Oi!

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Isabella estava nervosa, Edgar ligou mais cedo e disse que se atrasaria um pouquinho pra consulta e Bear era seu primeiro paciente do dia, consequentemente ver Edgar agora atrapalharia todo o rendimento do seu trabalho.
O porquê ela não sabia, mas se perguntava a todo instante o que ela faria ou diria quando o visse. O que ele pensaria quando a visse? O que dirá a ela ou como será que ele reagirá ao reconhece-la? E o pior de tudo, como ela ficará depois da consulta? Tinha outros pacientes que precisavam dela.
"Bobagem, ele não deve nem se lembrar da louca que atacou seu cachorro no meio da rua. Humpf, ele não deve nem ter reparado em mim... Por que é que estou tão... assim? Puff."
Respirando fundo, ela deu voltas pela clínica até que Irina a avisou que o tutor, junto do animalzinho, a aguardava no consultório. Respirou fundo de novo três vezes, uma mania que ela adquiriu com Rosa pois sempre que estava nervosa, a loira mandava ela respirar fundo 3x e se jogar de cabeça no que tinha que ser feito. Deixando uma Irina confusa pra trás, ela caminhou com passos firmes até sua sala.

Estancou na porta sem saber se entrava de uma vez, se batia pra não o assustar ou se... Não tinha mais opções rondando sua cabeça naquele instante. Olhando pra porta sem saber o que fazer e com as mãos suando de nervosismo, ela optou por abrir só uma brecha da porta e olhar.
De cócoras brincando com seu cachorro, Edgar não notou a doutora o observando em silêncio, ele estava simplesmente deslumbrante com os cabelos bagunçados, uma blusa xadrez que parecia estar aberta pois Bear mordia com vontade um pedaço do pano que caia sobre seus curiosos olhos caninos, e uma calça jeans preta surrada.
Bella adorava ver os cachorros interagirem com seus donos, era assim que ela sabia como eram tratados, se gostavam dos seus donos, era... Mágico pra alguém apaixonada por animais como ela, mas o fato dele olhar constantemente seu relógio a frustrou um pouquinho, por que ele estava com pressa? Será que estava irritado com a demora ou teria um compromisso depois da consulta?
"Aposto que tem mulher no meio."
Isabella revirou os olhos, saiu da sala de fininho, pegou a prancheta com as informações do Bear e fingiu entrar distraída na sala.
— Bear, vira-lata, quinze quilos... Aparentemente com idade adulta, mas não se sabe exatamente quantos anos... — Ela desviou o olha da prancheta em sua mão e olhou em direção a um cara completamente espantado com a mão parada na barriga do animal.
— Era você! Eu sabia! Eu vi você no parque hoje cedo! Caramba!
Agora foi a vez de Isabella agarrar-se a prancheta e ficar espantada enquanto Edgar segurava se para não pula e correr pela sala como uma bendita criança de nove anos que ganhou o presente que tanto pediu (implorou) ao papai Noel.
— Eu até corri atrás de você, mas fiquei com medo de você chamar a polícia e tudo mais, oh meu Deus, melhor eu calar a boca, você deve estar achando que eu sou um lunático perseguidor. — Ele respirou fundo tentando voltar ao seu estado de controle anterior, se é que poderia chamar aquilo de controle. Isabella riu do nervosismo do rapaz a sua frente, mas riu principalmente por ter ficado preocupada em revê-lo, ele estava mais nervoso que ela. Isso era encantador.
— Não! Não se preocupe! Não te acho um lunático perseguidor. — Se apressou em dizer e pigarreou ficando séria, era hora de fazer seu trabalho, a conversa ficaria pra outra hora — Então, Sr. Castro, o que esse rapazinho tem? — Perguntou se aproximando mais deles.
— Mmm... Ele estava meio abatido nessas últimas semanas, não brinca, esta sempre deitado pelos cantos, as vezes choraminga na hora que eu vou deitar... E ele sempre foi tão esperto e alegre, eu fiquei meio alarmado quanto a isso, mas ele agora aparenta estar bem melhor.
— O senhor fez bem em trazê-lo, vamos medir a temperatura, deve ser alguma virose... Ele tem feito suas necessidades? — perguntou enquanto media a temperatura do animal.
— Por favor me chame de Ed, é meu apelido, mas isso é meio obvio que é meu apelido, né? Enfim, — diz ele voltando a focar no atendimento do Bear. — Ele tem sim feito suas necessidades.
— Bom, aparenta estar tudo ok, mas vou fazer um exame de sangue pra ter certeza. — Ela sorriu pro cachorro todo estabanado, ele parecia muito feliz com a presença dela, mas até do que Edgar se duvidar.

Não. Ele apenas estava mais contido que Bear, mas queria estar fazendo o mesmo. O cachorro corria, e se jogava nos braços da Bella, não parecia nem um pouco com o cachorro abatido de outrora.

— Hm, doutora?
— Me chame de Bella... Digo, Isabella.
— Então, Bella, digo Isabella, como ia dizendo, seria possível que Bear estivesse doente por... Saudades? Sei lá, de uma amizade que ele fez por essas movimentadas ruas da cidade? — ele sorriu sem jeito e Isabella corou desviando o olhar.
— Você acha que Bear está com saudades de algum cão ou cadela que ele viu por aí?
— Sinceramente? Poderia até ser... Mas eu prefiro a segunda opção. — Ele botou às mãos no bolso e chutou uma pedra invisível.
— E que opção seria essa? — Franziu a testa tentando, verdadeiramente, acompanhar o raciocínio dele.
— Eu sei que isso é bem louco, mas eu acho que Bear estava com saudades de você, doutora... — Isabella o encarou em silêncio sem saber como responder. Não. Não é possível. O coitadinho nem a conhecia, só a tinha visto uma vez! Incomodado com o silêncio, Edgar resolveu jogar a bomba de uma vez e ver no que daria. — Bom, sei que aqui não é o lugar ideal, e nem o que eu esperava fazer, mas...
Edgar se perdeu em pensamentos procurando as palavras certas, ele não queria assustar a moça e perder sua única chance. Teria que ir com calma, porém ele nunca foi do tipo que pensa dez vezes antes de agir, ele vai lá e faz, e o que acontecer, aconteceu. Contudo, dessa vez é diferente, não quer agir de maneira impulsiva e parecer irresponsável e imaturo.
— Eu... Eu me encantei por você aquele dia, Doutora Silvana, eu juro que até voltei aquele lugar mais vezes esperando te encontrar! — ele riu — mas como o universo me odeia, você nunca estava lá. Eu vou ser direto e ir ao ponto... — Encarando todos os cantos daquela sala, menos Isabella, ele disse: — Eu não sei se você acredita em amor à primeira vista... Não, amor é uma palavra muito forte..., mas eu ainda não tenho nome pra aquilo... Que aconteceu... Sabe? Quando eu te vi pela primeira vez... Eu vou direto ao ponto, apesar de ser a segunda vez que afirmo isso — ele riu de nervoso. — Você quer sair comigo? Digo isso com todo o respeito do mundo, mas se você não quiser não tem problema, eu vou entender, eu só achei que seria legal a gente sair como amigos e se conhecer melhor e tudo mais.
— Eu não sei Edgar, não é uma boa ideia. Me desculpe, mas eu vou ter que recusar.
— Só um café? Prometo que não tentarei nada.
— Eu vou pensar com carinho na sua proposta, agora eu preciso levar essa coleta pro laboratório. — Ela balançou de leve o vidrinho com o sangue do Bear.
— Eu não quero parece insistente, mas nós já sabemos o que Bear tinha... Que tal a gente comprar dois sorvetes e levar Bear pro parque. Vai ter um monte de gente e você pode fugir a hora que quiser. — Ele levantou sua mão direita em um gesto de juramento dos escoteiros. Isabella riu achando ele um bobo, mas um bobo insistente que provavelmente não iria desistir enquanto não conseguisse o que queria.
— Tudo bem, com uma condição.
— Manda. — Ele secou suas mãos na calça pela milésima vez desde que começou a falar.
— Eu escolho o dia e o lugar e você tem que levar o Bear. Em nome da recuperação dele.
— Combinado! 

Foi assim que tudo começouOnde histórias criam vida. Descubra agora