É hora, é hora É hora, é hora, é hora

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O “jantar delicioso” de Gabriel era macarrão malcozido e salsichas em um molho salgado demais. Ainda assim, o casal comeu com toda a satisfação do mundo, ainda conversando descontraidamente sobre o jogador fingir esquecer o aniversário da esposa, e Ana Clara diria para todos que aquele havia sido o jantar mais gostoso que ela já tinha comido, mesmo torcendo para jamais ter que repetir, porque o marido era um pesadelo total na cozinha.

— Estava bom? — Perguntou empolgado quando viu Ana engolir a última garfada de macarrão que tinha em seu prato e esperou alguns segundos para escutar uma resposta.

A mulher pegou o copo de água, tomando longos goles e confirmando com a cabeça.

— Uma delícia, meu amor! — Disse quando desocupou a boca.

— Achei o macarrão um pouco duro. — Comentou.

— Imagina, estava ótimo! — Falou rápido e sorriu para ele. — Melhor jantar do mundo. Muito obrigada. — Se inclinou, juntando seus lábios em um beijo breve.

— Eu deveria cozinhar mais vezes, então. — Sorriu, tentando ver até onde ela iria com aquela mentirinha.

Ana Clara fez careta, torcendo para que aquilo não acontecesse.

— É... bom... discutimos sobre isso depois. — Se limitou a dizer, dando um sorrisinho amarelo.

Gabriel riu e negou com a cabeça. Sabia muito bem que ela estava mentindo sobre o jantar estar ótimo, porque ele era horrível cozinhando e teve ainda mais certeza aquela noite, pois quase não conseguiu mastigar o macarrão, porém ficava feliz em saber que a mulher ao menos considerou a tentativa e o esforço dele em fazer algo especial para eles dois, mais para ela, que estava completamente mais um ano de vida.

— Tenho um presente. — Contou, se lembrando.

— Tem?

Ele confirmou com a cabeça, se levantando e retirando os pratos de cima da mesa de centro. Pediu para que Ana o esperasse ali e levou a louça suja até a pia da cozinha, aproveitando para pegar o embrulho na cor verde, uma das cores favoritas da escritora, sobre o balcão, e voltar para a sala de estar, sentando ao lado da esposa e entregando o presente de aniversário.

— Obrigada, amor! — Clara sorriu largamente, o abraçando e sendo rapidamente retribuída.

— Eu espero que você goste. — Disse sincero, olhando ansioso ela abrir cuidadosamente o embrulho. — Comecei a planejar esse presente no seu último aniversário. — Contou.

— Passou um ano preparando esse presente? — Perguntou chocada.

— É, não foi muito fácil. — Confessou e riu de leve. — Você leva mais jeito para isso. — Deu de ombros e Ana mordeu o lábio com força, voltando a atenção para o presente em suas mãos e reparando no formato.

Decidiu não tentar adivinhar. Sua ansiedade não deixaria. Então acabou por rasgar o papel de presente e fazer Gabriel rir pela pressa.

— Um livro? — Perguntou ela, olhando o objeto nas mãos.

Gabi mordeu o lábio inferior, nervoso, e observou o rosto da amada enquanto ela analisava cada canto do livro em suas mãos, até parar na capa e ler o nome. Sorriu ao ler “Rosa Branca”, escrito com letras delicadas na cor branca, que harmonizava perfeitamente com o verde clarinho que era a capa. Mais embaixo, tinha o nome do escritor, “Gabriel Barbosa”.

— Gabriel... — Falou baixo, levantando o olhar para ele, que já a olhava. — Amor, você escreveu um livro?

— Eu tentei. — Sorriu fraco e olhou para o presente na mão dela. Fez tudo depois de muito esforço e pensamentos constantes sobre desistir, e admirou ainda mais a esposa por ser tão boa em uma coisa que, para ele, era complicado até demais. Depois de escrito, foi até a editora dela resolver tudo sobre a correção e o processo de tornar o livro em físico, se certificando de deixar tudo em segredo da mulher. — Não sou um escritor, não tenho talento nenhum para isso, você sabe que o meu lance é futebol, mas eu queria te dar uma coisa especial e eu sei como a escrita sempre foi muito importante na sua vida, então eu pensei...

Ana Clara teve que interromper o marido. Não conseguiu segurar a vontade que sentiu de se jogar nos braços dele e juntar seus lábios no melhor beijo do mundo, tentando agradecer e se declarar da maneira mais profunda com aquele singelo tocar de lábios. Não tinha palavras para dizer o quanto amava aquele homem e o quanto havia adorado aquele presente.

— Eu não acredito que fez um livro pra mim, meu amor. — Sussurrou quando afastou levemente seus lábios.

— É um romance. Como a nossa história. — Contou. — Na verdade, é mais sobre você do que sobre nós.

— É sério?

— Sobre o que mais eu poderia escrever? — Perguntou e a mulher sorriu, o olhando apaixonada. — Você é a minha musa inspiradora.

— Eu te amo tanto, Gabriel. — Se declarou baixinho, sentindo os olhos marejados enquanto acariciava a barba dele. — Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. — Repetiu mais algumas vezes e o encheu de beijos, arrancando uma risada gostosa do jogador, que passou os braços pela cintura dela e retribuiu os beijos, alcançando a boca dela e selando seus lábios novamente.

— Eu te amo muito, minha Clara. — Disse ao se separar e olhar para todo o rosto dela, sorrindo.

— Mais do que tudo no mundo? — Perguntou.

— Mais do que tudo no mundo. — Confirmou e a mulher riu, distribuindo mais selinhos na boca dele.

— Eu quero ver o meu livro! — Falou animada, se sentando no meio das pernas do marido e pegando o presente novamente, acariciando a capa antes de abrir.

Gabriel sorriu, apoiando o queixo no ombro dela e também olhando para o livro, enquanto abraçava a esposa pela cintura. Assistiu Clara folhear a obra dele, chegando à dedicatória e passando as pontas dos dedos ali, como se pudesse sentir as palavras digitadas.

— Para a minha Ana Clara. — Leu Gabriel, próximo ao ouvido da sua mulher. — A minha esposa. A mulher que eu amo mais do que tudo no mundo. A minha rosa branca.

Ana sorriu, levantando o rosto para ele e o olhando completamente sem palavras.

— Esse é o melhor presente do mundo. — Disse baixo. — Obrigada. Não tenho palavras para dizer o quanto eu amei, o quanto você me surpreendeu, o quanto... — Arfou. — Obrigada, amor. — Repetiu e Gabi sorriu.

— Feliz aniversário, meu amor. — Sussurrou, a beijando.

— O melhor de todos! — Afirmou Clara, quando o marido os separou. Ela se aconchegou mais ainda nos braços dele, que se recostou no sofá e aceitou quando a morena o entregou o livro. — Eu quero que você leia pra mim. — Pediu dengosa e Gabriel sorriu.

— Está bem. — Concordou.

Passou mais uma folha no livro, chegando ao capítulo um.

— Nunca fui chegado a flores ou qualquer outro tipo de planta. Na maioria das vezes eu as destruía sem querer enquanto jogava futebol no meio da rua e acabava chutando a bola na direção de algum jardim das casas ao redor. Mas, naquela tarde, quando a vi pela primeira vez, sentada na cadeira de rodinhas atrás da mesa bem organizada e girando de um lado para o outro enquanto cantarolava uma música aleatória sem perceber que havia gente na porta do seu escritório, não consegui não assimilar aquele rosto com a rosa branca mais linda do mundo...

FIM.

Nesta data querida ━━ Gabriel Barbosa Onde histórias criam vida. Descubra agora