Capítulo 01 - Gritos na Escuridão pt2

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Suzanne arregalou os olhos, aquela mulher queria matar seu irmão? Recuperando as forças, ela se arrastou para perto do corpo dele, abraçando-o protetoramente.

- Não vou permitir que faça isso!

- Se não aproveitarmos enquanto está fraco, ele vai dar muito trabalho quando se recuperar, tanto trabalho quanto Vlady! Me de licença.

- Não, não. - Suzanne começou a gritar, se agarrando ainda mais ao irmão.

Sarah fechou os punhos, ela não tinha paciência para pessoas emotivas, por que a garota simplesmente não compreendia que seu irmão já era uma causa perdida?

- Su... - o rapaz murmurou balançando a cabeça, e despertando.

Suzanne levantou os olhos para encará-lo, um sorriso iluminando o rosto, apesar de tudo seu irmão estava vivo, vivo. E ninguém iria matá-lo.

- Jorge, oh Jorge vai ficar tudo bem. - ela murmurou passando a mão em seus cabelos loiros e sujos de sangue.

- Su - ele disse segurando sua mão - Eu preciso de comida, estou com fome, sede...

Sarah cruzou os braços observando a cena de uma distancia segura, se aquela garota pensava que o irmão era o mesmo de antes, estava muito enganada, logo, logo ela perceberia quem estava certa em relação ao rapaz que deveria estar com uma estaca enterrada no coração agora, era apenas uma questão de segundos. Nada mais do que segundos.

Jorge se levantou rapidamente, abraçando a irmã, o que para uma pessoa que estava praticamente morta há minutos atrás era um grande avanço. Inocentemente Suzanne o abraçou, os olhos fechados, ela mal sabia o que a aguardava.

Os olhos de Jorge começaram a mudar da cor azul para vermelho sangue e percebendo que ele estava abrindo os lábios, Sarah mudou a postura, ela tinha duas opções, sair correndo enquanto ele matava a garota e deixar esse problema para ser resolvido por outra pessoa, ou entrar na briga e salvar a garota. Meneando a cabeça ela respirou fundo, por que justamente agora ela tinha que se lembrar que fora aquela garota quem lhe dera a estaca que matara Vlady? Geralmente ela não agia com consciência, mas deixar uma pessoa que te ajudou morrer, não parecia muito certo, nem mesmo para ela.

- Eu sei que vou me arrepender disso depois.. - ela murmurou.

Então em um surto heróico, ela puxou Suzanne para trás com toda a força, derrubando- a no chão. Os lábios de Jorge morderam o ar, e ele a encarou enchendo-se de fúria.

Sem perceber o que acontecia, Suzanne se levantou do chão irritada, quem aquela mulher pensava que era para fazer isso? Mas antes que ela falasse qualquer coisa, Sarah apontou o dedo indicando seu irmão, Suzanne se virou e o que viu a deixou mais apavorada do que quando Vlady os atacara.

Jorge estava de pé, o corpo meio repuxado como se fosse um animal preparando-se para o ataque, seus lábios estavam abertos e exibiam presas horríveis semelhantes às de Vlady, um som estranho ecoou de sua garganta, semelhante a um rangido, seu corpo também parecia estar adquirindo muitos pêlos rapidamente. Ele deu um passo à frente, Suzanne segurou a respiração.

Novamente Sarah teve de interferir para que ela não fosse morta, pois no instante em que o rapaz saltou sobre a garota, ela entrou na frente, cravando uma adaga em sua barriga. Como ele ainda não estava forte o bastante, aquilo foi o suficiente para fazê-lo gemer de dor e cair ao chão. Mas ele logo estaria recuperado novamente.

Aproximando-se da garota, Sarah segurou seu braço com firmeza e então forçando-a a andar, a arrastou correndo para fora daquela rua.

Sarah corria muito rápido, olhando ao redor, pensando aonde ir, todas as casas estavam com as portas e janelas trancadas, ela poderia invadir qualquer uma delas em busca de abrigo, mas isso só atrairia a criatura para novas vitimas. Vitimas que não sabiam nem mesmo como se defender de algo daquele tipo. Forçando sua mente a calcular os riscos de suas escolhas, ela por fim decidiu, levaria a garota com ela, de volta para seu mundo, ela sabia que não era seguro levar uma humana totalmente ingênua para um lugar como o de onde ela havia vindo, mas deixá-la ali, naquela cidade, seria sua pena de morte. Por que ela sabia que a criatura a farejaria e então mataria, e não teria adiantado de nada salva-la segundos atrás.

Afastando-se da cidade, Sarah se aproximou de uma floresta incrivelmente fechada, Suzanne protestou para segui-la, ela sabia muito bem que floresta era aquela, a floresta de Hoia-Baciu, mais conhecida como triangulo das bermudas, ou floresta proibida, nenhum morador permitia que seus filhos entrassem nela, por que haviam muitos relatos sobre pessoas que entraram ali e jamais saíram. E ela não queria ser uma dessas pessoas.

Sarah se virou para forçá-la a entrar de uma vez na floresta, mas não foi necessário dizer nada, por que quando Suzanne percebeu que seu irmão estava se aproximando, os olhos de fogo como um predador selvagem, saiu correndo na frente dela, para o interior da mata.

Sarah diminuiu um pouco o passo para desviar das imensas arvores que ficavam todas muito juntas, ela ainda segurava o braço de Suzanne para conte-la de desaparecer na escuridão em uma corria desenfreada. Um pouco mais atrás delas, Sarah podia ouvir os gritos de Jorge, ele também havia entrado na floresta, apressando o passo ela começou a andar em diagonal, precisava despistá-lo, o que era fácil já que ele nunca estivera ali. Minutos depois os gritos dele estavam mais distantes, quase inaudíveis. Mas apesar disso Sarah continuou correndo.

Não se sabe por quanto tempo elas correram, mas Sarah só permitiu que Suzanne descansasse quando não ouviu mais nenhum ruído ao redor delas, a floresta era muito escura e só se enxergava os vultos das arvores, respirando profundamente o ar, Sarah teve certeza de que estavam longe o suficiente para não serem localizadas por algumas horas, então sentando-se no chão, sobre umas folhas secas ao lado de Suzanne ela fitou o nada, o rosto inexpressivo.

A respiração de Suzanne havia se acalmado, e pela visão periférica ela sabia que a garota a estava observando, franzindo o nariz Sarah levantou os olhos para encará-la e então disse:

- Você esta sangrando.

Suzanne elevou as sobrancelhas, surpresa pelo comentário e então olhando para os braços percebeu que havia um pequeno corte em sua pele que sangrava, ela nem havia sentido nada, como aquela mulher podia saber disso.

- Limpe isso antes que aquela coisa nos fareje. - Sarah falou irritada, olhando para o lado oposto onde ela estava.

Suzanne colocou a mão sobre o ferimento, limpando-o, então cerrando os dentes respondeu:

- Aquela coisa é meu irmão!

Sarah virou os olhos novamente para ela e Suzanne estremeceu, seus olhos eram de uma imensidão negra e gelada que causavam-lhe medo.

- Bom me desculpe ser portadora de más noticias, mas aquela coisa não é mais o seu irmão, agora ele é apenas uma fera sedenta por carne humana e sangue.

- Essas coisas não existem.

- Existem sim, e se chama lobisomem, há muitos deles de onde venho. Eu sei muito bem o que falo.

- Isso só pode ser um pesadelo. - Suzanne disse colocando as mãos nos ouvidos.

Sarah a encarou, o que ela estava fazendo? Chorando? Tirando os cabelos loiros do rosto, a garota a encarou e então o inesperado aconteceu, ela se jogou sobre seus braços abraçando-a, o choro aumentando. Sarah manteve-se imóvel, pensando no porque ela não parava de agir como uma criança, afinal já deveria ter seus vinte anos, aquilo era patético.

Naquela noite, Sarah fez uma fogueira, ela ate caçou um coelho para o jantar, mas Suzanne se recusou a comer o animal, Sarah nem se importou, se ela queria dormir com fome o problema era dela. Quando terminou de comer, Sarah apanhou em sua bolsa dois pequenos frascos, com líquidos dentro de cores diferentes e entregou um deles a Suzanne.

- Beba isso, a ajudará a dormir.

Suzanne a encarou por alguns segundos, como se duvidasse que aquilo era só para dormir e então cedendo à vontade que tinha de adormecer e apagar aquele dia da mente, ela abriu o frasco e o bebeu em um só gole. Em seguida se ajeitou sobre as folhas secas, procurando ficar o mais confortável possível, e fechou os olhos, pegando no sono quase que instantaneamente.

Sarah a observou dormindo, a respiração tranqüila, e então balançando o outro frasco que sobrara, que possuía uma cor avermelhada, disse:

- Quanto a mim, devo manter os olhos bem abertos - então ela bebeu o liquido em um só gole.

O Enigma da Mamba NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora