azar ou destino?

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Dizem por aí que maus dias não existem, mas Minjeong podia afirmar com os pés juntos que não somente o seu dia estava péssimo como também a semana inteira.

Para começar, há dias ela tentava dormir em paz e no conforto do silêncio de seu apartamento, porém ao receber um vaso de plantas de presente da própria mãe, recebeu de surpresa um grilo insuportavelmente barulhento que cantava de maneira incessante todas as noites até o amanhecer. No início da semana um de seus sapatos favoritos descolou da sola, e além disso, horas antes de ir para a faculdade um filhote de barata passou em cima do único almoço disponível em relação ao tempo que tinha antes de sair de casa.

Agora, além de sonolenta, a estudante de T.I estava faminta, com apenas meia xícara de café no estômago, afinal foi a única coisa que pôde fazer sem que perdesse seu horário, num metrô completamente lotado e com um mau pressentimento digno de dar pontadas em suas entranhas.

O que alguns chamavam de paranoia, Minjeong chamava de intuição, e a sua dizia em alto e bom tom que receberia uma péssima notícia a qualquer momento. Raras eram as vezes em que ela falhava, e por isso a mulher tinha tanto medo do que estava por vir. Não que ela permitisse tornar-se refém daquele sentimento; muito pelo contrário, a Kim utilizava de tal premissa para se preparar para futuros imprevistos.

Inquieta e entediada, pegou o telefone em seu bolso para checar as mensagens que até então não haviam sido checadas, rolando algumas conversas irrelevantes em alguns grupos da faculdade e dos amigos. Seus olhos insistiam em fechar por frações de segundo a mais que o normal de um simples piscar, denunciando que o café provavelmente ainda não teria dado efeito. Ou talvez o sono estivesse ganhando naquela épica e árdua batalha travada entre ele e a pequena quantidade de cafeína ingerida.

E era óbvio que Minjeong acordaria assustada com o aviso sonoro do metrô que informava a chegada à última estação da linha. Sequer percebeu que ou quando fechou os olhos e cochilou. E também era óbvio que o mesmo cochilo acabaria saindo um pouco caro para ela.

O ponto de descida ficava a duas estações atrás.

Ofegante e mais cansada do que quando havia saído de casa, Minjeong finalmente pisou os pés no complexo de tecnologia da universidade, que mais parecia um formigueiro devido a quantidade de alunos que circulava pelos corredores. A mulher precisou correr dentro da estação para pegar a linha de retorno antes que perdesse mais tempo ainda tendo que esperar outro metrô, e também correu ao chegar no campus – a última coisa que precisava era chegar atrasada na disciplina de segunda-feira, na qual o maldito do professor contava presença nos primeiros minutos de aula.

Aumentando o compasso, a adrenalina advinda do terror de receber uma falta mesmo após gastar dinheiro com passagens dissipou-se ao que Minjeong encostou a mão na maçaneta da porta da sala e entrou.

— Kim Minjeong! — um homem relativamente baixo, calvo e de cabelos brancos chamou, seus olhos estavam tão concentrados na prancheta em suas mãos que sequer repararam a morena sentando de modo sorrateiro numa das cadeiras no canto da sala de aula.

— Presença! — a Kim suspirou de alívio ao ver o professor riscando seu nome no papel de chamada e começou a se preparar para as próximas horas de aula, mas antes de conseguir tirar o notebook da mochila, recebeu um cutucão no ombro esquerdo.

— MJ! — sussurrou uma mulher loira que estava sentada atrás de Minjeong, que logo reconheceu o tom de alarme presente na voz alheia.

Ryujin não perdia tempo para chamá-la, pensou a morena, mesmo sabendo que aquele tom não era comum vindo justo dela. A Kim poderia facilmente dizer que sua colega de classe e amiga era a pessoa mais calma que conhecia, depois dela mesma, então aquele comportamento acabou a preocupando.

DUOGAME | WinrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora