capítulo 2 - Não quero morrer, mas às vezes não queria nem mesmo ter nascido.

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Desabo em questão de segundos, o nó que se forma em minha garganta aumenta ainda mais a pressão em minha cabeça, o zumbido em meu ouvido é persistente e mesmo assim não abafa totalmente o som pesado e áspero da minha respiração, que se intercala com o barulho perturbador das engrenagens do elevador.

O escuro impede que eu veja minhas mãos rígidas envolverem as grades a minha frente. O frio do metal não consegue me acalentar, escoro a cabeça no espaço entre as mãos, encaro o chão sem nunca conseguir distinguir meus pés. O ruído estranho ocasionado pela minha respiração irregular assusta, fecho os olhos em busca de algum controle, me concentro em amenizar o desejo súbito de rasgar minha pele.

Preciso me concentrar, preciso parar de tremer, não posso desmaiar.

Repito mentalmente algumas vezes.

Preciso me concentrar, preciso parar de tremer, não posso desmaiar.

O tempo começa o seu joguinho cruel comigo. Simultaneamente se arrastando e rebobinando para minutos atrás, quando os gritos que percorriam o ar não estavam somente sendo reproduzidos na minha mente. Aquelas pessoas estavam lá, elas presenciaram a morte de papai sem serem capazes de reagir. Quantos morreram? Quantos se feriram? Quantos foram pisoteados até a morte na pressa de fugir para longe do cenário sangrento que se formava?

As paredes a minha volta dificultam minha respiração. Quanto mais tempo passo aqui, mais a estrutura na qual fui enfiada parece encolher. Os meus braços roçam e lutam por mais espaço, e a pressão que se intensifica em meu peito é um alerta constante de que estou a beira de um colapso mental. Puxo o ar com força pela boca, a dor no peito aumenta.

OliviaOnde histórias criam vida. Descubra agora