Lie, lie, lie

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A porta-janela se mantinha aberta, permitindo que uma brisa gelada batesse suavemente contra seu rosto a despertando de seus pensamentos. Aquele seria mais um de seus dias cansativos no hospital de Konoha e estava em cima da hora.

Não era do tipo de pessoa que costumava se atrasar aos seus compromissos, na verdade, sempre se mostrou pontual a cerda disto, acatando severamente a cumpra de horários. Mas não era algo visto como possível na situação atual, considerando que teve um duro treinamento no dia anterior a levando a total exaustão. Ultimamente seus exercícios com sua mestre estavam estranhamente intensos até demais, ela parecia irritada, não sabia exatamente sobre o que.

Ainda que não gostasse, uma coisa que aprendeu a lidar com o tempo foi a voz que saia de sua cabeça. Aquela irritante que insistia em lhe importunar toda vez que deitava sobre o travesseiro e acordava pela manhã, dizendo que aquilo não era o suficiente. Nunca seria. São tentativas frustradas, sem sentido.

Sentiu as costas queimar ao passar em frente de algumas barracas.

Em sua percepção passear pela folha era o verdadeiro significado de tortura. Os sussurros, as risadas, os olhares de zombaria. Não era preciso palavras para descobrir o que pensavam sobre ela, a falsa gentileza encobrindo a repulsa.

Era nesses momentos que percebia que sua mente era sua fraqueza. 

Civis não eram nada mais do que bucha de canhão, sempre foi assim. Sakura tinha sido uma garota sortuda, suas excelentes notas a levaram a frequentar aulas com crianças de clã. Mas isso não era tudo, não bastava o quanto desse tudo de si, nunca seria visto com bons olhos. Nunca chegaria no nível de Sasuke ou Naruto, estaria sempre atrás. 

Sem nome, sem poder, sem propósito, sem confiança, sem força. Não era nada. Totalmente o contrário do que era exigido pra ser um shinobi. No fundo, invejava a Yamanaka com seu futuro brilhante e sua vida cobiçável. Não admitiria isso em voz alta.

Mesmo com todos esses impedimentos, nunca deixou de sonhar e correr atrás de seus objetivos, implorou a Hokage que a treinasse e a tornasse mais forte para que pudesse trazer seu companheiro de volta. Pensou que enfim ganharia respeito, mas não contava que isso só intensificaria a antipatia.

Ela continua seu caminho até chegar ao seu destino, os olhos inchados denunciavam seu choro recente.

— Está tudo bem, Sakura-chan? — era Shizune, ela costumava vir quando não estava ocupada obrigando Shishou a fazer seu trabalho, ela era um anjo. Diferente da Senju, nunca recorria a soluções violentas, sempre sendo a sensata das discussões. Me ensinou tudo sobre negociações diplomáticas e como sair por cima em diversos cenários, não caindo na lábia de qualquer um. — Estava chorando, meu bem? Quer conversar ou que eu chame Tsunade-Sama?

— Não será necessário Shizune-San, é apenas uma alergia passageira. Você sabe, ultimamente o tempo tem estado estranho, mudando a todo momento.

— Oh, sim, isto é sim. Bem, se não é nada demais, mudando de assunto, seu próximo paciente está lhe esperando na sala três da segunda ala.

— Certo, obrigada.

Não correu, não parou. Embora suas pernas não sustentassem mais seu peso. Alcançou a frente do quarto e se apoiou no batente procurando equilíbrio. Sabia exatamente quem estava ali, a ficha médica indicava o que precisava saber. Hatake Kakashi, o ninja copiador e seu antigo sensei. Ele havia voltado de mais um das constantes longas viagens e ela jamais se sentiria pronta o suficiente pra encara-lo.

Santo derramamento de sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora