Nossa União

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Depois do Mike derrubar a maior promessa de medalha da seleção japonesa o treinador ficou de queixo caído. Pronto, eu acho que as coisas vão ficar boas!

O Manjiro ficou um pouco sonhador enquanto o treinador enchia ele de elogios e os colegas enchiam ele de perguntas... Me senti meio esquecida nesse tempinho inclusive.

Quando eu falo que fui esquecida eu digo "completamente escanteada", eu tive que ir embora sozinha enquanto ele foi jantar com os novos amigos.
Os próximos dias da viagem foram parecidos, mas eu tive um bom tempo pra passar com os outros garotos.

Assim que voltamos pra casa eu queria raspar a cabeça do Mikey que nem mulher de malandro pra ele voltar a ser gente.

Sabe... Não é que ele tenha mudado muito nesses poucos dias, mas parecia estar se tornando alguém tão melhor que já não me cabia mais na vida dele e isso me deixava muito triste, saber que nossos caminhos podiam divergir agora depois de tudo que fiz pra nos unir.

— Blu, olha esse quimono novo que eu ganhei — Mikey me mostra sorrindo, chamei ele pra dormir lá em casa hoje

Era um quimono branco daqueles de luta mesmo, só que esse é simplesmente caro demais pra algo que é um simples presente.

— Ele é lindo demais, amor, combina com você — eu realmente achei lindo e realmente achei que combinava com ele. O problema é que eu falei meio apática.

— eu fiz alguma coisa errada? — ele já joga essa na minha lata fazendo essa carinha de neném pra me deixar culpada.

— Claro que não! — respondo de imediato, ficando meio corada no processo — eu só... Tô meio cansada, mas pode acreditar que eu tô feliz.

Eu dei um sorriso mas o Mikey colocou sua mão na minha testa, me fazendo ficar confusa.

— Você parece doente, Bubu — ele diz fazendo um biquinho que me derrete — vamos deitar pra eu cuidar de você

O loirinho me agarrou pela mão e me arrastou pra cama igual quando você leva um gato pra passear de coleira (uma ótima coisa pra você pesquisar e ser feliz assistindo).

Ficamos juntinhos na minha cama com ele fazendo carinho no meu cabelo, é semana do imperador aqui no Japão então demos uma paralisada nas atividades da gangue, deixando todo mundo com bastante tempo livre.

— você tá tão... — ia falar mas fui interrompida no ato.

— As próximas olimpíadas são em Pequim... Eu vou ter que me esforçar muito pra me classificar — ele dizia isso olhando pra parede enquanto fazia carinho nos meus cabelos.

— então vai entrar de cabeça nisso — eu constatei, era bem óbvio o olhar sonhador na cara dele agora.

— eu acho que é algo que vai deixar o meu irmão bem mais orgulhoso de mim, não acha? — o loirinho me olha, dava pra ver que ele só queria uma confirmação.

— É, eu acho — Sorrio um pouco, o restante do tempo ele passou falando sobre regionais, municipais, estaduais, mundiais e tudo que ele planejava levar nos próximos anos pra finalmente chegar nas tais olimpíadas. Eu ouvi tudinho em silêncio.

Quando as coisas tomaram uma rotina eu percebi algo ruim, eu e o Mikey já não estávamos nos vendo todos os dias, eu fiquei focada em estudar (por incrível que pareça), o Mikey queria treinar o tempo todo e estava a um passo de abandonar o ensino médio, ele sempre arrumava tempo pra gangue mas era pra dar atenção aos amigos dele... Aos nossos amigos.

Eu podia só voltar pro futuro desejando que tudo isso fosse só uma fase e que quando eu abrisse os olhos na minha banheira o Mikey estaria louco da vida me chamando pra comermos Takoyaki em uma refeição completamente aleatória e que não caberia um Takoyaki. Só que eu tô com medo.

Imagina o tanto de coisas que podem ter acontecido entre nós em tanto tempo, se a gente não for mais um casal pode ser o menor dos meus problemas.
Podemos nos odiar no presente
Podemos nunca mais ter contato
Ele pode me desprezar
Eu posso estar com outra pessoa
Ele pode estar com outra pessoa.

Tudo isso dói só de imaginar, mesmo que eu esteja me sentindo feliz por ter, de certa forma, cumprido meu dever como alguém que ama ardentemente o Manjiro. Eu salvei ele, Take salvou a Hina e eu salvei o Mikey... Vai ficar tudo bem.

Enquanto eu pensava isso ouvi uma balbúrdia no corredor da minha escola, isso foi meio assustador.

— Licença tia — um garoto baixinho entrou na sala, interrompendo a professora com sua voz folgada e quase quebrando a porta de correr sem querer ter feito isso — eu preciso buscar a minha namorada, ela tem que sair mais cedo hoje.

Vi o meu namorado sorrir, eu apanhei as minhas coisas e sai correndo da sala.

— desculpa profe! — falei ao passar correndo pela mulher que estava completamente estarrecida de choque ao ver a situação tão rebelde em um colégio tão chique — eu juro que tiro dez na sua matéria!

Saio fechando a porta, ela é uma professora de matemática... Eu sou boa na matéria dela agora que tô me dedicando.

— O que aconteceu pra você me tirar da aula do nada? — pergunto sorrindo enquanto eu e Mikey fugimos da escola de mãos dadas.

— Então... Eu preciso muito passar um tempo com a minha gata — ele sorri e todos os problemas dos últimos dias parecem simplesmente pequenos demais pra existirem.

Nós fomos até um estacionamento mais longe onde o Mikey pegou a moto dele e a gente partiu, não perguntei pra onde íamos e só percebi que era pro litoral quando chegamos lá... Estava muito distraída ficando agarradinha nele.

Era um dia de semana em uma época mais fria, a praia tava vazia e a gente tomou banho usando as roupas de baixo!

Eu nunca tinha rido tanto antes, os cabelos descoloridos do Manjiro ficaram uma palha com todo aquele sal

A gente deitou na areia e ficou vendo o sol se pôr, não sei como a gente não morreu de frio.

— Eu gostei de hoje Fazia... — ele me interrompe de novo de uma maneira abrupta como se tivesse jogando um balde de gelo em mim

— Eu vou viajar pra treinar na Austrália, vou morar lá — ele disse isso enquanto vestia a camisa, olhando depois pra sua moto... Ele me congelou.

Sério... Eu fiquei em silêncio. Durante muito tempo e ele não disse NADA

NEM UMA PALAVRA SAIU DA BOCA DESSE FILHO DE UMA PUTA CANINANA, LAZARENTO, FEDIDO, FILHO DE UMA CHOCADEIRA MORTA, MORTADELA DE DEFUNTO DO CARALHO!

Ele só sentou na moto e ligou ela, ainda com o olhar apático, não parecia nem a mesma pessoa que estava do meu lado antes.

— Você tá... — ele me corta de novo.

— Eu quero terminar — e foi só isso, ele acelerou a moto, me deixou com o capacete na mão e foi embora. Eu não tive reação.

Eu não gritei, não fui atrás e acho que na hora eu nem fiquei brava... Só percebi que as minhas lágrimas começaram a pingar no chão junto com o meu papel de trouxa que grudou na minha cara.

É o Azul - Manjiro Sano (Mikey) Onde histórias criam vida. Descubra agora