Justificativa.

870 111 57
                                    


Ah como eu me odeio.

Naquele dia que eu aceitei me mudar pra Austrália eu segui o conselho do Takemichy, eu aceitei que eu tinha que terminar com a Blue ou tudo podia ser perdido... Algo sempre ia dar errado!

Mas não foi fácil sair e não olhar pra trás, foi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida depois de enterrar o meu irmão.

Mas depois disso eu tive chances de ver ela de novo! Várias delas... Mas porra... O universo conspirava pra não acontecer.

Nas minhas primeiras férias que eu tinha marcado com o Kenzinho pra ver o pessoal de novo, teve um surto de alguma febre ou doença da vaca louca e eu acabei pegando essa merda.

Depois, eu ia visitar o pessoal quando fui disputar um campeonato no Japão. Advinha? CAIU A PORRA DA MAIOR NEVASCA DA HISTÓRIA e todo mundo ficou preso no centro de convenções por dias, quando saímos de lá o meu prazo pra outros eventos já tava apertado.

Teve um caso que até hoje é frustrante, já que eu fiquei sabendo pelo Twitter que a Blue e eu jantamos no mesmo restaurante e no mesmo momento e a gente simplesmente não se viu, a gente simplesmente não teve um olhar!

O pior caso foram as olimpíadas, eles foram torcer por mim! Eu vi eles na plateia! Foi a primeira vez que eu vi a Blue pessoalmente depois de todo esse tempo, mas foi de tão longe. Eu senti vontade de subir aquela arquibancada do pra falar com ela de novo, pelo menos tocar no seu rostinho. Só que o esporte me ensinou muito autocontrole, eu respirei pensando que nada podia me impedir de ver ela depois que eu conseguisse aquela medalha, quando eu subisse no pódio e descesse de lá com a medalha de ouro no meu peito... Nada ia me impedir de comemorar com as pessoas que me importam. Mas é claro que impediu, bem nesse dia aconteceu uma tentativa de atentado no parque olímpico, o que simplesmente fez o lugar todo ser evacuado. Foi aí que eu desisti.

Eu sentei no meu sofá, totalmente sozinho, olhando para as paredes que eram azuis bem claras e sem graça... Respirando de um jeito alterado depois de ter chorado demais, o meu peito parecia ter sido esmagado por um carro, eu não fazia mais as coisas que eu gostava antes e mesmo assim me sentia bem, estava mantendo quem eu amo seguro... Só que os custos pra mim eram pânico, eram tristes.
Eu sentia orgulho, eu amo o esporte. Mas já fazem mais de 5 anos que eu não ando de moto, que eu só falo com o Kenzinho e o pessoal pelo celular, a ÚNICA garota que eu já gostei na vida foi a que eu mais magoei.
Foi assim, abraçando meu travesseiro que eu simplesmente pensei "não era pra ser" é como sepultar alguém de novo.
Quando eu simplesmente aceitei que eu e minha garota não éramos pra ser, era como sepultar mais uma parte de mim. É claro que ultimamente eu tenho enterrado várias partes minhas, todas elas muito ruins e até malignas, mas essa parte doeu muito.

Eu me levantei daquele sofá um pouco mais frio.

Falando assim, até parece que eu superei. Mas acho que eu sempre acabo carregando um pedacinho dela comigo, e até visualmente... Uma mecha do meu cabelo tem o tom de azul que eu amo dela, é como a minha sorte.
Eu vou amá-la, mesmo que o universo não queira mais a gente junto.

A vida passou a ir no modo automático pra mim, por isso que quando um convite pra um evento bobo cheio de patrocinadores apareceu... Eu só aceitei.

— Aah, vestir terno é uma droga — Murmuro enquanto uma moça da o nó na minha gravata

— mas você fica muito fofo assim — a senhora de meia idade que tinha ajeitado meu cabelo fala com um sorrisinho de mãe.

— Geralmente os homens não vestem ternos pra serem fofos — Suspiro e me olho no espelho.

O terno era azul escuro com detalhes pretos, era simples e clássico, bonito e que realçava meu corpo de lutador.

— Ah, o azul é definitivamente a sua cor, rapaz — a senhorinha segura meus ombros, ela estava bem orgulhosa.

— Myoto, você sabe que é um tópico sensível — é, a "senhora" que tem me apoiado é a senhora Myoto, ela é minha secretária/assistente e tal.

— Eu sei que é, meu filho, mas quem sabe... — ela amarra uma fitinha vermelha no meu dedo mindinho — o fio vermelho te guia finalmente de volta pro seu lugar azul.

Ela diz isso e me deixa meio arrepiado. Dou uma olhadinha pra fita, dando um sorrisinho simples.

Quando entrei no evento tentei ser discreto, os flashes das câmeras me incomodam muito. Mas me forcei a encarar eles pra algumas fotos.

O evento era de música, então, se você não é um puta nerd nessas coisas vai acabar sentindo dor de cabeça alguma hora. O banheiro desses lugares é um open bar de analgésicos.

Mas a dor de cabeça não passava de jeito nenhum, então eu fui pro lugar com a música mais baixa possível.

Fui parar numa sacada e tentei respirar enquanto alguma música baixa que eu nem conseguia entender tocava, naquele momento eu lembrei da Blue... Pensando que a gente poderia estar aqui, conversando e rindo. Foi quando um vento forte bateu e a fita do meu dedo saiu voando, eu tentei correr pra apanhar quando alguém da uma puta esbarrada em mim... Mas o meu coração acelera ao ver aquele monte de cabelos azuis intensos...

Eu não acredito.

Depois de todo esse tempo, fazendo toda aquela força pra gente se ver... Uma coisa boba te trouxe de volta pra perto de mim, Blue... A minha Blue.

— Eu agradeço — acabei dando uma risadinha quando ela me pediu desculpas — só assim pra gente se ver de novo, né, Blue?

Mas e agora... Será que eu consigo manter uma conversa com ela? Depois de todo esse tempo?

É o Azul - Manjiro Sano (Mikey) Onde histórias criam vida. Descubra agora