Adapak

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Adapak testemunhou horrorizado o corpo da criatura estremecer em choque antes de desabar e sem vida, manchando a grama de vermelho. Percebendo o que a relíquia tinha feito por acidente, o líder a afastou da têmpora, mas a vibração não cessou. Desesperado, ele arrancou o cristal do pescoço e ou arremessou no chão, fazendo com que um enorme reflexo Esmeralda pulsar ao seu redor. No segundo pulsar sua mão direita caiu no solo, ainda segurando a clava.

Pela Matriarca...

Urrando de dor, o guandiriano começou a pisotear o objeto. No terceiro golpe, a vibração cessou.
Ambos permaneceram imóveis por algum tempo, esperando o que viria a seguir.
Nada aconteceu.
- A-afaste-se daí - gaguejou Adapak, quebrando o Silêncio. Eles se esforçava em transmitir confiança, ainda que por dentro estivesse exausto, ferido e assustado. O líder cambaleou alguns passos para o lado, segurando o membro amputado e contorcendo o rosto. - Agora m-me diga por qué estão atrás de m...
- Iiikibuuu...

Ikibu.

Adapak abriu os lábios, mas a pergunta teimou em sair e quando o fez, soou quase como súplica:
- O que... O que é Ikibu?
O guandiriano nada respondeu, encarando-o com os olhos diminutos. Eles piscavam nervosos nas órbitas inúteis como tochas sobre um temporal

- QUEM SÃO VOCÊS?! - o jovem gritou com lágrimas nos olhos. Em resposta, a criatura cuspiu no chão e avançou contra ele, desarmada. Os círculos ordenaram e o espadachim obedeceu, trespassando a garganta do oponente com um golpe certeiro
O Bosque ficou em silêncio.

Ikibu.

Adapak permaneceu ali parado, observando o cadáver do líder no chão. Os círculos desapareceram da mente do rapaz e ele sentiu as mãos começaram a tremer - matar ainda não era algo natural para ele, apesar de faze-lo bem.

Vamos.

Os palhacinho olhou para o lado, onde a mão decepada do guandiriano jazia na grama, ao lado da clava de osso e da relíquia. Ele foi até lá e se agachou sobre o membro, analisando o primeiro: o corte perfeito expunha as camadas de pele, gordura, músculo e osso, maculadas apenas pela enorme quantidade de sangue liberado na amputação. No chão em volta, duas grandes circunferências marcavam exatamente onde o reflexo esmeralda pulsara: tão perfeitas quanto o corte, elas penetravam no solo a uma profundidade desconhecida, como se feitas por um enorme instrumento de jardinagem invisível.
Há alguns passos dali, a cabeça do macho menor parecia ter sido cortada da mesma forma.
Adapak direcionou a atenção para o objeto responsável por aquilo: a relíquia tinha sido bem amarrada á ponta do cordão de couro negro muito simples, transformando-se em um amuleto improvisado. A maior parte do Cristal estava oculta sobre os fios que o abraçavam, mas através dos espaços entre eles era possível confirmar sua superfície perfeitamente lisa levemente reflexiva. Uma análise mais minuciosa, contudo, revelava uma complexa e quase imperceptível textura de diminutos hexágonos em sua extensão esverdeada. O objeto em forma de meia-lua era um pouco maior que o comprimento da mão do rapaz e sua espessura deveria ter no mínimo um dedo. Ele o virou com a ponta da bota, confirmando o verso idêntico.
O espadachim encarou o artefato, pensativo. Relíquias Dingirï podiam ser recursos poderosos nas mãos das pessoas certas, mas brinquedos mortais nas mãos das erradas - fato evidenciado pelo que ele acabar de testemunhar. Esta, por sua vez, podia de render algo ainda mais importante: alguma pista sobre os seus perseguidores.
Decidido o espadachim e banhou Igi e foi até o corpo do macho menor, que ainda mantinha Sumi refém no antebraço. Ele segurou o cabo da arma com ambas as mãos apoiou uma das botas no cadáver e puxou com força, conseguindo desprendê-la. Em seguida foi até o depósito e recuperou sua bolsa, de onde tirou um velho pedaço de pano.
Então voltou até onde a relíquia Dingirï estava e a embrulhou com cuidado, guardando-a.
Dali foi até a carroça sem rodas, ontem se sentou e bebeu do cantil, aliviando a garganta irritada. Em seguida, lavou o inchaço da testa e o ombro perfurado, que reclamou do contato com a água fria. Terei que limpar melhores depois, pensou, rememorando a seguir o que havia se passado. Notara que os assassinos estavam em seu alcanço novamente há duas luas e tentou despistá-los nos bosques, onde se deparou com a casa abandonada e o depósito. Se não tivesse adormecido, sua tática teria funcionado: os guandirianos investigariam a casa primeiro, atraídos pelo reverberar de uma estrutura maior e ignorando o pequeno esconderijo de início; isso lhe daria uma vantagem estratégica contra o grupo, surpreendendo-o quando estivessem divididos. Enquanto cochilava, ponderou, os violentos seres provavelmente tinham vasculhado a casa e então se voltaram para o pequeno galpão, onde captaram seu cheiro e o encurralaram como um roedor.
Não posso mais ficar sem dormir, concluiu, Ainda sentindo o corpo tremer ele sabia que tiveram a sorte de escapar vivo.
Adapak se serviu de mais água, deixando o corpo esfriar. Sentiu a brisa gelada soprar contra a pele absolutamente Negra enquanto passava a mão sobre a cabeça calma para enxugar o suor. Seus olhos brancos deslumbraram a lua de Sinanna, brilhando vigilante na madrugada e única testemunha do sangue derramado sobre sua luz. Fechou-os por um breve instante e pensou em Enki'när e no lago sem ilha.
Então chorou compulsivamente. Sentia falta de seu pai e de sua casa.
E de T'arish.

O Espadachim De CarvãoOnde histórias criam vida. Descubra agora