Carta 1,
31 de Agosto de 2022."Love you to the Moon and to Saturn
Passed down like folk songs
The love lasts so long"
— Seven, Taylor Swift💌
Uma vez, eu li em algum lugar, que são sempre as primeiras vezes que nos marcam. São elas que moldam um crivo criterioso para as nossas outras infinitas vezes em experiências comparativas.
Desde o primeiro segundo em que pus os meus olhos em você, sabia que o brilho neles poderia ser visto até pelas estrelas.
Os seus pés dançantes, correndo pelo palco, e a voz de um jovem eu-lírico apaixonado; a imagem rodopiando em estéreo por uma tela que mostrava o passado. Observava uma criatura, ainda desconhecida, tomando cor e profundidade, quase como algum tipo de matéria tridimensional, escapando vívido pelo ciclorama da TV.
Eu ainda me lembro como foi difícil desviar a minha atenção para qualquer outra direção. Parecia até que estava incitando os seus feitiços de amores impetuosos e arrebatadores, com as letras cravejadas em seu grimório secreto, agora, percorrendo frenéticas e revirando as frases mágicas em outros milhares de corações.
Vê-lo ali, em frente aos meus olhos — mesmo que com a barreira proibitiva de uma tela, e os quilômetros marcados por linhas invisíveis em mapas geográficos —, era como se as sensações do meu corpo se tornassem amplificadas, avultando um sentimento inexplorado em ondas elétricas à flor da pele.
A sua frequência interna vibrava em mim feito uma canção que ainda não havia sido escrita. Você dançava e o meu corpo se movia em sua direção, como se estivesse me controlando com um fio imaginário emaranhado nos seus dedos. E eu gostei de poder sentir o meu coração vibrando no seu ritmo, como se um carnaval só seu colidisse a minha alma em cadência lírica.
Eu gostei de quando você me tirou do único eixo seguro que segurava os meus pés em terra firme. Um campo de força magnética me empurrando para o meio do espaço infinito, enquanto eu me agarrava, com as pontas dos dedos, no som bonito da sua voz — um meio oculto de salvação que encontrei nas suas partituras.
E, então, eu saberia que Jungkook havia sido o meu primeiro.
Um amor à primeira vista, não demorando para se tornar uma paixão às vistas de todo o sempre. E, para sempre, eu faria parte de uma geração inteira apaixonada por você e o seu eu-lírico doce.
Essas eram as palavras que eu guardei por todo esse tempo nas profundezas do coração, como um souvenir secreto e sagrado. As palavras que eu gostaria de ser capaz de sussurrar em seu ouvido e contornar em seus cabelos feito pequenas flores. Mas eu sei que elas nunca chegarão até você, muito menos essa carta. E está tudo bem, de verdade. Porque, mesmo assim, eu só queria dedicar um pouquinho dos meus dias refletindo sobre o que eu sinto por você, e sobre como o seu amor me mudou completamente.
É que, depois de todos esses anos depositados e atrelados em um único sentimento eterno, e o mais puro que eu já senti em minha vida, me peguei pensando sobre as palavras embaraçadas que eu já dediquei à você, Jungkook. Todas as tentativas de textos proféticos e outras prosas poéticas rabiscadas nos meus diários.
Desde o começo, pude encaixar você em todos os paralelos fictícios de romances saudosos que desabrocharam nos meus jardins. Você sempre estava lá, Jungkook, entrelaçado em todos os meus universos já criados; era como se os fios condutores que você atou ao meu coração enroscassem as costuras no seu encalço, sem qualquer limiar para exorcizá-lo de seus encontros cármicos — os folclores do imaginário moldados com todos os tipos de amor que um coração é capaz de sentir.
Você se emaranhava pelas linhas e se pendurava nas minhas vírgulas. Era irrefreável.
E, com toda a poesia que você me deu, marcadas nas palmas das mãos feito linhas vermelhas imaginárias, eu pude conjurar, em uma alquimia mágica de palavras, outras versões de você que sempre chamaria de minhas. Eu transcrevi tudo aquilo o que te pertencia por direito: minha alma e o meu coração, por completo.
Mas, em todas elas, eu esculpi as análises minuciosas sobre a doçura dos seus olhos e o dourado do seu mundo envoltas pelos olhares de outros amantes — um amontoado de energias soltas, projetadas em um receptáculo roteirizado para a segurança de um anonimato. A minha parte mais intrínseca e mais sagrada, enclausurada ao pacto de uma outra alcunha nas entrelinhas.
Em todos esses anos, eu te amei apenas por outros olhos, corpos e corações, Jeon.
Por isso, desta vez, eu queria que isso fosse algo só meu para você. Apenas o meu coração amando o seu, sem a voz de um personagem perpassando pelos pensamentos e transcrevendo o meu amor no preto e branco por outras mãos.
Queria que as metáforas honestas — as minhas tentativas de prescrições exatas sobre as suas minúcias — fossem postas no papel com a mesma sinceridade da minha investigação laboriosa.
Tudo o que era sobre você. Desde o jeito em que jogava a sua cabeça para trás, enquanto o riso doce de criança soava condensado pelos tímpanos. Quando os seus olhos tornavam para o alto e, em todos os atos finais de um concerto, observavam os fogos de artifício disparando os seus milhares de fulgores em coloridos-hipnotizantes com o mesmo transe curioso e infantil de quem observa o amontoado de explosões multicoloridas pela primeira vez.
Ou, então, quando as suas bochechas inflavam feito as de um filhote de coelho enquanto comia; os seus olhos se arregalavam de uma maneira fofa cada vez que levava a colher até a boca, e as sobrancelhas bonitas se franziam, como se estivesse irritado, mesmo que, no fim, você estivesse fazendo alguns outros barulhinhos bizarros de aprovação.
Era sobre essas manifestações triviais e inconscientes que seu corpo perfomava. Cada detalhe banal e constante que gostava de destrinchar em uma superanálise, e que faziam parte de você. Tudo o que faz você ser o que é: um pequeno milagre, que conectou milhares de existências em um único elo, e fez com que uma propulsão crescente de um sentimento, jamais descoberto antes, pudesse florescer em outros corações.
Talvez, esta seja, de fato, a sua primeira vida, Jungkook. E eu desejo, de todo o meu coração, que você aproveite essa e todas as outras vezes em que o seu espírito encontrar novos ossos.
Feliz aniversário, Jun.
— Com todo o meu amor, J.
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Querido Jeon.
FanficAinda me lembro perfeitamente de sua chegada: uma paixão arrebatadora por um coração ainda desconhecido, que tornou-se em palavras embaraçadas e tentativas de textos proféticos e outras prosas poéticas rabiscadas nos meus diários. Uma propulsão cres...