquanto juntavam suas coisas.

— Rafaella! — Todos aproximaram-se de mim e uma mulher de mais ou menos quarenta anos chamou minha atenção. — Estou aqui a quase cinco anos, não entendo porque a senhorita Bicalho esta fazendo isso.

— Fiquem tranquilos, irei conversar com ela.

Segui até a sala onde dei uma batida na porta, logo em seguida entrei.

Gizelly me olhou por cima da armação de seu óculos de grau e em seguida o retirou do rosto.

— O que foi agora? Veio discutir sobre os funcionários que dispensei?

— Ainda bem que você sabe — falei me aproximando de sua mesa. — Gizelly você não pode simplesmente demitir funcionários que estão aqui a tanto tempo.

— Tanto posso que o fiz. Eles estão aqui há anos e pelo visto não aprenderam muito, afinal o hotel vai de mal a pior. Como posso realizar o casamentos dos sonhos de pessoas importantes com funcionários que passam o dia fofocando ao invés de se concentrar em seus trabalhos? — Até mesmo o som da voz dela me irritava.

— Sempre fizeram seus trabalhos muito bem, se o hotel está em crise não é culpa deles!

— Mas essa é uma decisão minha e apesar de saber que você está acima, ganhei carta branca do presidente. Então... — Ela sorriu cínica e quase meti a mão em sua cara, mas ao invés disso usei meu tom de voz mais suave possível.

— Tente reconsiderar, dê-lhes mais uma chance. São mães de família, pessoas que tem contas para pagar e não estavam preparados para ser dispensados assim.

— Não posso fazer nada, meu trabalho aqui não é me solidarizar com ninguém. — Minha paciência chegou ao limite ao ouvir suas palavras.

Inclinei-me sobre a mesa e puxei pela gola de sua blusa social aproximando meu rosto ao dela que arregalou os olhos me encarando assustada.

— Até quando você vai ser esse ser humano lixo? Não estou aqui pedindo esmolas ou que os pague de seu bolso! — Sacudi seu corpo e ela tentou se soltar, mas eu mantive sua blusa firme em minhas mãos. — É um direito deles e um dever seu respeita-los e dar-lhes ao menos um mês. É o mínimo!

— Me solta! — praticamente gritou ela batendo em minha mão e soltei sua blusa. — O presidente sabe que você trata os gerentes dessa maneira bruta? — Ela tentou arrumar a blusa amassada e pedi a Deus que ele não ficasse sabendo, afinal abri uma excessão para ela naquele momento, não costumava ser daquela forma, mas Gizelly me tirava do sério. — Eu não sabia que você era assim tão agressiva.

— Com quem será que aprendi? — falei já saindo da sala encontrando os funcionários que me olhavam apreensivos. Tentei dar neu melhor sorriso como de costume. — Esperem um pouco, acho que ela tem algo a dizer.

No fim do dia, Ricky meu melhor informante dentro daquele hotel, deu a noticia de que Gizelly reconsiderou e decidiu dar mais uma chance aos funcionários.

Quando já ia para casa abri a porta do meu carro e no mesmo momento para minha surpresa Gizelly fechou a mesma com força, logo em seguida me encostou contra o veículo.

— Satisfeita? — Levantei o queixo olhando-a de cima sabendo que ela odiava aquilo, pois fazia com que se sentisse ainda menor.

— Quer que eu agradeça?

— Não seria o mínimo depois de amassar minha blusa enquanto quase me assassinava com o olhar?

— Você não fez mais que sua obrigação. — Gizelly bufou se afastando.

— Achou mesmo que eu demitiram toda aquela gente? Foi só uma forma de chamar sua atenção, depois da cena que fez mais cedo no elevador. — Eu estava pasma com sua cara de pau. — Não podemos apenas esquecer velhos ressentimentos agora?

— Infelizmente não. — Afastei do carro abrindo a porta e entrei, mas antes que pudesse fechar ela impediu.

— Por que não? Ainda sente alguma coisa por mim? — questionou me fazendo rir.

— Não seja ridícula. — Coloquei a chave na ignição e fui supreendida por ela que inclinou-se segurando meu rosto e colando os lábios aos meus.

Surpresa, levei as mãos aos ombros dela e afastei seu corpo rapidamente.

— Você está louca? — gritei enfurecida e ela ficou ereta rindo como se tivesse ouvido uma piada.

— Considere um troco. — Ainda rindo ela fechou a porta do meu carro e saiu caminhando pela garagem.

Passei as mãos no rosto sentindo um misto de sentimentos me invadindo, tanto a raiva quanto a insegurança ao sentir seus lábios nos meus depois de tanto tempo.

Afinal, por que tinhamos que agir de forma tão infantil?

Happy EndOnde histórias criam vida. Descubra agora