OO3:. Kenny McCormick não é panssexual!

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As 17h horas sempre foram vistas de formas diferentes por que as passam.
Para alguns, o dia estava praticamente se encerrando ali.
Para outros, era hora de marcar algum rolê.
Mas para Kenny, as 17h não se passavam de uma transição entre mundos. Em 15 minutos ele teria certeza que algo acabaria com sua alegria matutina.
Tirando o cigarro de maconha dos lábios, Kenny suspirou, soltando o ar branco e espesso que guardava no fundo da garganta.
O hálito quente que pairava sob seu rosto parecia desesperadamente esconder a brisa fria que o mundo real fornecia.
Diferente de antes, Kenny não alucina com um mundo de peitões seduzentes e sexo na piscina. De certa forma, sonhar com aquilo parecia ofuscar o que realmente queria.
Terminando o trago e jogando o resto em uma boca de esgoto destampada, Kenny parou em frente à casa verde, treinando mentalmente o que iria dizer assim que passasse por aquela porta.
Dando uns tapinhas no ar para afastar o odor da droga, Kenny apertou o bolso ocupado de sua jaqueta e abriu a porta sem tranca.
- Kenny! - A pequena McCormick sorriu reluzente ao ver seu irmão. - Você não sabe o que aconteceu hoje! - Exclamou enquanto abraçava as pernas compridas do irmão.
Sentindo a atmosfera melhorar, Kenny sorriu, a pegando no colo e indo em direção à cozinha.
- E será que eu posso saber? - Ele dá uma risadinha, colocando a irmã mais nova sentada na pia de concreto, próximo a torneira.
Dando um relance cuidadoso, Kenny se vira para tirar um pacote de biscoitos de maisena do bolso, tomando cuidado para que a outra não o percebesse pegando uma vasilha pequena no micro-ondas quebrado.
- Foi a Tricia! Ela é incrível! - A menina suspirou, animada.
Kenny não pode deixar de fazer uma expressão estranha ao pensar em uma versão feminina e menor do gay de sua sala que mandava todo mundo ir se foder.
- Mal consigo imaginar... O que ela fez? - Ele respondeu com curiosidade, colocando delicadamente os biscoitos ao canto do pote, e posicionando um bolinho recheado ao lado, em seguida colocando uma chaleira com agua de torneira para esquentar no fogão.
- Ela mostrou o dedo mau pra uma menina que quis brincar de pega pega comigo! A menina me empurrou e começou a correr, antes que eu corresse, a Tricia tocou na minha testa e pulou em cima dela! Quase enfiou o dedo no nariz dela! Eu nunca vi ninguém correr tão rápido. Talvez ela tenha meleca e não quis mostrar, mas eu não me importo com isso! - A menina contou a história de forma apressada, como se estivesse aguardando o dia inteiro para conta-la para alguém.
Suspirando pela inocência da irmã, Kenny riu com deboche.
- É, a mini Craig é muito foda mesmo.
- NÃO XINGA ELA DE PALAVRÃO! - A menina exclamou, claramente alarmada.
- Ok... Foi mal, só estou feliz que tenha uma amiga tão legal. - O rapaz sorriu, tirando a chaleira do fogo e a colocando ao lado da irmã. - Hora do banho.

A próxima meia hora era a sua favorita de todos os dias. Com a irmã dentro da pia cheia de água morna contando animadamente sobre suas fanfics do Mysterion e do Doutor Caos.

A medida que os dedos de Kenny massageavam o shampoo na cabeça da irmã, o sentimento compensatório de todo seu esforço o acalmava mais do que qualquer droga.

Após um boas cocegas com uma toalha fofinha, a menininha repousava tranquilamente na antiga cama dos pais, abraçada com o cobertor fino que a cobria, a menina roncava quase inaudivelmente.

Passando os dedos pelo cabelo da irmã, Kenny suspira pesaroso, e põe o pote com o café da manhã de aniversário na escrivaninha ao lado da cabeceira.

Kenny odiava sair para trabalhar. Mesmo em noites de brincadeiras com os amigos pelo bairro, Kenny, ou melhor, Mysterion, não podia deixar de checar se a irmã estava bem.

O frio bateu impiedosamente sobre seu rosto assim que saiu pela porta da frente, usando a gola da jaqueta laranja como mascara, ele iniciou seu caminho.

Enquanto passava pela ponte da cidade, o rapaz interrompeu sua caminhada assim que notou uma silhueta feminina à sua frente.

- Sabe, eu estava indo agora ver você. - Ela pigarreou.

Sem animo ou paciência para dar uma resposta adequada, Kenny apenas respirou fundo.

- Você sabe que eu não quero separar vocês dois Kenneth, não quero mesmo. - Ela iniciou. - Mas nós dois sabemos que você não é o suficiente para cuidar da Karen.

Ainda em silêncio, Kenny sentiu os olhos esquentarem.

- O inverno está chegando, Kenneth. Você sabe que sua "casa" não tem estrutura suficiente para conter a onda de frio. - Ela fez uma pausa, então se aproximou e pôs a mão em seu ombro. - Temos 1 mês Kenneth, se a garota não for entregue ao conselho, você não irá mais vê-la por outro motivo. Boa Noite.

Sem qualquer sinal de preocupação, a mulher dá tapas leves em suas costas e some por entre a escuridão da noite.

Kenny realmente não aguenta trabalhar hoje, mas continua seu caminho.



― 𝙎𝙊𝙐𝙏𝙃 𝙋𝘼𝙍𝙆 𝘾𝙇𝙐𝘽 !!Onde histórias criam vida. Descubra agora