A primeira carta

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A primeira carta chegou quando Diluc estava no Vale de Ardravi.

Ele caminhava de forma distraída, o olhar perdido no horizonte, enquanto seus pés se afundavam na relva esverdeada daquele que era um campo aberto, área extensa e desabitada pertencente a uma das várias florestas no interior de Sumeru.

Depois de vários minutos naquele arrastar de passos, andando sob o sol em busca de alguma forma de conseguir um transporte discreto e que se adequasse às exigências de Diluc, o suor já se acumulava na testa do garoto, formando uma camada leve que umedecia gradativamente os fios de sua franja ruiva.

O espadão tinha começado a pesar um pouco mais em suas costas, e as roupas — em especial o sobretudo — pareciam quentes demais para o clima primaveril do ambiente, mas Diluc tomou fôlego ao se lembrar que aquilo se manteria só até onde as flores e os lagos límpidos de Fontaine apareceriam, tomando conta da paisagem. Depois da nação Hydro, em algum ponto de sua jornada, Diluc também acabaria chegando na gélida Snezhnaya.

O frio de Snezhnaya, segundo as histórias que ouvira, era grave e impetuoso. Tal temperatura amena assustava até mesmo os típicos comerciantes que costumavam avançar pelo território em busca de fazer dinheiro, vendendo velharias ou tecidos luxuosos armazenados em suas carroças. E apesar dos rumores que circulavam pela taverna de Mondstadt, a respeito de pessoas que frequentemente perdiam suas vidas em meio a toda aquela nevasca exagerada, Diluc não estava preocupado.

Não era como se algo realmente o fizesse desistir de seus objetivos, da vontade honesta, o desejo genuíno de se vingar pela morte de seu pai que ardia em suas veias, intenso e amargo, acompanhado pelo anseio em saber mais sobre a tal "Ilusão" provinda dos Fatui.

Durante toda a sua viagem até ali, Diluc tinha traçado um perímetro. Tinha feito algumas anotações, adotando linhas de pensamento, fragmentos de mapas, bilhetes secretos capturados na calada da noite, qualquer evidencia que o norteasse em busca de um plano melhor. Naquele momento então, Diluc estava tão focado em organizar suas ideais, pensando em como passaria por cada uma das maquinações sujas por trás daquele país, que quase não notou a aproximação sutil de uma águia às suas costas.

A ave de penas marrons e brancas desceu pelo céu e ganiu de forma aguda, chamando a atenção do dono poucos instantes antes de pousar no braço dele — garras afiadas quase furaram um buraco no tecido avermelhado.

Diluc observou o processo, olhos capturando um vislumbre de algo amarrada a uma das pernas da ave: um tubo fino, cilíndrico e metálico que era bastante familiar.

Ele estendeu uma das mãos e desamarrou o objeto de sua águia. Tratava-se de uma cápsula para armazenar cartas pequenas, que os Cavaleiros de Favonius costumavam utilizar para enviar mensagens a outras nações. Os pombos que o Mestra Varka usava na sede dos Cavalheiros eram úteis de fato, mas muito imprecisos e geralmente as mensagens demoravam semanas até chegarem a seus respectivos remetentes, isso quando não paravam nas mãos erradas.

A pessoa que enviara a carta, por outro lado, tinha usado o próprio animal de estimação de Diluc, que lhe era habituado e que o reconheceria facilmente.

Levando em conta que as ordens de Diluc eram para que o pássaro permanecesse bem cuidado e tratado debaixo do teto do Vinhedo, a ideia de usá-lo como pombo correio era uma alternativa afrontosa, caprichosa apesar de eficaz, que só poderia pertencer a uma pessoa no mundo: Kaeya.

Exatamente, Kaeya. Diluc procurou ignorar a ocorrência, sabendo que aquilo era mais umas das peculiaridades do Alberich. Oscilações horríveis na personalidade dele — que lá no fundo, Diluc secretamente gostava — que nem o tempo e nem ninguém poderiam corrigir.

Cartas para Diluc - LucKaeOnde histórias criam vida. Descubra agora