Capítulo 3.1-Ternos, Fogos e Tiros.

29 2 4
                                    

Esse caso precisa ser contado de uma forma diferente.
Fato, tudo em Vermelho de Metila precisa ser contado de uma forma diferente.

E dessa vez, não vai começar com a dona da máfia, mas a subordinada dela.

Para muitos, ou nem tanto, estava ali uma das figuras do underworld.
Marisa, Will para alguns, Jaccobo para outros, dependia da má língua que lhe citasse.
Uma mulher ruiva, de fios curtos e olhos verdes oliva, que costuma usar uma roupa em tons verdes e um item estranho para aquele universo de terno ou calça rasgada. Botas, montaria para ser mais específica, de um marrom mais claro. Era como todos conseguiam visualizar aquela pessoa, e ao mesmo tempo que conseguiam, ela era uma lacuna na mente de todos. Já ouviram falar, mas ninguém sabe de onde ela veio ou muito menos onde ela vai, nem quanto ou aonde ela está. Os que conseguem sempre são os grandes, especialmente Jeon Hyuna. Aquela reunião por telão foi boa, pois a ruiva admirava a forma da mais nova agir.

Tudo que era estranho e fora de qualquer coisa previsível cativava Marisa.
Aquele caso principalmente.

Estava se formando em perícia de linguagem corporal quando ficou sabendo sobre a morte de Jeon Jungkook. Anos depois, aquela morena lhe apareceu e dispôs o caso do infame Min Yoongi.

Portadora dos conhecimentos, visou conseguir achar o que precisava facilmente, porém estava equivocada. Os dias se passavam correndo, as noites chorando e para o mundo inteiro, aquele homem não existia mais. Quantas vezes ela não se pegou encarando o laptop em sua mesa e se perguntou exatamente o que deveria fazer? Perdeu a conta consciente disso. O ponto é que ela nunca foi alguém normal, na verdade, estava anos luz da definição disso, por isso nã o agiria como uma detetive normal. Foi o que passou por sua mente enquanto observava a pequena embarcação em direção aquele lugar. Como ela foi parar ali? Não era bom perguntar, mas estava tranquila enquanto subia o rio com um local. Era por volta do anoitecer quando eles chegaram próximos a ilha escondida no leito denso. Encarou o homem que parou a embarcação no meio das águas e ela se abaixou de uma vez quando ele foi morto por um tiro.

Ela manteve os olhos arregalados por um tempo e sobressaltou-se quando acertaram a embarcação com um arpão. Ficou quieta enquanto sentia puxarem a embarcação e mirou sua glock contra a imagem que apareceu, mirando uma doze na sua cara. Os dois se encararam por um tempo e ela se moveu devagar. Era válido ressaltar que talvez o homem não atirou na sua cara pois ela era uma mulher grávida, mas não seria tão misericordioso. Os dois estavam em um silêncio medonho, mas ela questionou.

Min Yoongi?

Ele engatilhou e ela soltou sua arma, erguendo as mãos.

Com calma, homem, que tipo de criatura asquerosa você é para explodir a cabeça da mãe de duas crianças que você vai enterrar? E outra, vai me jogar para eu ser húmus?—Ela falava tão rápido que o home arqueou a sobrancelha. Era muita coisa para assimilar de uma vez.

Dois?—Questionou e ela concordou com a cabeça.—E eu pensando que estava com uma corda no pescoço, você tem duas.

Ela o olhou com tédio e mostrou um distintivo diferente. No lugar do símbolo da policia, estava o símbolo do colar de Hyuna. Extremamente característico e único o suficiente para fazer ele parar, com os olhos brilhando e olhar para a ruiva em questionamento.

Ela se ergueu devagar e jogou a perna para fora do barco, pisando na terra firme e se estabelecendo. Ficou o olhando e sorriu de lado.

Lindo, o homem se isola do mundo mais ainda tem prioridades. Que tipo de muquifo é esse aqui?—Questionou sobre o local e soltou um suspiro, apoiando as mãos nas pernas.—Essa droga toda me deixou com vontade de vomitar. E o tiro me deu uma pontada no útero, faz essa merda perto de mim e eu te afogo nesse rio. Pode-se falar tranquilamente aqui?

Yoongi voltou a apontar a arma para ela e a mesma moveu as mãos, revirando os olhos.

Muito prazer, sou Marisa Will. Detetive contratada por Jeon Hyuna, especialmente para lhe encontrar nesse confim esquecido do inferno úmido-tropical. Que vontade absoluta de me matar, e que mosquito de merda.

Ele ficou quieto quando ouviu o nome da outra ser mencionado. Em leves piscares, já conseguia ver aquela adolescente louca que corria atrás dele com uma faca. Os dois estavam em uma longa batalha de fazer o outro se foder e ela tinha perdido a paciência quando ele abaixou sua saia na frente da gangue inteira. Conseguia ver o irmão dela ficar puto com a confusão e tomar a faca dela. Riu baixo e olhou para Marisa que olhava a cabana onde ele estava morando. Ela era rápida, ele teve que se mover e tentou impedir ela de entrar mas viu sua cara ao notar que tinha uma pessoa morta no chão. Ela olhou novamente e viu que era uma mulher.

Deu os ombros e soltou um suspiro.

Igualdade de gênero, lindo. Então, arruma as coisas e entra no barco.—Ela passou pelo homem e foi para embarcação, se sentando ali e o encarando. Se sobressaltou e moveu a mão.—Anda porra, e é você que vai pilotar, odeio rio e você matou o cara que fazia isso. Rápido!

Marisa e Yoongi.
Tá ai uma dupla estranha.

O moreno fez o que ela mandou, se Jeon Hyuna queria ele, alguma merda tinha acontecido e bem pior do que ele tinha que lidar. Era verdade, o lugar onde estava era uma merda e fazia um bom tempo que ele não vivia em sociedade. Tinha aprendido a matar tudo o que se mexia e a lidar com cobras com mais de dois metros de comprimento no verão, ele precisava sair dali.

Quando ele entrou no barco, a ruiva moveu os pés devagar, observando as botas e depois viu que ele estava lhe olhando.

Eu cobro caro para apreciar, leva a gente para o cais, vamos ficar em um lugar por uns dois dias e depois vamos pegar um carro na rota.

Você planejou que eu iria te aceitar e ir com você?—Perguntou e ela deu com os ombros.

Eu planejei o que eu ia fazer, se você estava aqui e colaborou, o lance é seu. E a Hyuna disse que você não precisava de muita coisa para vir, era só falar dela ou te seduzir. Ainda bem que não rolou, você não faz meu tipo.—Foi sincera e Yoongi moveu a língua dentro da boca, pensando seriamente em pegar a doze e atirar nela.—Liga o motor.

Os dois desceram o rio, Marisa se sentia no Titanic, enjoada e sem saco para homem. Se ao menos tivesse o coração do mar, até valeria a pena. Quando chegaram no cais, ela subiu na plataforma de madeira e estendeu a mão para o outro, o ajudando a subir.

Não era para ser o contrário?

Machista!—Ralhou, o empurrando para andar consigo. Ele revirou os olhos, a seguindo e abaixou o olhar enquanto a seguia no meio daquele lugar agitado. Yoongi realmente não tinha ideia de quanto tempo passou longe daquilo tudo, nem de como havia sobrevivido tanto tempo.

Entretanto, não esperava ver a ruiva se camuflar tão bem em meio a tudo aquilo. Não soube de onde veio o vestido que ela usava e muito menos o chapéu que ela pôs em sua cabeça. Não parou de andar pois percebeu que ela fazia aquilo tão naturalmente que ninguém notava mudar. Quando ele percebeu, estava com uma camisa floral e com a cara de turista. E ela estava ao seu alcance, segurando na mão dele e andando ao seu lado como se fosse sua esposa grávida. Eles saíram daquele mercadão e conseguiram alcançar a rota. A ruiva olhou pelos lados e respirou fundo pegando as pontas do vestido e as puxando de volta para o centro, prendendo com o cinto. Olhou para a camisa floral e a pegou, a virando e vestindo-a novamente. A única coisa que ela não conseguia mudar eram as botas, Yoongi estava impressionado.

Viu ela olhar o chapéu e a mesma sorriu.

Fica de presente, roubei de alguém. Bom, agora é só...—Ela apontou para o carro que se aproximava e andou tranquilamente.

Quando ele parou, sorriu para o homem e viu ele descer, abrindo o carro para ela. A mesma tirou a arma da cintura e deu um tiro tão seco no meio da cara dele que até o assassino de mão cheia que estava ao seu lado ficou atônito.

Nem fodendo que eu vou pedir a epidural. Vai lá, abriram para você.—Apontou com a arma e deu a volta no carro, entrando no lado do motorista. Ela o olhou tranquilamente e viu que ele lhe olhava feio. Estava se fodendo tanto que passou por cima do corpo do motorista, começando a dirigir na rota como se tivesse passado o quebra-molas sem problemas.

A viagem estava silenciosa, Yoongi não quis comentar sobre tudo o que estava acontecendo consigo. Estava ao lado de uma mulher que claramente não era normal e nem tentava ser, ela era como uma bomba relógio com comando de voz. Como se isso fosse possível, porém, fez uma careta sem entender o porquê da mulher começar a chorar ao seu lado. A olhou de cima a baixo, confuso, e ouviu ela se explicar.

Eu amo dirigir em silêncio, obrigada.

Ele forçou um sorriso e acenou devagar. Encostou, hesitante, a mão em seu ombro e bateu levemente, rindo desconcertado. O choro dela parou depois de um tempo e a noite caiu sem medo, eles dirigiram muito, porém tinham que parar de minutos em minutos pois a mulher precisava se aliviar. Yoongi nem tentou perguntar porque ela era independente e não era fresca. Era só esperar e ficar quieto.

Quando foi pela madrugada, chegaram no lugar onde ela havia mencionado. Era um motel barato, eles entraram e ela se comunicou com a portaria, pegando um quarto. Quando eles entraram, ela suspirou e foi para a única cama que tinham ali, se jogando. O homem coçou a nuca e antes que perguntasse, ela avisou.

Você dorme no tapete. Eu vou tomar banho, tem um celular na bolsa e aqui tem wi-fi, é só conectar e ficar na tua. E evita ouvir a foda alheia.—Avisou, o deixando sozinho ali.

Ele riu baixo, negando com a cabeça e pegou o dispositivo, o ligando. Ficou quieto por um tempo, observando a imagem de fundo. Era uma foto de Hyuna, ela olhava para a câmera de forma séria. Estava diferente de quando era adolescente, tinha ficado ainda mais bonita. Ele observou que ela usava o terno preto, o colar, os lábios vermelhos e aqueles olhos estavam o encarando. Ficou perdido naquela imagem por mais tempo que pensou, tanto é que se assustou e escondeu o celular em extinto quando viu a ruiva sair do banheiro. Observou que ela usava um roupão do local e que deitou tranquilamente na cama.

Foi ela quem escolheu a foto, era para você ver o rosto dela mesmo.—Moveu os pés devagar, apertando seus dedos e relaxando. Yoongi voltou a olhar para a imagem e encostou as costas na parede. Por algum motivo desconhecido, os sentimentos apáticos foram indo embora e ele sentia uma sensação morna de conforto, era como se tudo tivesse acabado e ele pudesse respirar.

Olhou para Marisa e questionou baixo.

E os outros?—Se estendeu o silêncio, principalmente porque ela tinha fechado os olhos.—E o Hoseok?

Se tudo der certo, você vai encontrar todo mundo. Só vai deitar e dormir.

Acenou devagar com a cabeça e saiu da cama, se abaixando e se sentando no chão. Aceitou o travesseiro e o lençol que a mulher lhe entregou e se ajeitou, se deitando e se cobrindo. Pegou o telefone, indo nas configurações e colocou para o visor não desligar. Deixou a imagem da morena ali, lhe olhando e ficou observando o rosto dela até conseguir pegar no sono.

A convivência com Marisa foi desenvolvida nos dois dias que eles ficaram ali. No final, a detetive era uma pessoa de gênio forte mas era divertida, além de que muito sincera. A ruiva o arrumou naquele período, o devolvendo a cara de uma pessoa civilizada, porém não cortou seus fios, comentou até que ele ficava mais bonito com eles daquela forma. Os dois assistiram novela juntos, assistiram filmes de romance que eram péssimos e faziam Marisa chorar e também a jogos de vôlei, onde eles sempre torciam para o time oposto, criando uma rivalidade estúpida ali. Ah, e sim, ouviam os outros se divertindo nos outros quartos. Marisa avisava toda vez que alguém fingia um orgasmo, fazendo Yoongi rir sem censura.

Ela era muito louca, puta que pariu.

Eles seguiram viagem e chegaram num local escondido que tinha um helicóptero. Yoongi se surpreendeu e ela questionou.

—No teu tempo era uns passarinho grandão né?—Ele abaixou a cabeça, dando uma risada e negando devagar. Ela viu uma mulher se aproximar, os encarando. Ela olhou para Yoongi e piscou, se movendo com ele para o local.

De noite estariam na Itália, na casa de Jeon Hyuna.
Yoongi usava um terno escuro e estava ansioso, muito mesmo. Eles deixaram o local e a viagem foi longa, o homem observava calmamente todo o trajeto. Amou ver o mar, estava cansado de ver aquelas águas terrosas e estranhas, ele realmente se acalmava ao ver a água azul. As estrelas estavam plenas e belas quando eles pousaram naquele descampado. Yoongi tirou os fones e arfou em pânico, gelado e sem sentir as pernas. A ruiva ficou o esperando fora do local e chegou a perguntar.

Precisa de ajuda ai?

Me dá só um tempo, por favor.—Pediu e soprou o ar de seu peito, tentando parar com aquilo. Sentiu dificuldade de engolir a própria saliva e o coração estava disparado. Fechou seus olhos, sentindo tudo o que passou voltar a sua mente. Os dias amarrado em uma cadeira, sendo torturado. As noites com o rosto contra o concreto frio, sem poder se mover, os golpes.

Yoongi ofegava e se tremia. A ruiva o olhou e encarou o local.

Estava tudo vazio, porém tinha uma figura de pé, encarando ao longe. Marisa ficou quieta, notou que a morena estava tentando entender se ela tinha voltado sozinha ou se tinha trazido um cadáver consigo. Ela olhou para o homem e segurou em seu ombro com força, fazendo ele abrir os olhos e lhe olhar.

O tempo acabou, turista. Desce que a Hyuna tá esperando.

Ele ficou olhando nos olhos verdes dela por um tempo e se ergueu, descendo do helicóptero. Seu olhar subiu devagar e ele viu Hyuna ao longe, lhe olhando.

Começou a andar devagar na direção dela. O mundo acontecia ao redor dele mas estava apático de tudo, só conseguia focar naquela figura. Ela não se movia, não mudava a posição, parecia não respirar e se piscava, fazia tão rápido que era imperceptível. Quando ele realmente se aproximou, a morena moveu a mão devagar, apertando no dispositivo que fez os fogos de artifício saírem em raio e explodirem em vermelho no céu.

Ficaram se encarando e Hyuna andou devagar na direção dele. Ficou olhando em seus olhos quando ela estava perto de si e ela parou, perto o suficiente para ele sentir seu perfume. Existiam muitas palavras para aquele momento, a mente de Yoongi não parava, mas se quebrou quando ela sorriu de lado, sem mostrar os dentes. Notou agora que tocava Amy e realmente, ele estava de volta ao luto, de volta a tudo que achou que perdeu. Ele estava ali. Quando o piano voltou a tocar, Hyuna lhe envolveu por baixo dos braços, sem pedir permissão alguma para lhe tocar.

Lembrava da época que eles rolavam pelo chão se batendo.
Gritando palavrões e palavras que machucam.
Não acreditava que quem estava lhe abraçando era a mesma pessoa.


Devolveu o abraço aos poucos, pois não sabia se podia deixar todos os sentimentos fluírem, mas a medida que ele foi se entregando, foi apertando ela contra seu corpo até afundar o rosto em seu ombro, segurando a cabeça dela contra seu peito em uma forma silenciosa de dizer que não queria que ela fosse embora, nunca mais. A morena fez carinho em suas costas, o acalmando aos poucos e eles se fecharam naquele casulo. Hyuna estava com saudades, por mais que ela fosse aquela figura de mármore, em meio aos ternos, fogos e tiros, ela ainda era aquela mulher que fez revirarem o mundo atrás dele.

E aquilo era somente o começo da volta do Vermelho de Metila.

Vermelho de MetilaOnde histórias criam vida. Descubra agora