Uma vez ouvi uma música de uma banda de rock de duas décadas atrás e fazem alguns anos que ela era minha preferida. olhei a letra e pensei: este é um ótimo plano! seguirei!
Repeti aquelas palavras para mim mesma:
EU NUNCA FALARIA DO AMOR SE ELE NÃO EXISTISSE. - e isso se tornou um mantra.
No dia que eu olhei para trás e vi você sair pela porta a fora, eu pensei: nunca mais pensarei sobre o amor, jamais direi tal audaciosa palavra outra vez. E isso era uma promessa.
Jamais diria "amor" outra vez, foi isso o que pensei.
Mas, pelo contrário, meu coração chorava tão alto que não conseguiu ouvir entre choros e batidas ritmadas, o que eu mesma disse em pensamento.
Eu nunca mais consegui dizer o seu nome outra vez - e aquela foi a verdadeira promessa.
O nome que eu achava o mais bonito, já não era mais isto.
Falar em voz alta seu apelido, me dava um bolo no estômago.
Passei a tentar dizer o nome, mas não saía da garganta sem que eu ficasse em plena vontade de chorar.
Então, eu lhe dei um novo apelido: "o nome que não deve ser dito".
E, então, você sem ser convidado, convocado e nem mesmo pronunciado, apareceu diante de mim.
Como um bruxo pronunciou com palavras doces o sutil feitiço que deixou meu coração em chamas poluentes e meu corpo paralisado.
Seu sorriso era o mesmo, seu jeito era exatamente aquele, mas eu me senti sufocada.
Eu jamais diria algo sobre o amor se ele não existisse e ali, naquele mero instante, ele não existia. Meu coração ainda sangrava e eu estava dilacerada. Fugi, sem nem dizer seu nome, não olhei para trás.
Eu jamais diria algo sobre o amor e, ah, ele não existe mesmo!
Deixei para trás todas as letras do seu nome e me custei a lembrar como era mesmo que eu o chamava?
E a fala deu lugar a escrita e a escrita se tornou caótica, insensata, imetódica, subversiva e quase uma anedota.
Um turbilhão de pensamentos, pontos, travessões e vírgulas, onde não cabiam parágrafos ao vento, eu trouxe mais um terço de letras embaralhadas e elas não fizeram sentido algum.
Aquilo era tudo o que tinha me restado quando eu não pude mais fazer caber os sentimentos em palavras porque prometi a mim mesma, diante do vazio de sua presença, que não falaria mais do amor porque nunca existiu.
Mas havia algo dentro de mim que perguntava se não era amor, o que seria? Se não foi amor, o que poderia machucar tanto quanto ele e eu precisei parar e entender.
Respirei fundo. Dei tempo e fiquei quieta.
Nem voz
Nem palavra
Nenhum som...
...O furacão havia passado.
Bom! - Contudo havia aquela pilha de destroços que eu tinha que consertar.
Se o amor não existia, então... Nem mesmo eu me amava e se eu não me amava que sentimento era esse que eu entregava aos outros? Ainda restava o silêncio da falta, do vazio, do eco dos meus pensamentos.
E tudo bem...
Me permiti olhar para trás uma só vez e não ver você na porta.
Tudo bem, eu ficaria bem! Bastava entender. Eu ia entender - aquilo era uma nova promessa.
Entender tudo foi necessário e a escrita ainda era anedótica apesar de sofrida, mas agora estava eu entendida de tudo o que se passara.
Nenhuma vez foi amor, porque eu também não me amava e nem sabia que gosto o amor tinha para reconhecê-lo.
Era isso afinal?
As coisas pareceram se aquietar no meu coração e eu guardo nele um pequeno band-aid caso precise, mas ele já não sangra mais.
Precisei jogar uma pilha de coisas fora, tudo o que me lembrava você agora estava destruído e não tinha mais porque manter.
Eu estava melhor agora, apesar da pouca memória já que tudo o que passei naqueles anos de um "não-amor" se foi em gritos e lágrimas frias.
Contudo, a minha promessa ainda estava de pé: eu não falaria o seu nome se o amor não existisse e bem, ele não existe.
Não digo, então.
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versos em razões embaralhadas
Poetryum monte de letra junta que a gente tira da cabeça e bota no papel, se chama o que?