Sugestões quase explícitas

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O som de batidas na porta de meu quarto fez com que eu interrompesse as avaliações do que sonhara. Ergui-me da cama e me direcionei até ela, sem evitar uma discreta curvatura em meus lábios. Estaria eu recebendo visita idêntica à que me fora ofertada no dia anterior?

Mostrei-me na soleira com esta esperança, mas deparei-me com um serviçal, que trazia consigo um bilhete bem dobrado, selado com sinete. Condado de Gwangju, a marca na cera vermelha estampava. Agradeci, dispensando o homem, que possuía cheiro algum. Um beta, também? Possivelmente.

Encerrei-me outra vez em meus aposentos, um tanto ansioso para verificar o que continha a missiva. Sentei-me, e de imediato descolei o lacre.

"Espero-te no campo de caça. Por favor, não me deixes a esperar em vão".

Era tudo o que continha. Sequer uma assinatura havia, mas isto não era necessário, ante o sinete. Sorri, achando exótica sua maneira de me convidar para um novo encontro, tendo em vista que no dia anterior nada o impedira de, em pessoa, me arrancar para fora do palácio. Hoje, no entanto, escondia-se sob formalidades.

Joguei-me nos lençóis desarrumados e molhados, frutos de minha noite quente e bem dormida, refletindo se a atitude do Conde se dera por mero disparate ou por razão de força maior. Fosse excentricidade, era risível e, a muito custo, admitia que conferia à sua figura um encanto atraente. No entanto, fosse por outro motivo, haveria eu de ficar preocupado ou não era para tanto?

Li o convite uma nova vez, ponderando sobre aceita-lo ou não. Hoje era a festa de encerramento da celebração de aniversário de Hyerin. Nesta noite, somente os adultos se divertiriam. Seria o Baile de Máscaras, uma ideia que, ao meu ver, não combinava com a comemoração de anos de uma infante. Contudo, não era de minha conta a maneira como a Família Real de Gwacheon planejava suas coisas, afinal.

A questão era que, certamente, meu irmão iria precisar de toda a ajuda possível para terminar de organizar o encerramento do evento. Estive ao seu lado nos dias anteriores. Deveria priva-lo de meu auxílio justo agora?

Depois de muito pensar, me levantei e fui até a mesa, onde a jarra de água repousava repleta, a fim de que pudesse fazer meu asseio matinal. Aprumei-me por completo, e ao fim, mantive a decisão que tomara ao me erguer. Saí de meu quarto e fui caminhando, não em direção ao salão de festas, onde Namjoon provavelmente estaria prestes a ter um colapso de tanto nervosismo e atarefamento. Dirigi-me para o portão de saída do palácio, rumo ao tal campo de caça, após de informar sobre quais direções deveria tomar.

Não foi difícil encontrar a localização correta. Com o auxílio das informações que adquiri com alguns guardas, em pouco tempo já estava em meu destino. Num primeiro momento, avistei a cabeleira acobreada rara, movendo-se de acordo com a direção da brisa. O Conde estava sentado sob uma árvore, de costas para mim. Em dado instante, conforme me aproximava mais, ele se ergueu e se pôs de frente para onde eu estava. Foi quando pude ver que tinha consigo duas armas de fogo de porte regular. Conhecia aquele tipo de revólver, usava-o com bastante frequência. Caçar era uma das atividades na qual possuía grande talento.

— Supus que me deixarias a míngua, Príncipe. — Falou assim que cheguei próximo o bastante, me ofertando uma reverência.

— E por qual motivo supuseste isto?

— Pelo fato de que nunca sei o que esperar de ti. — Sorriu, e ao ver o contorno de seus lábios, notei que sentia falta de seu sorriso pelo dia inteiro, mesmo sendo ainda manhã.

— É o que acontece quando se conhece tão pouco de alguém, a dúvida sobre o que se pode enfrentar. — Respondi ao, finalmente, alcança-lo.

— Não por isto, Príncipe. És de fácil leitura, quanto ao temperamento. No entanto, devo admitir, não tens uma linha de comportamento deduzível, por mais que se possa saber, num instante, o tipo de pessoa que és. Não há certeza em que atitudes tomarás. Contraditório, mas real.

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