A oitava carta

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O Festival Irodori de Inazuma era, sem dúvidas, um evento cheio de cultura e diversidade, principalmente se comparado ao Festvinho de sua terra natal. Este, que deveria ter ocorrido há cerca de três semanas atrás em Mondstadt.

Enquanto o Festvinho era obviamente focado nas bebidas de gosto único e em trocas comerciais envolvendo mora, o Festival Irodori detinha uma atmosfera poética e deveras requintada à certo modo. Não haviam só os costumeiros estabelecimentos vendendo comidas típicas da região — desde lámens e tamagoyaki até doces como manjus feitos de feijão, mochis de sabores variados e dangos coloridos — como atrações infantis e estandes ofertando livros ou peças de arte oriental pintadas à mão.

Isso não diminuía o apreço que Diluc tinha aos familiares eventos de sua casa, claro.

Ele não trocaria um Festvinho ao lado de seus antigos amigos, como Jean e Amber, com Kaeya acompanhando-o de pertinho, por nada neste mundo. A saudade, aliás, batia um pouco mais forte quando pensava naquela época feliz de sua vida, quando Diluc ainda estava em treinamento para ser um Cavalheiro oficial.

Ele quase podia imaginar Kaeya empilhando canecas vazias e soluçando, podre de bêbado depois de apostar com um certo bardo sobre quem beberia mais. Claro que Kaeya era um apreciador de vinhos nato desde a juventude, mas Venti, o tal bardo, era implacável; Kaeya sempre perderia para ele.

E no fim, Diluc era quem ficaria penalizado com o dever de levá-lo de volta ao Vinhedo, repreendendo e censurando a bebedeira de Kaeya, que não escutaria uma sequer palavra durante o caminho todo (ainda que, cá entre nós, Diluc não ficasse irritado de verdade. Em segredo, ele achava fofo ver o rosto do Alberich corado daquele jeito).

Ao mesmo tempo em que o ruivo andava calmamente pela Cidade de Inazuma, um grupo de crianças formava uma filinha a frente de uma tanuki gigante pintado em uma superfície feita de madeira, com um buraco no lugar do rosto para enfiar suas cabeças. Um rapaz esbelto, utilizando-se de uma câmera fotográfica importada de Fontaine, tirava fotos de cada uma delas quando sorriam, janelinhas enfeitando seus dentes de leite.

Diluc passou reto perante uma multidão que se aglomerava para escutar o jovem líder da Comissão Yashiro dizer algumas palavras, seu sucesso pós nomeação sendo novidade por ali.

Ele parou em frente à um estande de livros da Editora Yae e pôs-se a olhar as prateleiras. Vagamente, recordava-se de Kaeya dizendo em uma das cartas que estava se interessando por livros da Biblioteca dos Cavalheiros de Favonius. E talvez houvesse uma forma de Diluc comprar um, guardá-lo e entregar a ele quando retornasse à Mondstadt, basicamente um presente de desculpas por ter passado três anos viajando.

Um livro rosa pink de capa dura, com um coração estampado e que restava na sessão de romances chamou sua atenção.

"Dez sinais para saber se você está (ou não) apaixonado".

Aquela longa frase era o título do livro. Diluc se sentiu esquisito por manifestar uma leve curiosidade — que, em sua visão, não tinha motivo nenhum para existir — em querer comprá-lo. Ele pigarreou, franzindo as sobrancelhas em uma careta incomodada pelo fato.

Deveria ter sido engraçado de se ver, pois, ao seu lado, ouviu-se uma voz delicada:

— Eu recomendo "Em busca da voz do coração", se você quer conselhos sobre namoro. Meu general leu e disse que gostou muito. Tem um linguajar fácil de entender, sabe?

Diluc torceu o nariz, virando-se para a pessoa que dissera aquilo.

Os cílios dela eram grossos, adornando os olhos claros. O cabelo liso era de um rosa beirando o loiro, longo e de pontas azuis. Ela tinha uma beleza pura, um nariz pequeno e uma graciosidade natural pairando sobre si.

Cartas para Diluc - LucKaeOnde histórias criam vida. Descubra agora