Parte 5

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Ainda sujo de terra por ter cavado um profundo buraco sob a macieira, Sísifo relaxava, sentado à mesa com uma caneca de cerveja. No canto da sala, a tal recompensa que Silas lhe dera era um baú carregado de ouro, que ele optara por deixar para Korina e sua mãe. Aparentemente, o guerreiro fora bem recompensado por Hermes em seus trabalhos como assassino.

Enquanto Korina verificava, muito surpresa, o conteúdo do baú, ao lado da mãe, Karpos, servindo-se da mesma garrafa, comentou:

"Não esperava que ela me chamaria para vir aqui, depois do que fiz."

"Também estou surpreso", comentou Sísifo. "Ela mudou nessas últimas semanas... pra melhor. Silas estaria orgulhoso dela."

"Obrigado por tê-la protegido. Eu quase cometi um crime imperdoável... E também arrisquei a relação de neutralidade entre o Santuário de Hermes e o de Athena. Espero que não interpretem meus atos como uma ofensa à sua deusa."

"Não se preocupe, minha deusa não deseja entrar em conflito com Hermes, de forma alguma. Serei cuidadoso em meu relatório também. Agora, há algo que eu gostaria de pedir a você."

"O que seria? Farei qualquer coisa para me desculpar."

"Cuide delas."

"Eu?! Mas... Eu tentei matar a jovem Korina."

"Sim, mas não tentará mais, não é verdade?"

"Claro que não. Só que... Eu não tenho o direito."

"Eu quero que Korina não precise mais desconfiar tanto das pessoas. Viver sem Silas, apenas ela e a mãe, deixou-a na defensiva em relação à vida. Você tem força e experiência o bastante para protegê-la daqui por diante no lugar de Silas. Dê a ela um ambiente seguro, onde Korina possa criar asas e encontrar um objetivo para si. Disse que não é mais digno de ser um guerreiro de Hermes. Que tal se redimir com essa chance? Da mesma forma como ela pode se beneficiar com sua proteção, você também poderá encontrar um apoio que lhe dê motivo para continuar."

Surpreso, Karpos não respondeu. Pensava no que falar, quando Korina os interrompeu:

"Meu pai tinha dinheiro para comprar uma mansão! Por que ele escolheu morar aqui? Só pra me esconder do senhor Karpos?"

"Talvez ele pensasse em dar-lhe uma vida não tão fácil", explicou Karpos. "Ele vivia dizendo que jovens precisavam de uma juventude dura para serem bons adultos."

"Você... conhece bem o meu pai, não é? Pode me contar mais sobre ele?"

"Ah... Sim... trabalhamos juntos muitas vezes. Vou contar-lhe tudo o que sei."

"E o que vamos fazer com tanto ouro? Tem certeza de que não quer, Sísifo? Ele deixou isso pra você!"

"Eu não preciso de ouro algum além da minha armadura. Talvez você queira expandir a padaria? Ou então... usar esse dinheiro para encontrar um objetivo que seja só seu... com o apoio de sua mãe e do Karpos."

"Do senhor Karpos?"

O guerreiro de Hermes sorriu para a jovem, enfim acatando a sugestão de Sísifo:

"Tenho mais de cinquenta anos. Já estou velho para ser um guerreiro. Acho que vou me aposentar... mas ainda tenho forças para ajudar por aqui. Será que eu posso?"

E, em apenas um dia, a vida da família mudou completamente com o novo arranjo.

Sísifo não sabia quando comeria tantos pães que lhe foram entregues para a viagem de volta, mas definitivamente guardaria a especialidade de Jocaste para mostrar às suas servas e conseguir replicá-la em suas refeições. Depois de mais um dia ajudando Karpos a estabelecer-se na padaria, estava pronto para voltar ao Santuário - e à sua querida deusa.

Em qualquer dia num possível futuroOnde histórias criam vida. Descubra agora