Malu chegou em casa naquela noite e se despiu, entrando debaixo do chuveiro, deixando a água fria molhar o seu corpo de maneira relaxante. Fazia muito calor, como de costume naquela época do ano, por isso a água não estava tão fria, mas numa temperatura agradável. Ainda enquanto a água escorria por seu corpo, ela imaginava o corpo da moça sendo encontrado em algum lugar deserto, àquela altura sendo devorado por insetos e aves carniceiras ou ainda que talvez pudesse estar enterrada em alguma cova rasa onde poderia nunca a vir ser encontrada. Era uma coisa dura de se imaginar, mesmo para ela que ainda não tinha filhos. Mas a detetive sabia que era uma hipótese que ganhava mais forças a cada momento que passava, a cada hora que o ponteiro marcava no relógio a possibilidade de encontrar Aparecida com vida diminuía consideravelmente.
Ela saiu do banho com a toalha enrolada em seu corpo, jogando-a sobre a cama assim que chegou ao quarto. Mais uma vez via seu corpo nu em frente ao grande espelho do armário. Ela não era perfeita, mas tinha um corpo atraente, o que poderia ser chamado de esbelta, seios pequenos e firmes, pele morena e cabelos escuros quase lisos que passavam a maior parte do tempo presos em um rabo de cavalo quando estava no trabalho. Talvez fosse seu jeito de durona, ou o fato de ser policial que afastava os homens dela. Malu nem se recordava mais de quando foi que tinha transado pela última vez, ou talvez não quisesse se lembrar. Estava tão acostumada com a solidão que já nem se importava mais com isso. Bobagem! Ela sonhava em encontrar o homem de sua vida, mas o trabalho era seu grande amor e esse sempre vinha em primeiro lugar desde quando entrou para a polícia.
Malu colocou uma calcinha confortável e ficou sem sutiã, vestiu uma camisola e foi para a cozinha preparar alguma coisa para comer. Não tinha muito ânimo em preparar um jantar apenas para ela, mas precisava se alimentar, isso se não quisesse ficar doente comendo só porcarias industrializadas.
Ela ainda não sabia, mas tinha um grande caso em suas mãos. Em breve saberia que o desaparecimento daquela moça era bem mais sério do que parecia a princípio.
*****
Na manhã seguinte, segundo dia do desaparecimento de Aparecida. Um morador daquela região procurava por seu cachorro que não via desde a tarde do dia anterior. Rex, como era chamado o cachorro, não costumava ficar longe de casa por muito tempo. Quando amanhecia ele já estava à porta de casa aguardando seu dono acordar para lhe dar as boas-vindas de um novo dia e segui-lo por todos os lados enquanto fazia as tarefas diárias na chácara. O homem sabia que havia grandes chances de o animal ter sido devorado por uma das sucuris que habitavam um dos córregos ali por perto, não seria o primeiro caso se tivesse de fato acontecido. No entanto, depois de procurar um pouco ele avistou ao longe alguns urubus voando em círculos e descendo sobre a vegetação rasa. Vários deles estavam no chão e pareciam apreciar um banquete.
Não era normal que um animal morto atraísse urubus tão rapidamente, ainda mais um cachorro pequeno como o seu, mas ele preferiu averiguar para ter certeza. Se confirmasse a situação não teria mais que perder tempo procurando pelo animal, poderia espantar os urubus e enterrá-lo para evitar que o mal cheiro atraísse ainda mais urubus.
O homem caminhou mais uns duzentos metros e então avistou seu cachorro que vinha a seu encontro, quando o viu começou a latir, como se quisesse lhe mostrar alguma coisa. O homem seguiu o cachorro e saiu da estrada de terra batida e se embrenhou no capim, ele notou que o capim naquele lugar estava um pouco amassado, como se alguém tivesse andado por ali recentemente. Antes mesmo que os urubus se assustassem com sua presença e do cachorro e deixassem o cadáver, o homem já tinha percebido que não se tratava de nenhum outro animal, mas sim do corpo de uma mulher, uma jovem moça que começava a ter sua carne devorada pelas aves carniceiras.
Ele estagnou antes de chegar muito perto e ainda incrédulo analisou a cena, impedindo que seu cachorro se aproximasse. A moça tinha um grande ferimento na cabeça e estava nua da cintura para baixo, sinal de que provavelmente havia sido abusada, antes ou depois de ter sido assassinada. Uma cena triste e ao mesmo tempo horrível de se ver.
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A luz da morte (degustação)
Mistero / ThrillerUm ataque a um casal que estava namorando em um local isolado foi o início de tudo. Naquele momento a polícia não tinha a menor ideia de que uma série de crimes estava prestes a começar. Na medida em que novas mortes acontecem, fica muito claro o mo...