Nesta data querida ━━ Gabriel Barbosa

Muitos anos de vida

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Ana Clara odiava trabalhar no dia do seu aniversário. Nada tiraria de sua mente que aquele dia em especial deveria ser considerado feriado nacional de tão importante, e ela não poderia colocar os pés para fora do conforto de sua casa, claro que tendo seu marido bem pertinho para a mimar com beijos e tudo o que mais que ela desejasse, mas infelizmente a vida da escritora não era igual às das personagens principais de suas obras. Ana não vivia em um universo todo perfeitinho, onde ela ditava as regras. O seu aniversário era apenas mais um dia normal e o seu marido nem se lembrava que aquele era o dia dela.

E ele ainda tinha a cara de pau de dizer que a amava mais do que tudo no mundo.

— Vai perguntar o aniversário do Flamengo, para ver se ele não sabe. — Resmungou sozinha. — Com certeza terá a resposta na ponta da língua. Mas o aniversário da esposa?! Da mulher que ele se relaciona há mais de oito anos?! Não faz ideia!

Continuou a digitar com ódio um e-mail importante, enquanto ainda falava sozinha.

— Não, Ana Clara. — Parou o que estava fazendo. — Também não vamos se colocar no mesmo nível do Flamengo, não é? Limites. O time do coração está aqui — levantou a mão direita bem no alto — e os demais estão cá embaixo. — Colocou a mão esquerda bem abaixo da direita. — Mas mesmo assim! Ele tinha que lembrar!

Ela levou as duas mãos ao rosto e choramingou.

— Que ódio de você, Gabriel. — Falou baixo. — E que droga de aniversário. — Completou, agora com a voz um pouco embargada.

Era aquilo. Trabalharia como todos os outros dias, ou talvez até mais, porque preferia fazer hora extra a ter que voltar para casa e dar de cara com o marido. Provavelmente não aguentaria se segurar mais e choraria na frente dele, diria que era seu aniversário, que ele simplesmente se esqueceu e que, por aquele motivo, hoje era um dos piores dias da sua vida.

Começaria a chorar ali mesmo, no próprio escritório e em cima do teclado do seu computador, mas batidas fracas chamaram sua atenção para a porta.

Ana Clara fungou e passou as mãos nos olhos, afastando qualquer vestígio de lágrima presente ali. Autorizou a entrada de quem quer que fosse e assistiu a porta ser aberta com cuidado, logo revelando Camila, sua secretária, tentando equilibrar um buquê grande em uma das mãos e uma caixinha em formato de coração na outra, entrando atrapalhada e se aproximando da mesa da chefe.

— Chefinha, presente para você! — Anunciou sorridente.

Clara se levantou, pegando o buquê nas mãos e sorrindo largamente ao reconhecer as flores.

Talvez Gabriel tivesse lembrado que era um dia importante.

As flores eram as mesmas que o jogador escolheu para a cerimônia de casamento deles e, apesar de ser péssimo em escolher roupas para ele mesmo, matando a moda em diversas ocasiões, teve um bom gosto daqueles ao opinar em tudo que se referia ao casamento, e as flores foram uma das ótimas escolhas tomadas por Gabriel. O buquê era formado por rosas de pétalas brancas e o verde vivo das folhas dava um charme a mais em toda a decoração, arrancando um suspiro apaixonado de Ana.

— E tem isso aqui também. — Camila quebrou o silêncio, entregando a caixinha em formato de coração e cheia dos bombons favoritos de Clara. — E isso! — Completou mais uma vez, estendendo um bilhete.

— Obrigada, Cami. — Sorriu e deixou a caixa e o buquê sobre a mesa, pegando rapidamente o cartão.

Observou a secretária acenar e sair da sala, a deixando sozinha novamente. Ana Clara abriu com cuidado o cartão, vendo que se parecia mais com uma carta, e encontrando a letra do marido:

“Acho que nunca te contei o porquê de ter escolhido rosas brancas para o nosso casamento e não nenhuma das outras opções, mas vamos lá: pesquisei o significado de cada uma das flores no Google.

Todo mundo que casa faz isso, tá? Para de rir da minha cara!”

Clara parou de rir no mesmo instante, mordendo o lábio inferior para se segurar e ficando com as bochechas vermelhas ao perceber o quanto o marido a conhecia. Continuou lendo:

“E eu descobri que rosas brancas representam a eternidade e o que existe de mais singelo, inocente e honesto em uma relação. E eu acho que isso tem tudo a ver com nós dois, porque toda a nossa história foi singela, composta de honestidade e também inocência (até a lua de mel, rs), por isso bati o pé e disse que queria que essas rosas fossem usadas no nosso dia. E elas se tornaram as minhas favoritas.

Também descobri que presentar alguém com rosas brancas significa que a gente deseja um amor para a vida toda com a pessoa que vai receber o presente.

Por isso estou te enviando esse buquê. Para dizer que quero que o nosso amor dure a vida toda e um pouco mais.

Eu te amo mais do que tudo no mundo, meu amor. Não gosto de brigar com você e muito menos de te ver tristinha comigo, então me desculpa por ontem e por hoje mais cedo, eu prometo que vou descobrir o motivo desse dia ser tão especial para você. Talvez a outra me ajude nessa missão. :P”

A morena suspirou tristemente ao ler que ele ainda não havia se lembrado que era seu aniversário e logo fechou a cara quando leu a última frase, passando os olhos novamente só para ter certeza de que leu corretamente e fazendo uma notinha mental de acertar o rosto de Gabriel com sua mão quando o encontrasse.

“É brincadeira! Por favor, não pede o divórcio!

Eu te amo!

Obs.: A caixinha de bombom é só para te convencer a me desculpar mais rápido e para melhorar o seu dia. Tenho certeza que está como uma formiguinha atrás de doce.

Obs. 2: Volta mais cedo pra casa hoje, vai. *carinha de cachorrinho abandonado*.”

Ana Clara sorriu. Um daqueles sorrisos largos e que pessoas completamente apaixonadas soltavam. Ainda estava chateada, esperava que o marido se lembrasse e a pedisse perdão por ter esquecido seu aniversário, mas o pedido de desculpas por não saber do que se trata o tal dia especial e a promessa de se esforçar para se recordar, já era alguma coisa. Dobrou a carta com carinho e voltou a olhar o buquê de flores sobre sua mesa, o puxando para perto e cheirando uma das rosas.

Se o amor tinha um cheiro, com certeza era aquele. E o perfume de Gabriel, é claro.

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