One

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Era um dia feliz, afinal. Liam se via nostálgico no aniversário da filha, se lembrando o que a sua vida tinha se tornado depois que ela nasceu. 

Alma era um encanto, o arco-íris de cores fortes em seus dias cinzentos, alem de muito esperta, inteligente e bonita. 

Era apenas ele pela filha. Tinha um pai que deixou de se importar com ele quando perdeu a esposa e coube a Liam se virar sozinho aos dezoito anos, longe de casa e sem muita sorte no bolso. Nas ruas, passou frio e sofreu com fome, buscando a honestidade e integridade para sobreviver, até notar que seu gosto pelo canto poderia lhe render algum dinheiro. Não era muito, porém bastava para ter o que comer pelo dia. As altas temporadas de visitas à Cancún eram as mais proveitosas. Tinha um teclado que ganhou de presente da mãe quando pequeno, um instrumento gasto, pelo tempo, porém que ainda funcionava bem. Passava as manhãs entoando canções que sua mãe mais gostava, atraindo turistas, vendo moedas se acumularem em sua boina surrada. 

Foi em uma dessas manhãs, que notou um par de olhos brilhantes lhe observarem por um longo tempo. Viu os lábios do homem se mexendo junto aos seus, acompanhando a canção, em meio a um sorriso pequeno. E Liam viu um bolo de notas ser tirado do bolso da camisa que aquele homem usava, sendo cuidadosamente posto em sua boina. Jamais se esqueceria do primeiro olhar, do que sentiu quando ele se aproximou e elogiou seu trabalho, deixando Liam mais corado do que nunca esteve e, até mesmo, encolhido diante da gentileza e aparência daquele homem que, poucos segundos depois, estendeu sua mão e disse:

Mi nombre es Zayn. E o seu?

Liam achou que havia perdido tudo ali, exceto a compostura. 

O cancunense se estranhou por cair nas graças de Zayn com tanta rapidez, o que se resumiu em dias felizes na companhia do turista. E se apaixonou gradativamente, conhecendo as nuances e se entregando ao jeito cativo, galanteador e nos suspiros que arrancava de si, fosse nos beijos roubados, nos abraços ou nas poesias que ele deixava escritas na varanda da casa onde achava ser a morada do cantor cacheado. Assim que Zayn saia, Liam saia dos arbustos e recolhia os bilhetes antes do dono legítimo flagrar um estranho em sua propriedade. Liam mentiu, apenas porque não queria que Zayn soubesse que ele se abrigava em uma estrutura de madeira, pequena e simples, na periferia, sem condições de uma qualidade de vida decente. 

E na última noite, Zayn tinha anunciado uma novidade que o devastou. Estaria de partida. 

Liam sabia que tudo estava muito bom para ser verdade. 

Eu vou voltar.

— Yo se que no. Jamais o verei novamente. — lutou contra as lágrimas, de costas para o homem, sem intenção de deixar a mostra o quão devastado ficou, enquanto observava as ondas se quebrando na areia. Ele pensou que devia se acostumar, porque as pessoas mais importantes para si sempre saiam de sua vida. Primeiro a mãe, depois o pai e então, Zayn. 

Te dou a minha palavra. — disse firme, se aproximando e virando o cantor delicadamente, se sentindo quebrado ao ver as lágrimas no rosto sereno. — Aqui está meu coração e sou incapaz de deixá-lo. 

Es difícil de creer. — insistiu, secando os olhos inutilmente, acabando por cobrir a face com as mãos. Não tinha raiva de Zayn, pois sabia que se tratava das circunstâncias da vida, os encontros e desencontros, e por isso ficou magoado, porque sentia que aquela era uma despedida definitiva. 

Confia em mim. Estou sendo verdadeiro. Verdadeiro como o sentimento que põe em suas canções. — murmurou, com o olhar firme no de Liam, tocando o rosto e querendo livrá-lo daquele sentimento, embora, se sentisse tão arrasado quanto ele. — Cante para mim, me deixe ouvir que acredita e que vai me esperar, mi corazón. 

Alma - ZiamOnde histórias criam vida. Descubra agora