Capítulo 1

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Narrado por Sara:

     Então ele veio em minha direção.
     Seus olhos eram como fogo e me queimavam viva. Senti meu corpo em chamas. As luzes do salão deixavam o ambiente muito mais excitante e a música ao fundo nos envolvia cada vez mais nesse desejo proibido. Como eu queria aquilo... Henry Garcia era o tipo de homem elegante e sofisticado que combinava com os salões de luxo e os encontros da alta sociedade que ele frequentava. Ele era o tipo de homem capaz de deixar qualquer mulher louca e sedenta de desejo, inclusive eu, sua nova acompanhante.
     A essa altura a nossa relação havia deixado de ser apenas profissional há muito tempo. Eu era muito mais do que uma simples acompanhante e ele sabia disso, mas ambos gostávamos do que era proibido, era excitante. Eu sabia que era bonita e quando eu vestia os vestidos de luxo e as jóias caras que ele bancava deixava ele maluco. Eu mexia com a sua mente e balançava o seu ego. Conseguia deixar qualquer homem doido, e com ele não seria diferente.
     Quando ele se aproximou meu corpo todo tremeu, ele era muito mais alto do que eu e era forte. Seu olhos claros pareciam ver a minha alma, e seu maxilar marcado e a barba rala deixavam ele muito mais atraente. Ele parou bem próximo a mim, a menos de um palmo de distância. Parecia não se importar com os outros executivos e nem com quem estava ao nosso redor.
     - Com licença, senhoritas. - ele disse para as moças que estavam comigo. - Preciso da minha acompanhante por um instante. Lauren, pode vir comigo?
     Eu sabia que tinha algo por trás de toda aquela educação, o seu sorriso de canto e o seu olhar que me olhou de cima a baixo deixou isso claro.
     - Claro. - eu disse, olhando para as outras meninas que balançaram a cabeça em concordância. Ele estendeu sua mão para mim e então eu a segurei. - Com licença.
     Com uma expressão de vitória ele me puxou e me conduziu para fora do alcance da visão dos outros. Só tive tempo de virar o último gole do meu champanhe e depositar minha taça em cima da primeira mesa que apareceu. Quando nos aproximamos da porta de saída do salão ele soltou a minha mão e me segurou pelo braço, me puxando em direção ao banheiro. No instante me surpreendi com sua ação e olhei ao redor, por sorte não havia ninguém perambulando pelo corredor no momento.
     Ele me levou até o banheiro masculino e o medo de que tivesse alguém lá dentro do banheiro me percorreu. Entramos e eu me aliviei quando constatei que não havia ninguém presente. Fomos para uma das cabines e ele trancou a porta, enfim me soltando.
     - Mas o que foi aquilo na frente das esposas dos executivos? Você queria que elas percebessem? - perguntei.
     - Você estava tão gostosa com esse vestido no meio de todas aquelas pessoas. - ele pareceu ignorar a minha pergunta e se aproximou, beijando o meu pescoço. - Não conseguia tirar os olhos de você.
     - Eles poderiam ter percebido, você sabe que precisamos ter cuidado...
     Ele me interrompeu.
     - Eu estava a ponto de rasgar o seu vestido ali na frente de todo mundo. Você sabe que me deixa louco quando coloca esses vestidos justos, não é? É por isso que você coloca? Pra me deixar maluco?
     - Henry... - soltei um gemido abafado.
     Eu estava sedendo.
     - Você mexe comigo, Lauren, e você sabe disso. - ele sussurrou em meu ouvido.
     Sua voz estava me deixando cada vez mais excitada.
     - Você também mexe comigo. - eu disse.
     Então ele me puxou pela cintura e me beijou com desejo, sua língua brincava com a minha. Era um beijo quente, desesperado, que me fazia querer muito mais do que aquilo.
     - Eu estou doido pra fuder você de novo e não estou nem aí para o lugar em que estamos.
     Sua mão percorreu pelo meu corpo e pousou em minha cintura, descendo até minha coxa. Então ele ergueu meu vestido e colocou sua mão no meio das minhas pernas.
     - É muito arriscado, estamos em um banheiro. Em algum momento alguém vai entrar e... - eu estava tentando ser racional, mas o desejo estava falando mais alto.
     - Eu sei que você quer isso tanto quanto eu.
     Ele abaixou minha calcinha e colocou um de seus dedos dentro de mim, me causando sensações maravilhosas. Eu não tinha mais argumentos.
     - Você gosta disso, não é?
     Controlei meu gemido.
     - Você sabe do que eu gosto! - afirmei em tom de provocação.
     A essa altura eu não ligava mais para o fato de estarmos quase transando dentro do banheiro do salão de festas da empresa. Estava disposta a entrar no seu jogo.
     - Eu sei. - ele disse, fazendo movimentos com seus dedos que me deixavam maluca. - Eu vou te dar o que eu sei que você gosta, só para ver você sedenta por mais. Se chegar alguém não tem problema, a gente geme baixinho.
     Ele mordeu os lábios e continuou beijando o meu pescoço enquanto eu me mexia sobre o movimento de sua mão entre minhas pernas.
     - E se mesmo assim eles ouvirem? - puxei sua cabeça, incentivando que ele me beijasse com mais vontade.
     - Aí a gente ignora e continua.
     Henry era uma tentação.
     - Você gosta do proibido, não é? - perguntei, instigando.
     - Você sabe que sim. - ele respondeu. - Gosto de toda essa adrenalina. Você não se sente mais excitada fazendo coisas proibidas em lugares proibidos? Porque eu me sinto, ainda mais se for com você...
     - Então eu estou disposta a fazer o proibido com você.
     Ele me olhou com ainda mais desejo.
     - Isso, seja uma boa garota, Lauren.
     Então ele retirou sua mão do meio de minhas pernas e abriu o zíper do meu vestido com pressa. Soltei o meu cabelo e o baguncei, o que eu sabia que me deixava muito mais sexy.
     - Você é gostosa pra caralho, sabia?
     Sua mão desabotuou o meu sutiã e desceu pelas minhas costas, apertando a minha bunda.
     - É mesmo? Quer que eu seja gostosa para você?
     - Hoje você vai ser minha vadia em todos os sentidos.
     Tirei seu terno caro e desabotoei sua camisa, expondo seu abdômen definido. Seus músculos eram bem evidentes e os seus braços fortes me seguravam com força, enquanto eu me esfregava sobre ele.
     - Hoje eu sou o que você quiser que eu seja!
     Terminei de despi-lo e observei seu membro ereto, mordendo os lábios. Então fiquei de joelhos. Ergui meu cabelo para cima novamente e não desviei meus olhos dos dele. Era isso que ele queria. Com uma de minhas mãos eu o toquei, fazendo movimentos dos quais eu sabia que o deixava louco de prazer.
    - Ah, Lauren... - ele soltou um gemido.
     Antes que pudesse passar para a próxima parte eu olhei diretamente em seus olhos, sabia que isso o deixava com tesão e queria provocá-lo. Então aproximei o meu rosto e coloquei seu membro sobre minha boca e comecei a chupá-lo com vontade.
     - Ah, isso! - mais gemidos.
     Se ele soubesse como fica lindo gemendo.
     Continuei o trabalho perfeitamente, minha boca brincava com o seu membro e ele estava gostando.
     - Vai, Lauren! Continua! - ele me segurou pelos cabelos e puxou minha cabeça para mais perto.
     Continuei chupando-o.
     - Eu tô quase lá. Vai! Ah, eu vou gozar!
     Diminui a velocidade e passei a lambê-lo.
     - Isso, vai. Goza na minha boca.
     Então um instante depois ele gozou.
     Senti o líquido quente em minha boca e engoli rapidamente. Quando olhei de volta para ele vi que estava com a cabeça inclinada para trás, sua respiração era ofegante. Me levantei.
     Comecei a beijá-lo.
     - Você é maravilhosa!
     - E agora? Você vai me dar o que eu quero? - perguntei.
     - Se é uma surra de pica que você quer eu vou te dar!
     - Então vai!
     Com seus braços fortes ele me virou de costas rapidamente.
     - Quero você assim! - ele mandou.
     Senti o meu corpo estremecendo.
     - Quero que você rebole pra mim.
     E então eu rebolei sem pensar duas vezes. Ele colocou suas mãos sobre o meu quadril e eu continuei rebolando. Então ele me puxou e se encaixou em mim.
     - Ah! - gemi.
     Me apoiei sobre a parede da cabine.
     - É disso que você gosta, não é? Sua safada! - ele sussurrou em meu ouvido. - Gosta quando eu empurro?
     - Eu adoro quando você empurra!
     Tentei controlar meus gemidos.
     Continuei rebolando cada vez mais.
     - Isso, você tá perfeita! - ele disse, me fudendo com mais força. - Não para, vai! Continua rebolando pra mim, meu amor!
     - Isso, Henry! Continua, vai! Ah! - revirei os olhos de prazer.
     Ele me puxava cada vez mais e aumentava a velocidade.
     - Você é minha, Lauren!
     Eu estava prestes a gozar.
     - E você é meu!
     Meu chefe bilionário!
     Escutei um barulho alto e em um sobressalto fechei o livro. Sra. Halloran me encarava com um olhar pesado e sua cara não era uma das melhores. Engoli em seco e então percebi que a origem do barulho era de um grande livro que ela havia jogado com toda a sua raiva e falta de paciência em cima de sua mesa.
     - Senhorita Miller... - havia um tom severo em sua voz. - Receio que a senhora não esteja prestando atenção na aula como deveria.
     Abri e fechei a boca. Realmente não estava.
     - A semana de provas está chegando e o conteúdo que eu estou lecionando é muito importante. - ela caminhou um pouco para frente. - Seus colegas estão prestando atenção, sugiro que faça o mesmo.
     A essa altura todos os olhares haviam se voltado para mim.
     - Sim, senhora. Eu estou prestando atenção. - menti.
     Ela cerrou os olhos.
     - Não é o que parece. Eu fiz uma pergunta e não fui respondida.
     Droga.
     - Poderia repetir a pergunta, por favor?
     Ela me olhou, talvez se sentindo desafiada.
     - Tudo bem.
     Burburinhos e cochichos se formaram nos fundos da sala.
     - Silêncio! - ela ordenou em tom alto. - Nossa colega irá responder à minha pergunta.
     Todos ficaram em silêncio.
     - Senhorita Miller, o que é necessário para o desenvolvimento de um projeto urbano?
     Em um gesto pensativo eu franzi o cenho. Sabia que ela já tinha falado sobre isso em alguma de suas aulas, então busquei na memória. Até que encontrei.
     - Planejamento. - respondi. - Essa é a palavra ideal. Antes de desenvolvermos qualquer projeto urbano é necessário ter um planejamento. Isso inclui um estudo de caso onde devemos analisar toda a área e o histórico geográfico onde o projeto será construído. Também entra a questão da estrutura, a criação da planta e os materiais utilizados. Dessa maneira, qualquer projeto será bem sucedido se tiver um bom planejamento.
     Ela levou a mão ao queixo de forma a pensar sobre minha resposta. Sra. Halloran era uma pessoa rigorosa e gostava de mostrar aos seus alunos que não importava o quanto eles se esforçassem, eles nunca chegariam ao nível que ela exigia. Dessa forma, eu sabia que tinha chamado sua atenção, mas mesmo assim, ela não daria o braço a torcer em admitir que eu era uma aluna que estava avançando de nível. Não estava prestando atenção na aula, mas era uma aluna estudiosa. Lia os artigos e estudava sempre que podia.
     - Muito bem, Sara. Vejo que andou estudando os meus anexos. Está correta. - ela soltou os braços que estavam cruzados. - Mas se pretende ir bem nas provas finais, eu ainda sugiro que continue estudando.
     - Lembrarei da sua sugestão. - dei um sorriso falso.
     Sra. Halloran era uma víbora.
     - Ótimo. Voltando ao conteúdo que eu estava explicando... - ela continuou dando sua aula chata para os outros alunos.
     Suspirei aliviada, vendo que eu não era mais o foco da sua atenção. Alguns instantes depois, a tela do meu celular acendeu em uma notificação. Coloquei o mesmo embaixo da carteira disfarçadamente e desbloqueei. Era uma mensagem da minha irmã.
     Isabella: 11h57
     Oii, maninha. Você ainda está na faculdade? Fiquei sem tinta. Você poderia trazer algumas para mim? Quero terminar aquele quadro da mamãe... Só preciso de algumas cores.
     Eu: 11h58
     Oii. Tudo bem. A aula já está terminando. Quais cores você precisa?
     Enviei.
     Então o sinal tocou.
     - Essa foi a aula de hoje, pessoal. Semana que vem quero os relatórios em cima da minha mesa e não se esqueçam de responder o questionário no final da página 70. - Sra. Halloran disse, fechando o seu livro. - Até a próxima aula.
     Guardei meu material em minha bolsa, dando graças a Deus que as aulas de hoje haviam acabado. Peguei meus livros e me levantei, saindo da sala. Bárbara vinha atrás de mim.
     - Sara, espera. - ela disse.
     Eu parei e fiquei esperando.
     - Meu chefe bilionário? Sério? Justa na aula da Sra. Halloran? - ela disse se aproximando.
     - O que foi? O livro é bom. - respondi.
     - Eu sei muito bem o que é bom nesse livro. - ela sorriu. - O que não é muito bom é a Sra. Halloran, imagina se ela te pega lendo hot no meio da aula?
     Pensei na possibilidade.
     - Se isso acontecesse ela tornaria meus últimos meses de faculdade num verdadeiro inferno.
     - Com certeza.
     Seguimos juntas pelo corredor até os armários.
     - Amiga... - Bárbara me chamou.
     Tinha algo diferente em sua voz.
     - Oi? - questionei, enquanto abria a porta do meu armário.
     - Você já está sabendo da notícia? - ela perguntou.
     Franzi o cenho.
     - Que notícia?
     Ela hesitou.
     - O Jason...
     - O que tem ele? - perguntei.
     Ela pensou por um instante.
     - Ele voltou.
     - O que? Como assim ele voltou?
     Ela me olhou com uma expressão surpresa.
     - Você não sabia?
     - Não, eu não fazia ideia. Quando ele voltou?
     - Ontem. Ele me procurou durante o intervalo e disse...
     - Espera aí, ele está aqui na universidade? - perguntei.
     - Sim.
     - Droga. O que ele te disse?
     - Bem, ele só queria dizer oi. Ele ficou um tempo fora e foi embora sem se despedir de ninguém. Ele era nosso amigo antes de fazer o que fez com você...
     - Eu sei... - disse, um pouco triste.
     Queria que tivesse sido diferente...
     - Ele disse que quer falar com você.
     A frase invadiu minha cabeça, causando um sentimento de negação.
     Jason era meu ex namorado. Terminamos a pouco tempo - a nove meses, para ser mais exata - depois que eu o encontrei na cama transando com Angel, minha também ex melhor amiga. Nosso relacionamento durou três anos, foi então que descobri que ele passou dois desses três anos me traindo com ela.
     - Eu não tenho nada para falar com ele. - disse, colocando meus livros dentro do armário.
     Bárbara me olhou, compreensiva.
     - Ele voltou, amiga. Seu pai morreu, por isso ele veio. Agora ele vai ficar de vez. Uma hora ou outra vocês vão acabar se esbarrando pela universidade.
     Fiquei surpresa com a notícia.
     - Eu sinto muito pelo pai dele. Mas do Jason eu quero distância. Sei que vamos acabar se encontrando por aí, mas se ele ficar na dele está tudo bem.
     - É melhor assim. - ela disse.
     Concordei.
     - Como você está em relação a tudo isso? - ela perguntou. - Não faz muito tempo que vocês terminaram...
     - Eu estou bem, amiga. É sério. Já superei.
     Não estava mentindo. Realmente havia superado minha relação com Jason. É óbvio que ainda sentia um pouco de mágoa pela dor que ele havia me causado. Eu realmente o amei de verdade e quando descobri que era tudo uma ilusão foi doloroso. Ainda sentia um nó na garganta quando pensava nele, depois que descobri sobre sua traição. Jason era abusivo e o nosso relacionamento era tóxico, pena que eu só me dei conta disso muito tarde. Mas, o importante era que eu não sentia mais nada por ele.
     - Tem certeza?
     - Sim. - confirmei. - Eu não sinto mais nada por ele.
     Bárbara pegou em minhas mãos.
     - Fico feliz que você tenha superado. - ela sorriu. - Como sua amiga, eu não gostaria de te ver sofrendo de novo. Jason foi um babaca e você não merece sofrer por um cara assim.
     - Tem razão, amiga. Obrigada.
     - De nada.
     Tranquei o armário e então continuamos andando. Pedi para que Bárbara me acompanhasse até a biblioteca, precisava de alguns livros sobre a teoria das estruturas.
     - E aí, meninas? O que estão aprontando? - Tyler apareceu de repente atrás de nós, colocando seus braços em cima de nossos ombros.
     - Que susto, Tyler! - Bárbara exclamou, com uma expressão irritada.
     Ela odiava quando Tyler aparecia do nada.
     - Oi, Tyler! - sorri.
     Tyler era nosso amigo, uma figura divertida e atraente que também cursava arquitetura.
     - Oi, Sara! - ele sorriu. - Já está sabendo da notícia?
     - Sim, Bárbara me contou.
     Ele me olhou como se me analisasse.
     - Então... - ele pronunciou. - Talvez não seja uma boa ideia, mas o Noah vai dar uma festa de boas vindas para o Jason na casa dele hoje a noite, vocês poderiam aparecer por lá.
     - Olha, sinceramente, a volta do Jason não é uma coisa que eu gostaria de comemorar.
     - Tem razão. - ele disse, enquanto andávamos. - Mas pense por outro lado, seria uma forma de mostrar que você superou.
     Bárbara revirou os olhos.
     - O que foi? É verdade... - Tyler balbuciou.
     - Eu estou bem, Tyler. - disse. - Não preciso mostrar pra ninguém que superei o Jason.
     - Você está certa. - ele fez sua expressão de compreensão. - Você vem, Bárbara?
     - Não, tenho planos para essa noite.
     - Hum, posso saber que planos são esses?
     - Não! - Bárbara respondeu, secamente.
     - Nossa, tudo bem. - ele ergueu as mãos para cima em sinal de rendimento. - Se não quiser compartilhar, não precisa.
     Não consegui disfarçar uma risada. Bárbara e Tyler eram como cão a gato às vezes.
     - Mas de qualquer forma... - ele disse, parando em frente a entrada da biblioteca. - Se vocês mudarem de ideia, já sabem onde será a festa.
     - Tudo bem. - concordei.
     - Bom, meninas. Também tenho alguns planos que me esperam. - olhou para Bárbara com um sorriso debochado. - Até mais!
     Se despediu e então se afastou.
     - Desde quando você tem planos para essa noite? - perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
     - Era só uma desculpa. - Bárbara respondeu.
     Sorri.
     Então entramos na biblioteca. Nos aproximamos do balcão, onde uma senhora de cabelos grisalhos e de aparência simpática estava sentada. Era Mary, a bibliotecária. Disse o que estava procurando e logo ela me respondeu.
     A biblioteca da universidade era enorme e todos os livros eram registrados no sistema para serem encontrados com mais facilidade. Com alguns cliques no computador, ela encontrou o que eu precisava.
     - Todos os livros sobre a teoria das estruturas estão no Bloco C, logo mais a direita. - ela indicou.
     - Obrigada, Sra. Mary.
     - De nada, querida.
     Então nos afastamos do balcão, indo em direção ao Bloco indicado.
     - Você acha que Tyler vai mesmo à festa de boas vindas? - perguntei a Bárbara.
     Naquele horário a biblioteca não era tão movimentada, então podíamos conversar em tom de voz normal.
     - Vai. - ela respondeu. - Você sabe que eles ainda são amigos.
     Jason era amigo de todos, incluindo Tyler. Os dois sempre foram próximos, mas Tyler nunca passou a mão na cabeça de Jason. Tyler também era meu melhor amigo, e quando Jason e eu terminamos ele ficou do meu lado, mas mesmo assim, eles nunca deixaram de ser amigos. Tyler apenas não concordava com as atitudes de Jason.
     - Sim. - concordei.
     Viramos no Bloco C e avistamos as enormes prateleiras de livros.
     - Mas e quanto a você e Tyler? - perguntei, analisando os livros que estavam organizados em ordem alfabética.
     - O que tem a gente? - ela perguntou, parecendo distraída.
     - Você ainda gosta dele, não é?
     Ela me encarou um pouco desacreditada.
     - Não! - negou.
     - Não é o que parece. - disse. - Quando vocês estão juntos parecem até dois apaixonados não assumidos se alfinetando.
     Ela arregalou os olhos.
     - É sério que parece isso?
     - Sim. - respondi, tirando um dos livros da prateleira.
     - Droga.
     Olhei para ela com uma expressão um pouco confusa.
     - Eu gostei dele, amiga. Mas Tyler não é para mim.
     - Porque diz isso? - perguntei.
     - Bom, nós somos bem diferentes um do outro e Tyler está interessado em outra pessoa. Não daria certo. - ela disse. - Então eu simplesmente deixei de lado. Também não era como se eu estivesse apaixonada por ele. Para falar a verdade, eu me sinto muito bem depois disso.
     - Eu entendo perfeitamente.
     Ela sorriu.
     - Sei que um dia vou encontrar um cara legal... - ela disse.
     - Disso eu tenho certeza.
     - Mas enquanto isso não acontece, acho melhor continuar estudando. - ela pegou um dos livros da prateleira. - Acho que vou levar esse aqui.
     Bárbara era uma pessoa incrível e uma ótima amiga. Realmente merecia ser feliz com alguém especial. Tyler era um cara bacana, mas a verdade era que ele não era o melhor para Bárbara.
     Continuei escolhendo os livros que pegaria emprestado, eram vários, com milhares de páginas.
     - Nossa, quantos livros! - Bárbara exclamou, surpresa. - Tem certeza que vai ler tudo isso?
     - Sim. - respondi. - Preciso apenas de algumas semanas.
     Bárbara me olhou como se eu estivesse ficando louca.
     - Tudo bem, então. - ela disse. - Queria ter esse mesmo dom de leitura que você tem, mas não consigo. - fez uma careta.
     Sorri.
     Depois que escolhemos os livros, voltamos para o balcão. Sra. Mary registrou os nomes dos livros e anotou a data de devolução.
     - Prontinho. - ela disse. - Bom estudo!
     - Obrigada. - agradecemos.
     Então saímos da biblioteca, indo em direção ao Campus. Descemos as escadas e logo estávamos no lado de fora da universidade. Meus olhos percorreram pela paisagem colorida de fora, era um ambiente estudantil agradável, onde uma imensidão de universitários caminhavam. Alguns estavam indo para seus alojamentos, enquanto outros apenas conversavam em rodinhas.
     De repente, avistei Jason ao longe. Ele estava em uma roda conversando com Noah e alguns outros rapazes. Estava do mesmo jeito de quando havia ido embora. Vê-lo assim tão cedo me trouxe uma sensação estranha e diferente, não esperava encontrá-lo no seu primeiro dia. No mesmo instante, seu rosto me encarou e seus olhos me percorreram de cima a baixo. Ele sorriu e acenou para mim. Senti aquele nó na garganta voltando e então desviei meus olhos dele. Foi quando Bárbara me cutucou.
     - Sara? Você ouviu o que eu disse? - ela perguntou. - Parece estar no mundo da lua.
     - Me desculpe, acabei me distraindo. - me expliquei. - O que você disse?
     Bárbara pareceu não ter percebido a presença de Jason no Campus, então achei melhor não dizer nada. Estava cansada desse assunto.
     - Perguntei se você vai fazer alguma coisa à tarde. Hoje a loja fecha mais cedo e eu estava pensando em pegar um cineminha com as meninas, o que você acha? Já que não vamos a festa idiota do Noah...
     - Eu gostaria, mas vou estar ocupada.
     - Ah, fala sério! Ocupada com o quê?
     - Hoje é minha folga. - disse. - É o único dia que eu tenho tempo para os estudos.
     - Mas também é o único dia que você tem tempo para se divertir com suas amigas. - ela ressaltou.
     - Eu sei. Mas você ouviu o que a Sra. Halloran disse, que se eu quiser ir bem nas provas finais, preciso continuar estudando. Não posso mais bobear nas aulas dela. - expliquei. - Podemos marcar para outro dia.
     - Tudo bem, então. - ela concordou. - Bom, tenho que ir para a loja, o trabalho me espera. Até amanhã!
     - Até!
     Ela me abraçou em despedida e então se afastou.
     Antes que eu mudasse o passo, olhei mais uma vez para Jason. Foi como um movimento involuntário, automático. Não queria ter olhado para ele, mas foi algo que na hora eu não controlei. Ele ainda me olhava, então desviei mais uma vez, rapidamente. Segurei firme os livros sobre o meu peito e caminhei em direção a saída do Campus. Ultimamente a faculdade andava muito cansativa, então quando as aulas acabavam eu me sentia aliviada.
     Saí da universidade e segui caminhando pelas ruas do centro. Andava calmamente, admirando como o dia estava lindo e como as pessoas estavam apressadas, correndo para sabe-se lá onde. Antes de chegar a loja de tintas, conferi se não havia mais nenhuma mensagem de Isabella. Então atravessei a rua, parando em frente à loja. Adentrei o local e comprei as tintas das cores que ela tinha me pedido. Saí segurando a sacola com as tintas e voltei para as calçadas, dessa vez com o intuito de ir para casa.
     No meio do caminho fui pensando sobre minha vida, e sobre como a volta de Jason me afetaria. Era algo que eu não tinha o controle, Jason e eu não tínhamos mais nada um com o outro, e eu não podia simplesmente impedi-lo de voltar para Atlanta ou até mesmo para a universidade, mas eu sabia que não tinha nada de bom na sua volta. Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Os livros estavam começando a pesar, então apressei os passos.
     Foi quando observei que um homem vinha em minha direção, parecia apressado. Vestia um terno cinza e carregava uma maleta em uma das mãos, enquanto falava com alguém pelo telefone. Era um típico homem daqueles com aspecto rico e empresarial que frequentavam a cafeteria onde eu trabalhava. Ele caminhava depressa. Também parecia impaciente com quem falava ao telefone. Prestei mais atenção no que ele falava, era algo sobre "empresa" ou "decisões", alguma coisa do tipo.
     Então ele apressou ainda mais os passos. Esse cara só pode estar atrasado, pensei. Foi nesse exato momento que ele se esbarrou em meu ombro, fazendo com que eu derrubasse os livros no chão.
     - Ei, olha por onde anda! - ele exclamou, impaciente. - Não, não é nada, Michael. É só uma garota distraída que cruzou o meu caminho. - disse para quem conversava ao telefone.
     Nessa hora eu não aguentei e retruquei:
     - Olha você por onde anda! Eu não estou distraída, você que está muito apressado. Como se eu tivesse culpa do seu atraso...
     Ele me deu as costas e continuou caminhando, ignorando o fato de ter derrubado minhas coisas no chão.
     - Caso não tenha percebido, você derrubou meus livros no chão. - disse. - Você poderia pelo menos fazer a gentileza de me ajudar a recolhê-los!
     - Não tenho tempo para isso, garota. - continuou andando. - Michael, não tome nenhuma decisão sem mim. Eu já estou chegando...
     E assim ele sumiu pelo centro da cidade, indo na direção dos grandes prédios altos.
     - Babaca! - exclamei para mim mesma.
     Não podia acreditar que em pleno século XXI ainda existiam pessoas tão mal educadas assim.
     Então me abaixei para recolher os livros do chão. As tintas da sacola também haviam caído. Uma delas se abriu, formando manchas enormes nos livros, em tom azul.
     - Merda!
     Peguei um lenço que tinha em minha bolsa e tentei limpar a bagunça, mas parecia que quanto mais eu limpava, mais as manchas se espalhavam.
     - Isso vai me trazer problemas...
     Continuei tirando o excesso da tinta. Tirei o que consegui, mas que resultou em grandes manchas que não sairiam tão fácil, ou que talvez não sairiam de jeito nenhum.
     Suspirei, cansada.
     Era mais um problema para a lista. Agora teria que me responsabilizar com a universidade. Talvez pudesse inventar uma boa desculpa que explicasse como consegui manchar de tinta alguns dos livros mais importantes da sessão de arquitetura da biblioteca. Seria algo difícil, e que talvez me custasse muito mais do que uma simples explicação.
     Limpei o máximo que pude para que não manchasse minha roupa na hora em que fosse carregá-los. Juntei tudo do chão e joguei o lenço na lixeira que tinha ao lado. Então, mais uma vez, voltei para o meu percurso anterior, desejando não encontrar com nenhum outro doido apressado pelo caminho.
     Cruzei as ruas da cidade e andei mais algumas quadras, chegando até o prédio em que morava com minha irmã. Nosso apartamento era pequeno, não se comparava a nossa antiga casa onde morávamos antes do acidente de nossos pais, mas os poucos metros quadrados bastavam para nós duas.
     E falando no acidente, me lembro como se fosse ontem quando escutei a notícia no noticiário falando sobre a queda do avião onde meus pais estavam. Foi um acidente tão trágico, terrível, e que daqui a alguns meses completaria mais um ano. Com a morte deles, vieram muitas mudanças. Nossa casa estava hipotecada e não tínhamos o dinheiro necessário para quitar a dívida, então perdemos.
     Tínhamos um prazo para encontrar outro lugar para morar. Na época, Isabella ainda tinha apenas 16 anos e se tornou minha responsabilidade como irmã mais velha cuidar dela. Então, com muita dificuldade conseguimos um apartamento perto da universidade, não era muita coisa de início, mas servia para nós.
     No começo enfrentamos algumas dificuldades, mas depois que encontrei um emprego as coisas foram melhorando aos poucos, porém, ainda não era como antes e talvez nunca voltaria a ser. O mais difícil de tudo foi enfrentar a dor da perda, mas sabia que não estava sozinha, tinha minha irmã. Éramos unidas e isso era o que importava.
     Subi os andares do prédio e parei em frente a porta do nosso apartamento. Busquei as chaves na bolsa, abri a porta e entrei.
     - Isabella, cheguei. - anunciei, mal acreditando que havia chegado em casa.
     - Finalmente. - ela disse.
     Então caminhei até a sala, observando como tudo estava organizado. As luzes que vinham da janela aberta mantinham o cômodo arejado. Com a experiência que eu vinha adquirindo na faculdade de design de interiores, fui decorando o apartamento de maneira que ficasse mais aconchegante, tentando lembrar ao máximo nossa antiga casa, era algo que me deixava muito mais confortável.
     Cada pequeno detalhe, como um quadro na parede ou um vaso em uma prateleira, fazia total diferença. O apartamento era pequeno, mas isso não era uma desculpa para não ser um ambiente agradável e gostoso de se viver.
     Isabella estava sentada próximo a janela, com sua paleta de tintas, pintando um quadro que estava disposto sobre o cavalete. Vários outros quadros já pintados estavam encostados na parede em um canto. Coloquei os livros e a sacola de tintas sobre a pequena mesa que também servia de decoração para a sala e deixei minha bolsa em cima do sofá. Me aproximei de Isabella e a abracei, ficando atrás dela. Observei a tela que ela pintava.
     - Você tem os mesmos traços da mamãe...
     Nossa mãe era uma grande artista, mas não ganhava nada com o que pintava. Antes do acidente ela havia deixado uma de suas telas pela metade. O quadro tinha estado guardado pelos anos seguintes, sem nunca ter sido terminado.
     Isabella tinha herdado o mesmo dom que nossa mãe, pintava do mesmo jeito que ela, com as mesmas linhas e traços. Ela guardou todos os quadros da mamãe em seu quarto e sempre zelou por cada um deles, em especial, o que nunca havia sido concluído. Eu sabia como isso significava muito para ela.
     - Acho que sim. - ela suspirou, dando uma última pincelada. Parou e então analisou a pintura. De repente pareceu tão cabisbaixa.
     - Fico feliz que tenha decidido terminar o quadro da mamãe. Ele esteve guardado por tanto tempo... Sei como isso significa pra você.
     Ela refletiu sobre o que eu havia dito e depois disse:
     - Queria homenagear a mamãe de alguma forma, afinal, daqui a alguns meses completará três anos. Achei que terminando o quadro dela seria uma maneira de homenageá-la...
     - E você teve uma ótima ideia. - sorri.
     Ela também sorriu e se virou para mim.
     - Você trouxe as tintas? - perguntou, com uma expressão bisbilhoteira, procurando alguma sacola ou algo que indicasse que eu havia trazido.
     - Trouxe. - respondi.
     Fui até a mesa e peguei a sacola.
     - Meu Deus, o que aconteceu com os livros? - ela perguntou ao observá-los em cima da mesa.
     - Um homem apressado passou por mim no centro e acabou esbarrando no meu ombro. - expliquei. - Me fez derrubar os livros todos no chão, junto com as tintas.
     - Hum, isso me parece o início de um romance daqueles de livros. - ela disse, risonha. - Ele te ajudou a recolher os livros depois?
     - Ajudou nada. Foi muito grosso, isso sim! - disse, me lembrando de mais cedo. - Disse que não tinha tempo, e ainda me chamou de garota de uma forma arrogante.
     - Já sei... - ela colocou a mão sobre o queixo, pensando. - Um romance enemies to love. - concluiu.
     Revirei os olhos.
     - Ele era bonito pelo menos? - ela perguntou.
     Busquei a imagem do homem em minha mente, tinha gravado o seu rosto, mas algumas características ainda falhavam. Como foi tudo muito rápido, não prestei muita atenção em detalhes.
     - Na verdade, eu não reparei muito bem. - respondi. - Mas o que tudo indica, ele deve ser importante.
     - Entendi...
     Alguns poucos segundos de silêncio demonstraram que ela não tinha mais nenhuma pergunta sobre ele.
     - Bom, aqui estão as tintas. - fui até ela e lhe entreguei a sacola. - Sei que são poucas... - ela me interrompeu.
     - São o suficiente. - sorriu.
     Isabella era compreensiva em tudo.
     - Eu vou continuar pintando a tela... - ela começou. - Tem comida na geladeira.
     - Tudo bem. - dei um último sorriso e me afastei.
     Fui até o meu quarto e troquei de roupa, vestindo uma roupa confortável para ficar em casa. Ergui o cabelo para cima e fui em direção a cozinha. Peguei a comida da geladeira e esquentei no micro-ondas. Pelo jeito Isabella ficaria a tarde inteira grudada na tela de pintura, então não adiantaria de nada chamá-la, já que provavelmente ela já tinha comido.
     Quando terminei minha refeição, lavei a pequena quantidade de louça que estava em cima da pia. Depois peguei um pano úmido e mais algumas coisas e tentei tirar as manchas dos livros, ou pelo menos tentar melhorar a situação. Sem êxito, levei-os até o meu quarto e os deixei em cima da escrivaninha. Eu daria um jeito de pagar o prejuízo à universidade, nem que tivesse que fazer hora extra.
     Sem mais nada para fazer e com a casa inteira em completo silêncio, estava na hora de estudar. Peguei toda a quantidade de livros que tinha, junto com os da universidade que não estavam tão detonados e me sentei sobre a cama. Abri meu notebook procurando os arquivos das aulas da Sra. Halloran. Depois li e reli todas as minhas anotações e respondi o questionário da página 70. Então recebi uma notificação, era Bárbara me mandando uma foto.
     Bárbara: 18h47
     *Foto*
     Só faltou você aqui...
     Na foto, Bárbara e as outras meninas tomavam sorvete na entrada do cinema. Sorri com as caretas da foto e me senti feliz em saber que a minha presença fazia falta. Depois de responder Bárbara, percebi o quão depressa as horas haviam passado. Passei a tarde inteira estudando e nem me toquei do horário, mas tinha sido bom, pelos menos tinha colocado os deveres em dia, já que amanhã minha rotina começaria de novo e não teria mais tempo para nada. Guardei todos os materiais e suspirei, cansada. Essa era minha vida. Trabalho, faculdade, problemas com um ex namorado, dívidas. Talvez não fosse uma vida perfeita, mas era o melhor que eu tinha.

Continua...

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Notas da autora:

     Quem aqui também já leu um hot no meio daquela aula chata? Haha.
     Neste capítulo vocês puderam perceber um pouco mais sobre como é a vida de Sara e de sua irmã.
     Quem será esse homem apressado que esbarrou com Sara no caminho? Sobre o que ele falava ao telefone?
     Agora que Jason voltou, ele irá interferir na vida de Sara?
Acompanhem nos próximos capítulos.

Até o próximo capítulo!

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⏰ Última atualização: May 05, 2023 ⏰

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