PARTE 3

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Noite alta de terça-feira.

Eu já estava na estrada há mais de uma hora, eu tinha certeza.

Delizando sobre o asfalto em cima da minha Triumph eu me sentia bem melhor do que quando estava na bicicleta de entregas de cada dia passando por aquelas mesmas ruas apinhadas de veículos diversos na hora caótica do rush. Mas passar por ali às duas e meia da manhã era completamente diferente, mais tranquilo, menos tráfego e muito mais fresco. O sol de verão que fazia ferver as calçadas deixava uma assinatura de calor leve subindo pelo chão que eu só podia sentir quando parava no sinal vermelho. Fora isso era só o vento frio no rosto, e o velocímetro acima de cento e setenta por hora.

Era só assim que eu conseguia relaxar normalmente. Porém depois do que houve naquela última sexta-feira nem mesmo a baixa temperatura da madrugada conseguia fazer meu corpo esfriar. Eu apertava demais o guidão, do mesmo jeito que apertei as bordas da mesa. Respirava num ritmo pesado lembrando da voz dele dizendo que queria me comer. Meu abdômen se contraía com a lembrança da mão dele me acariciando.

Que droga, David!

Por pura raiva elevei a velocidade da motocicleta ao máximo, os carros passando por mim como flechas nos dois sentidos, as luzes dos túneis refletidas no tanque. Eu estava indo rápido demais, excitada demais de novo quase como se ele estivesse ali comigo, sentado na minha garupa apertando minhas coxas e me provocando além do limite. Forcei o motor até o último estágio, além dos duzentos e trinta por hora sentindo a adrenalina novamente correr solta pelo corpo. Exatamente como o orgasmo destruidor que ele me deu.

Um som tímido acima do vento chamou minha atenção no painel da moto, a luz vermelha piscando indicava que o tanque estava completamente vazio. Senti a moto diminuir aos poucos depois que saí do túnel e comecei a guiá-la com o resto de potência à procura de um posto de gasolina.

Que furada...

Parei praticamente numa vizinhança desconhecida e meu único consolo era que tinha sido perto de um bar. Alguns carros estavam parados à porta, uma picape preta enorme e um carro pequeno popular, pensei que talvez se eu pudesse achar o dono de um dos veículos pudesse comprar alguns litros da gasolina suficiente para volta pra casa. Eu sempre lembrava de abastecer toda noite antes do meu "passeio", mas nesses últimos dias estando tão distraída com a maldita sexta-feira acabei me esquecendo. Assim como quase me enfiei com a bicicleta embaixo de um ônibus ontem por ter migrado os pensamentos de novo para aquela foda.

Balancei a cabeça antes de entrar no bar abrindo o zíper da jaqueta de couro que me protegia do frio e ao atravessar as portas todos os cinco pares de olhares masculinos no balcão e nas mesas se viraram para mim. Mesmo estando coberta com a minha calça jeans, minhas botas, minha camisa vermelha do Star Trek e o casaco fiquei um pouco incomodada sendo o centro das atenções.

Me aproximei do balcão onde o barman secava copos com um olhar moroso de final de expediente, ele era mais velho e tinha uma aparência receptiva embora estivesse cansado. Quase me arrependi de ter perguntado:

— A picape lá fora é sua?

Antes que o homem atrás do balcão respondesse, outra pessoa o fez:

— É minha.

Apertei os olhos no momento em que a voz chegou até os meus ouvidos e quando abri os olhos acompanhei a figura enorme de David Harbour saindo do banheiro com as mãos nos bolsos do casaco grosso.

Só pode estar de brincadeira comigo...

Eu sabia que ele tinha uma picape, pois já a tinha visto estacionada em frente ao prédio dele, mas no primeiro momento eu nunca poderia ter associado os dois veículos. E de quê importa a porra do carro? Eu senti um calafrio subir por baixo da pele e minhas mãos começarem a suar de puro nervosismo quando ele parou muito perto de mim. Seus um e noventa de altura contra os meus um e sessenta e oito eram uma baita diferença.

Kinky Friday - Uma fanfic de David Harbour.Onde histórias criam vida. Descubra agora