NA SUA PELE, benny watts

𝗣𝗿𝗼́𝗹𝗼𝗴𝗼

"eu não queria estar na sua pele"

Em 1942, o escocês Gordon Madox, viciado em drogas e álcool, havia sido expulso de sua cidade natal, Glasgow, com sua esposa Donna. No ano seguinte, com a ajuda financeira do irmão mais velho de Donna, eles se mudaram para Winchester.

O ano era 1950, a Guerra Fria havia recém-começado, alguns países ainda se encontravam um pouco fragilizados pelo período da Segunda Guerra Mundial e as notícias abalavam sobreviventes e famílias quando uma dívida muito alta foi feita. Numa mesa de jogos, Gordon perdera tudo o que tinha para Gerriet Ridulph, um magnata que estava de passagem pelo condato de Hampshire. A única maneira de sair vivo era vender sua filha, Quinn Jean Madox.

A vida de Quinn era um completo caos. Gordon e Donna não sabiam cuidar nem de si próprios, que dirá da vida de uma criança. E assim, aos 7 anos, a garota foi levada a Londres para morar com aquele repugnante homem de 35 anos.

Gerriet era um homem sujo. Ele a batia, a forçava dormir em sua cama e era abusada constantemente. Não tolerava fracassos e logo certificou-se de que Quinn teria a melhor educação. A ensinou a arte do xadrez porque considerava um jogo de pessoas inteligentes, incomum para mulheres ou não.

Quinn passou a se dedicar ao jogo. Era uma distração, um remédio para a solidão. Nas noites acorrentada na cama, gemendo de dor enquanto seu abusador a violentava, ela passou a concentrar-se na janela acima de sua cabeça. Imaginava que as grades em losango formavam um tabuleiro de xadrez, os quadrados verdes e brancos. As peças se formavam em sua mente: torre, cavalo, bispo, rainha, rei e a fileira de peões na frente deles.

Aos 8 anos, passou a jogar profissionalmente. Ela era educada em casa, nunca frequentara a escola, mas Garriet não hesitava em permití-la participar de campeonatos. Ela jogava com maestria porque se agarrara ao jogo como uma tábua de salvação para o inferno que era sua vida.

Ao completar a maioridade, Quinn poderia casar-se oficialmente com Garriet. Ela já havia cogitado fugir, porém Ridulph era poderoso, ele poderia caçá-la até os confins do mundo. Uma grande festa seria organizada para celebrar o casamento. Gordon e Donna estavam anciosos para receber uma boa quantia de dinheiro.

Quinn encarou seu reflexo no espelho e arrumou uma mecha do cabelo escuro e longo preso num coque bagunçado. Uma lágrima solitária rolou por sua bochecha, manchando a maquiagem forte. Seu coração batia forte ao abrir a caixinha dourada bem escondida debaixo da cama, a qual ela retirou uma boa quantia de dinheiro arrecadada dos campeonatos vencidos.

Ela escutou vozes ecoando no corredor e paralisou imediatamente. A caixinha caiu de suas mãos e ela por um momento pensou em desistir. Não. Quinn se repreendeu mentalmente por tal pensamento. Fora uma luta esconder aquilo por tanto tempo. Desistir não era uma opção. Suas mãos tremeram ao enfiar o maço de notas no sutiã e ela correu em direção a grande janela do quarto. Era o segundo andar. Ela enxergou, pelo canto dos olhos, um dos criados da mansão adentrar o quarto para buscá-la.

Era agora.

Sem pensar duas vezes, Quinn pressionou o cotovelo no vidro frágil, sentindo os cacos rasgarem sua pele. Fechou os olhos com força, a adrenalina que corria por seu corpo era maior que a ardência proporcionada pelos cortes, e então arremessou-se contra o vidro.