3. 삼

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──── ROSÉ ────

No meio da cama de Lisa, entre os lençóis, há um enorme cartaz aberto junto a canetas, réguas e uma faca. Jennie segura a bandeja de batatas fritas, as mãos sujas engordurando a borda do cartaz e a tela do celular. Lisa senta ao lado, a postura ereta enquanto continua atenta a tudo à nossa volta, desde as pessoas passando do lado de fora do quarto até os passarinhos piando na janela.

Ainda não sei o que pensar sobre isso, sobre a repentina saída do exército real, a desconfiança exacerbada e a escuridão que perpassa os seus olhos. Ela não parece a mesma de quando a conheci. O tempo deve ter cobrado mais da sua saúde mental do que ela admitiria em voz alta.

Sento-me próximo a elas, desenrolando um mapa da cidade Downtown, em Jeju.

— Sabe... — Jennie chupa os dedos engordurados. — Ia ser bem melhor... — O som é irritante. — Se fizéssemos... — Ela continua. — Tudo digitalmente.

Arranco a bandeja de batatas das mãos dela.

— Aprendi com você que nada é seguro se não pudermos pegar — respondo.

Ela sorri para mim, debochada.

— Não há de quê, Rosé.

Abro a boca pronta para rebater, mas Lisa estala os dedos na nossa frente.

— Aparelhos eletrônicos podem queimar, descarregar, parar de funcionar... as opções são muitas. É bom começarmos a operação assim, no papel.

Concordo com um menear e Jennie bufa, voltando a comer batatas. Ainda penso bastante sobre o que me fez aceitar a proposta de roubar esse dinheiro. A quantia é realmente surpreendente, mas não é como se eu precisasse. Ganho um bom salário, vivo uma vida confortável e nunca conseguiria parar de trabalhar mesmo com todo o dinheiro do mundo na minha conta bancária. Passei tempo demais afastada do Serviço Nacional para saber que a minha mente não fica bem quando estou entediada. Além do mais, acho que as motivações de Lisa vão além do dinheiro e as minhas também, eu só não descobri ainda.

Já Jennie, bem, introduzi-la no plano é a minha chance de redenção, já que prendê-la foi algo que eu não quis fazer. Ela é boa demais para o lugar que estava antes: em uma lan house podre em Tokyo, vendendo o almoço para comprar a janta e, mesmo assim, quando colocou as mãos em todo aquele dinheiro ilícito hackeando a conta dos bilionários, preferiu doá-lo para um abrigo de animais abandonados. Tem algo de irônico nisso, eu não posso deixar passar.

Trabalhar com as duas vai ser um desafio, muito porque Lisa tem motivos para achar que Jennie vai nos matar enquanto dormimos. Ela é desconfiada por natureza. Lembro-me que, quando nos conhecemos, passei quatro meses sem saber o seu nome verdadeiro porque ela não confiava em mim o suficiente para contar, mesmo que estivéssemos trabalhando em conjunto e transando às vezes. Confiar em Jennie será algo difícil para Lisa, eu sei disso só pela forma que ela não saiu do pé da Kim, como um carrapato insistente, carregando um calibre .40 de maneira visível no coldre e lançando olhares ameaçadores vez ou outra.

Destampo a caneta, escrevendo o valor do dinheiro que roubaremos no topo do cartaz.

— Peraí... — Jennie arfa. — O valor é de 200 milhões e vocês vão me dar só 10?

Lisa dá de ombros, como se fosse óbvio.

— Você é uma convidada, eu e Rosé vamos participar ativamente do roubo.

Jennie não se dá por vencida.

— A minha vida também está em jogo. Se eu for pega com vocês, vou ser sentenciada a mesma pena. — Ela olha para mim e para Lisa alternadamente. — Roubo qualificado com agravante, no mínimo 30 anos de prisão, caso não saibam.

Os quatro crimes capitaisOnde histórias criam vida. Descubra agora