Conversations

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Lauren estava estática. Observava atentamente cada movimento daquelas pessoas. O barulho de escritório ressoava no fundo daquele lugar, e um homem engravatado e com cara de poucos amigos, sentou-se na mesa à sua frente. Ele tinha a barba por fazer, os cabelos penteados para trás e usava um terno cinza que não parecia ser novo ou caro.

O homem, então, buscou um par de óculos de grau em sua mesa e após colocar, passou a ler os papeis que tinha em mãos. 

— Senhorita Jauregui. — ele diz, num tom rude. — Você está aqui para a abertura do testamento, correto?

— Sim. — ela respondeu, tão fria quanto ele.

O homem nada disse. Olhou para ela por alguns segundos e bufou, se levantando logo em seguida.

Caminhou até a porta de seu escritório e chamou sua secretária. Após alguns segundos de conversa, ela se foi e ele voltou, deixando a porta atrás de si fechada.

— Pelo que eu conheço da sua mãe, eu sei que você não é a única parente viva. — voltou a se sentar. — A leitura do testamento será amanhã, sexta feira. Mandamos uma notificação para a senhorita. 

— E se você conhece minha mãe, deve saber que eu não tenho contato com ninguém daquela família, senhor Thompson. Eu não quero nada.

— E então...? O quê faz aqui?

— A minha cliente quer apenas saber o que lhe foi deixado, para poder abrir mão.

— Lotus Fitzgerald. Conheço seu pai, garoto. Um ótimo advogado! É uma pena que o filho tenha se tornado.. isso. — Ele ri fraco, retirando seus óculos.  — Mas, como advogado, você deve saber que existem protocolos a serem seguidos. Se a sua cliente quiser saber o que lhe foi deixado, ela vai ter que vir amanhã por volta das oito horas, sentar-se em uma daquelas cadeiras ali e esperar a leitura do testamento começar.  Mas, já digo de antemão que deve ser em vão, pois tudo o que a senhora Jauregui desejava era a distância dessa filha dela.

— Me poupe, Harold. Vamos acabar com esse teatrinho de merda! — Lauren se levantou. — Você me deve isso. Por sua culpa, a minha vida se tornou um inferno.

— Minha culpa? — Harold se levantou. — Fui eu que enfiei cocaína sua guela abaixo, garota?

— Lauren, vamos embora. — Lotus a puxa pelo braço.

— Eu não estou falando disso, seu idiota.

— Está falando do quê, então?

— Deixa eu ver se você consegue se lembrar... Estupro? Coação? Essas palavras te dizem alguma coisa?

— Bom, você não tem provas, Lauren.

— Oh, eu tenho uma prova viva! Ela vai fazer onze anos.

— A prova que você abandonou quando nasceu, Lauren?

— Por sua culpa! — Lauren gritou, sentindo seus olhos marejarem.

— Eu não te obriguei a nada. Saia do meu escritório, e só volte amanhã. Ou nunca, pois vai perder a viagem. 

Lauren nada disse, apenas seguiu Lotus para fora daquele prédio.

Nunca imaginou voltar a ficar frente a frente com aquele homem. Era como se tudo o que tivesse lutado para superar, voltasse a tona. Lauren odiava voltar pra seattle, odiava ter que lembrar do passado.

Harold Thompson era o lembrete constante de tudo o que lhe fazia mal. Todas as noites sem dormir, o caminho errado que seguiu, as coisas que disse e ouviu. Era tudo por culpa daquele homem.

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