O MENINO NO RÁDIO

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Quando completou 42 anos, Ronald Flanders fez uma coisa inesperada - ao menos para as pessoas que o conheciam - e pediu demissão da indústria química ÔNIX em Canonsburg, Pensilvânia.

Ronald - ou Rony como geralmente era chamado - trabalhou por vinte anos na indústria química. Nessas duas décadas nunca faltou no serviço e, tirou férias uma única vez, quando sofreu um acidente, caindo dentro dum dos tanques de produtos químicos. Rony passou suas férias (três semanas) numa clínica de tratamento intensivo se curando dos efeitos da radiação. No período que ficou internado, ele recebeu apenas uma visita, à de três colegas de trabalho que deram uma passadinha lá para lhe dizerem: "belo mergulho Rony".

Na noite do seu aniversário, na qual Rony comemorou sozinho no seu pequeno apartamento alugado, após beber uma garrafa inteira de whisky - e se preparando para a segunda - ele se decidiu; na manhã seguinte iria entrar pela porta da frente do escritório do seu chefe e dizer que não voltaria mais a pôr os pés naquele lugar.

Ronald Flanders estava farto de ser motivo de chacota e piada por parte dos outros funcionários, fosse por sua aparência (Rony era um homem baixo, calvo e de porte físico raquítico) ou mesmo pelo seu estado de saúde debilitado, frágil.

Rony não se importava em não ser o melhor funcionário, mas ele se esforçava para dar o seu melhor.
Ignorava todos os trotes e seguia com a vida solitária em seu apartamento, vendo os dias passando na companhia de um rádio, que era o único robbie que tinha na sua outra vida depois da do trabalho. Rony acompanhava os jogos de baseball, as músicas e notícias sozinho, se perguntando se a sua existência era só aquilo.

E anos se passaram e, agora Ronald se sentindo (e aparentando) mais velho, está cansando de tudo aquilo. Depois de pedir a sua demissão, entregou as chaves do apartamento, pondo no seu carro o máximo que conseguiu transportar em bagagens, pegou a estrada que dava na zona rural, e seguiu para a fazenda dos seus falecidos pais. Ia ser a sua nova casa.
A mesma da sua breve infância.
Isso para Rony, já era o bastante.
Se sentia de certa forma, conformado com a ideia de que ia morrer onde nasceu.

Algum tempo depois, já devidamente familiarizado com a fazenda dos pais - a qual ele achou que parecia exatamente a mesma da sua infância.
Só estava mais dark do ele se lembrava. Rony então percebeu que na sua bagagem, ele não havia trazido seu fiel companheiro, o rádio.
Ele voltou a cidade e, comprou um modelo no novo, bem mais moderno do que o antigo que esquecera no apartamento alugado.

O novo rádio funcionou bem por alguns dias. A melhoria na qualidade sonora era perceptível nos ouvidos atentos de Ronald. Mas o rádio parou de funcionar. Não obtendo sucesso em concerta-lo por conta própria, o aparelho mudo foi devolvido à loja, que o repassou pro concerto e dias depois devolveram a Rony que o levou para casa.

Passou-se dois dias, nos quais Rony executou sua tarefas diárias na fazenda. No começo da noite do terceiro, ele se sentou na poltrona do falecido pai. À sua frente, em cima duma mesinha baixa de centro, estava o rádio, que transmitia uma reportagem sobre duas mulheres participantes de um reality show que se agrediram e se xingaram. Rony ficou escutando aquilo por um tempo, então adormeceu na poltrona se sentindo cansado. Não soube quanto tempo se passou depois que acordou.
A sala estava mergulhada no mais puro silêncio. Rony se levantou e encaminhou-se irritado na direção do rádio outra vez mudo.

- oi - disse a voz do menino pelo primeira vez, paralisando Rony onde estava. Era a voz de uma criança de dez, talvez uns doze anos.

- oi - disse Rony meio exitante, ainda não tendo certeza se acreditava ou não naquilo no que estava ocorrendo naquela hora.

O menino continuou falando. Disse que se chamava Nolan e que estava feliz por conversar com Rony. Disse que não sabia como havia ido parar naquele lugar, no qual ele descreveu como escuro e assustador.

Rony pediu ao garoto que mantivesse a calma, que ele iria ajudá-lo, entendendo que aquilo poderia se tratar de algum maníaco psicopata sequestrador e assassino de crianças.
Rony sabia que esse tipo de coisa existia.

A voz do menino do rádio se calou por um tempo, e então disse:

- você não pode me ajudar... agora eu me lembro... eu vou morrer...
eu sempre morro, e depois sempre volto... e morro de novo.

- ei garoto como assim? - pergunta Rony de repente se sentindo assustado e ao mesmo tempo confuso.

- eu agradeço a ajuda do senhor... igual a de todos os outros... sempre que ele me mata, eu acordo na casa de outra pessoa... a pessoa diz que vai me ajudar... aí ele me mata de novo.

- ele te mata de novo - repete Rony sentindo seus batimentos acelerando -
ele quem garoto?... sabe quem faz isso com você?

- não me lembro dele... mais eu lembro de outra coisa...

Rony exita por um instante, então pergunta:

- do que mais você se lembra?

Silêncio, então o menino no rádio diz:

- lembro que ele também sempre mata todas as pessoas que tentam me ajudar...

FIM

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