Durante toda manhã, Akisia permanece demonstrando ter total domínio dos padrões de comportamentos que se deve adotar perante uma rainha, caminhando sempre alguns passos atrás de mim, mesmo que seja ela a guiar nossa rota. Isso não deveria me agradar, mas agrada. Ela é a única pessoa até agora que tem me tratado como uma rainha. Mas ela está noiva do príncipe Jenn, não é? Já deve estar acostumada com membros da realeza. A coisa toda ainda é estranha, mas é minha função me acostumar com as formalidades.
Passamos por alguns corredores que eu já havia percorrido mais cedo com Jamie. Mas agora, depois de me sentir encolher sob o olhar de tantos rostos diversos, consigo mensurar a proporção gigantesca do castelo. Entenda, o salão no qual ocorreu o café da manhã de boas-vindas estava farto, a mesa abarrotada comportando todos os membros da corte que conseguia, além dos criados em volta, que assistiam em um silêncio resoluto toda a nossa estranha interação. E não posso me esquecer dos soldados de Santera que Jamie mencionou ainda esta manhã, falando sobre como tinham uma ala no castelo reservada especialmente para eles. E sei que em algum lugar cercado por esses muros grossos e consistentes, as pessoas que se esgueiram pelas entranhas do castelo, que fazem nossas comidas, limpam nossas roupas e organizam nossos quartos e espaços, também devem encontrar abrigo. Tenho consciência de que todas essas pessoas residem no mesmo local que eu, por esse motivo fico estupefata por não encontrar nenhuma delas durante a nossa mini tour, apenas corredores vazios decorados por diferentes cores alegres que remetem às estações quentes do ano, seguidos por luxuosas salas vazias sem ninguém para desfrutá-las.
Algumas áreas do castelo estavam restritas aos membros da família real, e mesmo estando noiva do príncipe Jenn, Akisia não podia e não se atrevia a me levar até lá. Entretanto, ela me apresentou todos os outros espaços possíveis de se conhecer em uma manhã. Visitei a sala de descanso da rainha, que tinha cheiro de incenso recém queimado mesmo que ninguém estivesse lá. Conheci o espaço reservado à adoração dos Deuses de Santera. O local abafado possuía uma aura inebriante, as cortinas de seda cintilantes não tiravam a atenção do propósito do local: guardar as imagens que representavam os Deuses. Eram muitos, mas não consegui decorar os nomes que irrompiam do monólogo ininterrupto de Akisia. Lembro que eram conhecidos como encantados e estavam diretamente ligados à natureza. Existe o encantado da guerra, das águas profundas, dos nevoeiros, dos arco-íris, das folhas e das ervas, entre muitos outros. Akisia demonstrou ter uma afeição especial pelo encantado das folhas e ervas, disse que Êramun sussurrava receitas poderosas que ajudavam a acalentar a dor dos doentes. Disse que a rainha Atália também podia o ouvir e usava essa conexão para ajudar o povo nos momentos de aflição e angústia. A parte do castelo destinada à adoração não existia em outras eras, mas Atália decidiu criar um altar para todos eles, dizia que com os encantados por perto o castelo estava protegido.
Também visitei o salão de jogos que parecia exatamente o que minha imaginação concebia como bar, ocultei o sorriso malicioso que surgiu em meu rosto ao imaginar que se a situação fosse diferente, se estivéssemos apenas de passagem pelo reino de Santera, convidaria Jamie a visitar essa parte do castelo comigo e secretamente tentaríamos me embebedar, como costumávamos a fazer no meio da madrugada em minha fortaleza em Valorian, mesmo sabendo que álcool nenhum conseguiria produzir qualquer efeito de embriaguez em mim. Recordo de permanecer sóbria mesmo após toda aquela bebida ingerida entre uma gargalhada abafada e outra. Sinto falta de Valorian. Mesmo com a reclusão, chego a acreditar que aceitaria minha vida de volta só para ter esse peso tirado dos meus ombros.
Interrompo nossa caminhada quando reconheço em um dos corredores coloridos, repousando eternamente em um quadro ornamentado, o rosto da jovem rainha Edviges Trovich, a filha renegada por Fitzroy Trovich e que acabou, ele querendo ou não, sendo uma boa rainha para Santera e que de fato se provou uma boa chefe de estado, ao contrário da irmã, Leonor Trovich, que se contentou em permanecer em Hedóxia como um monumento esquecido que seria levado pelo tempo, permitindo que seu marido, o duque de Thumberland, governasse em seu lugar.
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Olivia
Teen Fiction"Sou a princesa de Hedóxia, herdeira do rei Alexandre II, e a minha mera existência atrapalha os planos de Phyron de reaver o trono. Eles querem minha cabeça e tomo plena consciência de quem eu sou e do que represento quando papai anuncia meu nome e...