Capítulo I

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(Música: As quatro estações, Legião Urbana.)



Ainda que eu falasse

a língua dos homens

e falasse a língua dos anjos,

sem amor

eu nada seria.


(Monte Castelo - Legião Urbana)



Quando acordei no dia seguinte, demorei algum tempo para perceber onde estava. Minha mente, nublada e confusa, reagia como se eu estivesse despertando de um longo período de amnésia. Pelo menos, era assim que eu me sentia naquela manhã. Olhei ao redor, constatando que estava em segurança no meu quarto, deitada na minha cama e perguntei a mim mesma por que aquele cenário tão habitual parecia como que em descompasso com alguma coisa. Era como se nada daquilo fizesse parte da realidade.

Levantei-me lentamente, sentindo meu corpo pesado como chumbo e a cabeça bastante dolorida. Raios... Por que estou assim tão mal? E foi quando saí da cama e pus os pés no chão frio que todas as lembranças voltaram de uma só vez, como uma onda gigantesca, um tsunami que invade a praia carregando tudo em seu caminho. Thomas... Suas revelações fantásticas... Suas verdades quase inacreditáveis e assustadoras... Thomas, meu namorado, o amor da minha vida, que confessara não pertencer de verdade a este mundo...

Senti um pouco de vertigem e deitei-me de novo, olhando para o teto. A consciência de tudo que havia acontecido nas últimas horas me sufocava. Então, eu não tinha sonhado... Era tudo verdade. Pelo menos, a conversa que tivéramos era verdadeira. Ou seja, tudo aquilo de que eu me lembrava acontecera realmente, todas aquelas palavras haviam sido mesmo ditas. As cenas começaram a se desenrolar na minha mente como um filme, e o grande problema residia no fato de que ali eu não era uma mera expectadora, mas uma das protagonistas da história. Porém, sem direito a prêmios ou medalhas, mas tão somente à incerteza do presente e do futuro, que agora me parecia composto praticamente por portas fechadas, que eu não tinha certeza alguma se deveria abrir. Ou não...

Fechei os olhos. Contudo, a cena da bizarra conversa entre Thomas e Claudia, que eu "assistira" sem querer, não saía do quadro principal da minha memória e ainda era chocante demais para que eu quisesse revivê-la, de modo que me obriguei a levantar. Eu precisava urgentemente de um banho. Na noite anterior eu tinha praticamente me jogado na cama de qualquer jeito, completamente exaurida e tonta. Logo, voltar ao normal tomando um longo banho era o mínimo que eu devia a mim mesma.

Cerca de meia hora mais tarde eu estava finalmente me sentindo melhor, mais ou menos pronta para encarar a vida cotidiana e a minha família. Olhei o relógio, era quase meio-dia e certamente todos estavam em casa, eu podia ouvir as vozes ecoando do lado de fora do meu quarto. Respirei fundo e abri a porta.

Quando cheguei à sala, meus pais me olharam ao mesmo tempo e Vivian, que estava sentada no chão brincando com Little Thor, levantou-se na mesma hora e correu na minha direção.

- Bia, até que enfim! - Ela quase caiu ao me abraçar e eu consegui segurá-la pela roupa.

- Cuidado, Vi. Bom-dia pai, bom-dia mãe.

- Bom-dia - respondeu minha mãe com a cara fechada. - Pensei que não ia mais acordar.

- Dora, ela está de férias - emendou meu pai, sempre apaziguando tudo. - Bom-dia, filha.

Prometidos - Para o bem e para o mal (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora