Capítulo 3

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Acordei na enfermaria com os gritos do Erick em algum canto, a voz da enfermeira ligando para a emergência, será que foi tão ruim assim? Me sentei na cama e vi o Zack se aproximar, ele parecia preocupado não disse nada apenas esperou eu me recompor, então ele se moveu e foi até uma mesa e pôs um pouco de água em um copo e trouxe para mim.

— Obrigado.

— A enfermeira disse que você pode ter tido uma crise de pânico.  — não respondi então ele prosseguiu. — soube o que aconteceu na sala, não se culpe ele é um idiota.

— Se você tivesse um pai como o meu, saberia que esse não é o maior dos problemas. — bebi um gole da água.

— É, acho que não sei. — abriu a boca e em seguida fechou.

— Eu sei, a direção chamou meu pai aqui não é?

— É.

Me levantei saindo da enfermaria, Zack me seguiu silenciosamente pelos corredores, de certa forma sua companhia  me deixava confortável. Ele parecia a todo momento querer falar algo mas sempre exitava, como se estivesse selecionando o que seria melhor para falar naquele momento.

— Obrigado por guardar meu caderno. — finalmente disse.

— Por nada. Inclusive, aquela música sem nome é bem legal. — ele olhou pra mim pasmo.

— Você leu as letras? Até onde você foi?

— Não vi muita coisa, algumas notas musicais e apenas uma música. 

— Ah. É eu... escrevo alguma coisa.

— Aquilo é mais do que " alguma coisa". Eu achei uma letra linda, devia terminar.

— Obrigado, eu vou um dia. — respirou fundo e quebrou o silêncio novamente. — Percebi que você... não tem amigos, quer ir comigo, a Tessa e o Flinn no cinema um dia desses?

— Olha não me leva a mal mas... pena é a última coisa que eu preciso de alguém. 

— E quem disse que tenho pena de você? Você não ter amigos foi apenas algo que notei hoje, mas o convite é por que te achei legal.

— Nesse caso, vou pensar no convite. — até ele notou que eu sou um peixe fora d'água. — Bom, a gente se vê por aí então.

— Até mais. — sorriu mostrando suas covinhas.

Bati e entrei na sala da diretora encontrando meu pai sentado á sua frente com a psicóloga, ele me olhou diferente dessa vez, ele parecia triste e não disse uma palavra o que foi muito estranho, o tempo todo a diretora e a psicóloga falavam sobre como as coisas em casa poderiam ter desencadeado essa atitude, e como deveríamos concertar o que havia de errado para não acontecer coisa pior, é eu sou uma criminosa.

Após todo sermão da diretora e aconselhamento da psicóloga, finalmente meu pai foi embora sem dizer uma palavra e eu já sei que o pior virá quando eu chegar em casa. Fui para a biblioteca e comecei a produzir minha dissertação para a aula da semana que vem. Ao me sentar na cadeira da biblioteca fechei os olhos e respirei fundo, aquele lugar era minha terapia, cheirava puramente a livros e não posso negar que é um dos meus lugares favoritos.

Meu colégio é integral, entramos ás 7h e voltamos pra casa ás 17:30 durante o turno da manhã temos as aulas e durante a tarde ficamos na escola para produzir trabalhos em grupo, atividades passadas, leitura na biblioteca, esportes  e muitas outras coisas,  esse é um dos motivos de termos nos mudado para cá, é uma escola com um método diferente e é claro que meus pais não perderiam tempo, eles dizem que é bom porque assim passo mais tempo alimentando meu cérebro.

— A gente tem que parar de se encontrar assim. — abri os olhos e lá estava ele.

— Pois é. O que faz por aqui? — endireitei minha postura.

— Vim apenas pegar um livro e te vi aqui, e você? — ele rodava o anel preto que estava no dedo indicador.

— Eu estou escrevendo uma dissertação para  a aula da semana que vem.

— Semana que vem? — riu.

— Eu sei, sou muito esquisita.

— Todo mundo é um pouco, mas a Tessa vence de todos. — rimos juntos.

Comecei a fazer rascunhos da minha dissertação e em alguns momentos eu conseguia sentir os olhos dele sobre mim, talvez esteja curioso sobre mim assim como eu estou por ele, temos muitas perguntas mas não temos coragem de fazer por termos acabado de nos conhecer a tão pouco tempo.

Depois de algumas horas o sinal tocou anunciando o fim do período, ou seja hora de ir para casa.

— Nem acredito que ficou aqui esse tempo todo. — disse pondo minhas coisas na mochila.

— Não tinha nada de interessante prara fazer. — deu de ombros. — Posso te acompanhar até sua casa?

— Am... não sei se seria uma boa. — saímos da biblioteca percorrendo os corredores até a saída.

— Ah! claro, tudo bem. — ficamos em silêncio por um tempo.

— Aliás, seria legal ter companhia e meu pai não está em casa ainda.

— Ótimo. — sorrimos.

Estavamos andando quando vimos nuvens cinzas no céu, gotinhas começaram a cair e aos poucos a intensidade foi almentando. Começamos a correr mas já estavamos enxarcados dos pés a cabeça, minha visão estava embaçada por conta da água, então ele pegou em minha mão e assim corremos juntos até uma árvore.

— Vamos esperar a chuva passar aqui. — concordei com a cabeça.

— Acho... que já pode soltar minha mão.

— Desculpe, estava destraído. — coçou a nuca e riu envergonhado.

— Destraído, com o que? — inclinei a cabeça para o lado.

— Te olhando. — ficamos um tempo parados, olho no olho. — Acreditaria se eu dissesse que é  menina mais linda da escola?

— Eu não sei não, a Tessa me parece muito linda. — tentei desfarçar minha vergonha.

— A Tessa é linda, mas ela não fica corada como você. — riu.

— Eu não... eu estou? — ele riu mais ainda.

— Um pouco. – fixou seus olhos nos meus.

— Acho que... a chuva já amenizou. — apontei para fora da proteção.

— É... vamos antes que seu chefe me mate. — rimos e seguimos caminho.

Seguimos nosso caminho e conversamos muito, fizemos muitas perguntas, mas ainda não todas que queríamos. Enfim chegamos á minha casa.

— Tenho uma última pergunta. — paramos em frente um do outro.

— Manda.

— Como achou minha casa aquele dia?

— Bom eu... tenho uma casa por aqui, lembrei de te ver algumas vezes.

— Ah sério? Então você mora por aqui. — disse olhando para as casas ao redor.

— Bem, não. Moro um pouco distante daqui, mas tenho uma casa aqui para quando eu for maior de idade. — ele se virou e apontou para uma casa não muito longe, do outro lado da rua. — É aquela. Se você quiser, podemos marcar algo lá.

— Am...

— Meu Deus! Merda! Não quis dizer isso. — coçou a nuca um tanto envergonhado. — Eu quis dizer no caso de seus pais implicarem e você não puder ir ao cinema, podíamos marcar algo na minha casa, eu você e a Tessa.

— Ah, claro. Seria uma boa.— ele suspirou e eu ri. — Bom, agora vou entrar.

— Claro, até mais!

— E Zack, você se atrapalha demais, mantenha a calma e escolha as palavras certas. — ri e fechei a porta.

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⏰ Última atualização: Sep 08, 2022 ⏰

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