Capítulo 1

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Dor. Minha cabeça latejava como se duendes estivem tocando tambores e girando ao redor dela. Conseguia distinguir sons agudos como de maquinas, vários sons diferentes e ao fundos vozes. Mais uma pontada de dor. Seria um sonho? Poderia mesmo ser, pois agora me sentia flutuando, de repente caindo e junto aquela sensação estranha , como um sonho. Tentei respirar fundo , ou ao menos acordar do que quer que fosse aquilo, e apaguei novamente.

Branco. Meio amarelado na realidade. Havia alguns trincados no teto, assim como, uma enfadonha aranha tecia sua teia, na vã esperança de ter sucesso em sua caça. Engraçado. Não seriamos nós, todos nós, meros insetos presos nas teias do universo? Dia após dia tentando lutar para sair, para mais tarde nos emaranharmos em outra teia, num clico viciante. Pisquei, e me arrependi, pois até então, me sentia em um transe, imerso a tudo ao redor. Mas o simples fato de mexer as pálpebras foi como um despertar, onde uma dor aguda e espalhada me atingiu. Soltei um gemido e tentei me sentar. Estava em um quarto de hospital. Percebi logo de cara, somente pelo tipo das camas, metal revestido por um fino colchão, os lençóis característicos, a pequena janela, que mais lembrava um prisão, e o mais importante, minha camisola e o fato de eu estar nua por baixo. Encostei a cabeça no travesseiro novamente e suspirei. No fundo, imaginava que poderia estar ali por um acidente importante, ou talvez por ter salvado alguma velhinha ou alguma criança endiabrada que tenha fugido de sua mãe e atravessado a rua como se não houvesse amanhã. Risos. Não... não... droga! Risos doem agora! Provavelmente lá se foram algumas costelas fraturadas. Os risos reverberavam pelos meus ossos, como um sinal que isso não deveria ser feito. Mas não, não tinha sido nenhum feito heroico que me trouxera até ali. Maldita caçamba de entulhos! E maldita distração. Estava me sentindo tão culpada, mas tão livre ao mesmo tempo, com meus fones de ouvido, ao som de Capital Inicial, que não havia se quer , percebido a enorme caçamba laranjada logo a frente e entrei nela com tanta força , que nem me lembro de mais detalhes. Imbecil. 

Sentei novamente na cama, girei o corpo, coloquei as pernas para fora e ergui a cabeça. Eu não me assustava fácil, bom , ao menos eu não demonstrava. Não era de gritar, fazer escândalos nem nada parecido, eu só congelava e abria bem os olhos, era o que já haviam me dito. E naquele momento era assim que me sentia. Congelada. Um frio transpassou por toda a minha espinha, pude sentir o calafrio iniciando na minha primeira vertebra e descendo até meu mindinho. Ele, achava que era um ele, tinha uma áurea pesada, por assim dizer. Apenas seus olhos  estavam a mostra, duas vórtices negras em uma faixa de pele branca como gelo, que me olhavam fixamente. O restante era todo negro, como uma noite sem lua, onde eu não conseguia distinguir os cortes da roupa, era como um único manto preto, com a cabeça toda encapuzada, menos os olhos. Os olhos. Não conseguia desviar o olhar, mesmo que eu quisesse, era como se não pudesse mesmo,  mesmo fazendo força, nem se quer um musculo da minha face se mexeu.

Pisque. Uma voz disse em minha mente. Obedeci rapidamente. 

A coisa em minha frente, literalmente em um piscar de olhos mudou de figura. Agora era um homem, alto, forte, ainda todo de preto, com botas pretas e um cinto, onde na fivela, havia desenhos detalhados de caveiras. Por um instante, senti que elas se mexiam, rindo de mim.  Seu rosto quadrado, tinha uma barba por fazer, olhos ainda negros que me seguiam, e um sorriso de canto. 

Uma beleza que nunca vi. Pensei.

- Uma caçamba de lixo Eliza! Morrer assim? Será motivo de risos. Ele disse.

Eliza. Bom, era meu nome, e ele sabia. Agora morrer? Isso era algo novo. Estaria eu, em um sonho então? Ou esse era o pós morte? O castigo que me aguardava? A recepção do inferno? Não me parecia tão ruim como pregavam, mas não era nada animador também. 

- Então... engasguei - Estou morta, afinal? 

Ele se sentou na cama ao meu lado, com os braços esticados ao lado do corpo. Seus dedos tamborilavam no colchão.

- Estará. Por um tempo ao menos. Não literalmente morta, mas em um aspecto diferente. Ou pode voltar, para a cama desse hospital. Não que irá voltar totalmente, devido a gravidade de seus ferimentos. Foi uma queda e tanto. Ele falou rindo. 

Mas que merda de sonho maluco é esse. Me forcei a acordar. Me levantei e por incrível que pareça, não senti nada. Ignorei sua presença  e fui até a porta, ela abriu. Bom , presa não estou. Mas não havia nada além, somente uma parede branca. Fui até a janela. Não era uma parede, mas só... algo, branco e sem sentido. Comecei a bater nas paredes , talvez uma passagem secreta, que me faria acordar? Não lembro quanto tempo continue assim, nesse ímpeto de busca pela saída. E Ele, agora estava encostado contra o travesseiro, pernas esticadas e lendo uma revista, de decoração. Sentei no chão, juntei minhas pernas , encostei a cabeça nos joelhos e permaneci assim, não faço ideia por quanto tempo. 

Minutos, horas? Não sei quando tempo permaneci sentada no piso gelado.

- O que você quer? Questionei.

Ele não abaixou a revista, mas podia sentir seu sorriso ao responder

- Sua servidão. Sua alma. Sua vida. Sua confiança. Quem sabe até, sua lealdade. 

Olhei para ele. E assim continuou:

- Você já está morta. E agora lhe dou uma escolha: vir comigo e ter uma chance ou ficar e ir para onde as almas vão. Se ainda existir um lugar.  E antes que me questione o porque, ou coisas assim, sempre foi você. Só não havia chegado a hora. 

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⏰ Última atualização: Aug 01, 2022 ⏰

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