Parte 5

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Eu nem havia percebido a chegada do domingo, e mesmo que só tivessem se passado quarenta e oito horas desde aquela sexta-feira no tapete vermelho a sensação era de ter se passado eras desde que saí do banheiro deixando David sozinho e sem nenhuma palavra final. Ainda me doía lembrar de cada detalhe de todos os segundos depois que ele saiu de dentro de mim ofegante. Eu podia jurar que ele estava trêmulo enquanto ainda me segurava firme com a fronte encostada na minha nuca, soprando quente e úmida. Lembro-me de como com tanta calma eu me vesti da melhor postura que conseguia, reunindo o restinho de dignidade que ainda possuía para ajustar minhas roupas e tentar fazer o meu cabelo parecer com o mesmo com que eu entrei na festa. Ele fechava as calças e ajeitava o terno olhando para mim através do espelho como se estivesse apreensivo, esperando o que eu faria a seguir. Eu só me concentrei em consertar a maquiagem um pouco borrada e retocar o batom usando o momento para me preparar para o que diria. 

Caminhei para a porta enquanto ele ainda tentava limpar o meu batom da barba, a destranquei e com toda a seriedade possível disparei as palavras mais difíceis que já tive que dizer:

— Isso não vai acontecer outra vez. Espero que tenha massageado seu ego masculino já que vai trepar duas vezes essa noite. Adeus, David.

Lembro de não ter esperado uma resposta, de ter simplesmente caminhado o mais rápido que podia para conseguir me misturar aos convidados e sair discretamente depois de me desculpar com Cindy. David não poderia sair logo em seguida, levantaria muitas suspeitas e isso me deu uma janela de tempo larga para deixar o prédio e ir até a rua pra conseguir um táxi. 

Chorei no banco de trás a caminho de casa, torcendo para que o motorista não visse.

E todos os momentos que passei desde que cheguei em casa pareciam se arrastar iguais. Afundados na mais profunda divagação sobre David, sobre o sexo, sobre o meu orgulho ferido de ter fodido com ele no banheiro já sabendo de seu relacionamento. Imaginando como ele deveria ter transado com a namorada depois da festa. Eu me sentia uma vadia, e não era do jeito bom. 

O pior era sempre sentir um arrepio subir pela pélvis sempre que pensava nele quase como se ele estivesse se arrastando debaixo da minha pele. Quando se põe fim a algo tão marcante a gente costuma pensar no começo.

Deitada na minha cama com a iluminação quase escassa dos postes lá fora e ouvindo o som da chuva torrencial caindo sobre Los Angeles acompanhado da ventania tão familiar, eu não conseguia parar de reviver cada detalhe de David Harbour. O escritório... Suas mãos, seu tamanho, o maxilar linear e tão sexy coberto pela barba castanho claro. Os olhos ferozes e sombrios se fechando quando ele sentia prazer, comigo, se afundando no meu corpo. Eu sentiria falta daquilo. Na verdade já estava sentindo falta dele, mas meu ego ferido transformava aquela saudade na pior tortura. Eu estava excitada, mas também queria chorar. Eu queria o David, mas também não queria que isso custasse mais à minha dignidade.

Se aquilo não era a definição perfeita de fundo do poço, eu não sabia o que mais poderia ser. Era simplesmente horrível, a dor e o peso nos pulmões, a cabeça ardendo com as lembranças da boca dele dominando a minha. Eu podia ter certeza que nunca mais seria beijada daquele jeito por outro homem, e já que tudo o que eu teria dali em diante eram memórias levei uma das mãos até o meio das pernas deslizando os dedos suavemente sobre o tecido da calcinha, fingindo serem os dele. Os trovões ressoavam acima do barulho da chuva e já podia sentir a temperatura ambiente cair um pouco mais, já a minha, subia aos poucos quando meus dedos se esgueiraram para dentro da peça. Usava até mesmo a textura dos lençóis para simular o contato com o corpo de David.

Abri os olhos. Não dá.

Interrompi imediatamente a atividade sentindo nada além de frustração e tristeza por estar fantasiando com um homem que eu nunca mais colocaria as mãos. Ergui o corpo da cama sentindo as lágrimas escorrerem sem meu consentimento, fazendo meus olhos arderem, e imediatamente saí do quarto como se minha vida dependesse disso. Parei na cozinha, abrindo um dos armários.

Kinky Friday - Uma fanfic de David Harbour.Onde histórias criam vida. Descubra agora