Capítulo 7

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Conforme dito, o delegado deu uma entrevista ao jornal do meio-dia na rádio mais ouvida da cidade. Ele falou brevemente sobre o andamento da investigação, claro, sem dar maiores detalhes que poderiam alertar o bandido e prejudicar o trabalho da polícia.

Ferreira respondeu a algumas perguntas do repórter e por fim fez um apelo à população. Pediu que evitassem sair durante a noite em locais escuros, isolados. Que namorassem na segurança de suas casas, não em estradas desertas. O delegado sabia que nem todos os moradores da cidade ouviam o noticiário, e que entre aqueles que ouviam certamente alguns não dariam bola para o alerta. Ao menos ele tinha feito o seu trabalho. A população não poderia culpar a polícia por estar alheia ao que estava acontecendo na cidade.

***

O assassino em seu esconderijo agradecia a Deus pela oportunidade de matar pessoas que julgava impuras, também pedia que ninguém o denunciasse para que assim pudesse continuar com sua missão. Ele não tinha moradia, nos lugares em que se escondia dificilmente seria encontrado pela polícia, a não ser que houvesse uma denúncia.

A cidade ainda era cercada por grandes áreas de mata, algumas dentro do perímetro urbano, chamadas de áreas de preservação ou parques ambientais. Lugares excelentes para que alguém como ele pudesse viver escondido durante o dia e atacar durantes as noites casais que continuavam arriscando suas vidas, mesmo com os crimes que tinham ocorrido recentemente.

Vasculhar todas aquelas áreas com o contingente policial da cidade era algo simplesmente impossível. Além disso, a polícia ainda não tinha nenhuma evidência de que ele fosse alguém que vivia escondido no mato. Poderia ser qualquer pessoa, andando livremente em meio a população, sentado em uma roda de conversa em um bar da cidade.

*****

No dia seguinte...

O corpo de Laura ainda não tinha sido liberado pela perícia para os ritos fúnebres, mesmo assim Paulo resolveu ir na delegacia para prestar seu depoimento. Ele acreditava que talvez pudesse dar informações úteis para a polícia e ajudar a prender o assassino de sua amada.

— Sinto muito pela sua perda. Prometo que vamos fazer o possível para prender o culpado — disse Malu, antes de começar a ouvi-lo.

— Posso contar desde o início como tudo aconteceu?

— Sim, por favor! Quero todos os detalhes, mesmo que pareça insignificante, qualquer informação pode ser importante.

— Naquela noite, Laura e eu saímos para namorar. Fomos a alguns lugares e então parei o carro em um local escuro, deserto, para que tivéssemos um pouco mais de privacidade. Começamos a nos beijar e como as coisas esquentaram logo fomos tirando as roupas. Eu não tinha medo de que alguém nos surpreendesse, pois, o lugar é bastante deserto, principalmente durante a noite. Sei que não deveríamos fazer isso dentro do carro, mas tivemos vontade.

— Estávamos muito entretidos com a situação que em momento algum notamos que alguém nos observava. Ele se aproximou sem fazer o menor barulho. Acredito que deveria estar a uns cinco metros de nosso carro quando ligou aquela lanterna e mirou bem em nossos olhos, ofuscando completamente nossa visão.

— Foi um grande susto, pensei logo em proteger Laura que estava seminua, pois alguém tinha nos encontrado. No entanto, antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, o sujeito se aproximou e vimos que estava armado com uma espingarda. Fez com que eu descesse do carro a chutes e coronhadas, mas Laura ficou lá, dentro do carro.

— Não pude fazer nada, ainda caído no chão eu vi quando o sujeito a esfaqueou e em seguida disparou a espingarda. Desesperado, consegui sair correndo, mas ele veio atrás de mim. A minha sorte foi que havia uma pequena área de mata e consegui me esconder, ou ele também teria me matado, não duvido disso. Consegui fugir e pedi ajuda, como a senhora já sabe.

— Por favor, não precisa me chamar de senhora. Pode me chamar de você. Bom, esse seu depoimento apenas confirma o que já imaginávamos que tinha acontecido. Agora quero lhe fazer algumas perguntas mais específicas.

— Claro, seu eu puder responder e ajudar a prender o assassino.

— Alguém tinha motivo para querer matar ou mandar matar vocês dois? Talvez por ciúmes?

— Não, isso eu posso dizer com certeza. Ninguém era contra a nossa relação.

— Certo! Me descreva como era o sujeito que atacou vocês.

— Algo em torno de 1,70m de altura, magro e pele morena, eu acho. Ele tinha um chapéu de aba larga que escondia grande parte de seu rosto. Usava calça e camisa de manga longa.

— Então o senhor não conseguiu ver o rosto dele perfeitamente?

— Não, não consegui.

— Acredita que é alguém que o senhor conhece, tendo em vista que ouviu a voz do assassino?

— Não, eu tenho certeza de que nunca vi aquele monstro antes. Eu reconheceria pela voz se fosse algum conhecido.

— Muito bem! Tem mais alguma coisa que gostaria de falar?

— Infelizmente não. Pensei que poderia ajudar a prender o assassino, mas pelo visto isso não vai ajudar em nada — falou decepcionado.

— O senhor está ajudando, não posso dar maiores detalhes, mas tenho tudo para acreditar que vocês não são as primeiras vítimas dele.

— Como assim?

— Vocês não ficaram sabendo de um caso parecido que aconteceu recentemente, quando um casal foi atacado?

— Não! Na verdade, acho que ouvi alguns boatos, mas não prestei muita atenção nos detalhes.

— Pode ser a mesma pessoa, mas tudo ainda não passa de suposição. Estamos investigando, espero que logo possamos colocar as mãos no assassino.

— Eu mesmo o mataria se soubesse quem é.

— Isso não vai trazer Laura de volta. Deixe que façamos o nosso trabalho. Prometo que o caso não cairá no esquecimento. Tem a minha palavra.

*****

Os dias passaram e nenhum novo caso havia acontecido. Os resultados da perícia no corpo de Laura ficaram prontos, mas não havia nenhuma prova que pudesse ser capaz de apontar um suspeito. O exame de balística comprovou que a arma utilizada no crime era a mesma que foi utilizada para matar João e Cláudia, uma espingarda calibre 22. Malu temia que a falta de um novo ataque fizesse com que o caso fosse esquecido. Mas o que poderia ser pior, aqueles crimes ficarem impunes ou mais um ataque que poderia ceifar a vida de mais uma ou duas pessoas?

As duas hipóteses eram terrivelmente ruins. Ninguém sabia quando, ou onde poderia ocorrer um novo ataque. Era preciso contar com a sorte, torcer para que o assassino cometesse um erro, e que talvez pudesse ser preso antes de matar mais pessoas.

A luz da morte (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora