Capítulo 1 - Yuri

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Sempre senti sono com tardes quentes, não sei se é meu corpo que se cansa de tanto suar, mas hoje era quase impossível não dormir, por isso eu tentava ficar acordado desenhando estrelinhas no meu braço moreno. O relógio em cima da lousa dava 17:49, quase seis horas de uma sexta-feira, pior horário possível para qualquer professor tentar ensinar qualquer coisa, inclusive ele continuava tentando explicar algum tema de Sociologia para os três alunos que resistiram a vontade de dormir.

Ana dormia do meu lado, a cabeça apoiada na mão fechada, os cabelos crespos presos e a pele preta iluminada pelo sol. Preciso ressaltar que ela baba enquanto dorme? Ou enquanto dormia no caso, já que o sinal tocou e a acordou assustada deixando os óculos caírem. Soltei uma risadinha, ela pegou os óculos boca de garrafa e pôs de volta, me olhando pelo canto dos olhos. 

- Por que você não me acordou? - disse ela, juntando os materiais - Você sabe que eu tirei 4 em socio, eu preciso recuperar minha nota nesse bimestre!

- Sou despertador pra acordar você? - respondi - Eu, hein, vai se tratar, garota!

Ela revirou os olhos enquanto tirava da bolsa e me devolvia o quarto livro de Heartstopper que eu tinha emprestado para ela, colocando ele na minha carteira.

- Perfeito, mas não vai ser assim que você vai me jogar pro armário. 

- Ainda tem Young Royals pra assitir!

- PARA COM ESSAS GAYZICE, GAROTO! - ela solta rindo - Putz grila, nem parece que você estuda em um colégio católico.

- Você não tem muita autoridade pra falar sobre ser santa, hein! - falei - Conheço seus rolos...

- Ah, vamo embora que eu tô cansada.

Tentamos sair o mais rápido possível da sala, mas quando se tem mais de 50 alunos fazendo o mesmo é algo meio complicado. Dei tchau para uma ou duas garotas, um tapinha nas costas de um nerd que joga RPG comigo de vez em quando e apertei a mão de alguns meninos do time de futebol, inclusive o Matteo, um jogador alto, talvez isso seja porque eu sempre fui meio baixo pra idade, de pele morena e olhos verdes, o jeito que me olhava enquanto passava a mão entre os cabelos lisos pretos era suficiente para me fazer corar incontrolavelmente, acho que uma das vezes que eu mais questionei minha sexualidade foi quando vi ele sem camisa durante um treino, a lembrança daquele dia foram suficientes para me travar no meio do aperto de mão, ele franziu as sobrancelhas.

- Tá... tudo bem, cara? - sussurrou

A voz dele me fez sair do mundo dos pervertidos e me toquei de que estava a 30 segundos constrangedores segurando a mão dele, durante esse meio tempo, Ana me chamava gritando da porta da sala.

- T-tá sim! - respondi - Eu... tenho que ir, desculpa!

- Tudo bem, né... - Matteo disse enquanto se soltava e virava para os seus amigos, voltando a conversar sobre o jogo na próxima quarta.

Sai correndo atrás da minha amiga que a essa altura já estava no meio do corredor. A maioria dos alunos se reúnem aqui, o teto feito de vidro deixa uma luz dourada do pôr-do-sol encher o ambiente, no momento os estudantes inundavam o espaço, saindo de todas as portas, com os uniformes vermelho escuro e branco listrados. Alcancei Ana que já estava me esperando nas escadarias amareladas que são a entrada da escola.

- Por que você sempre tem que demorar tanto? - ela me perguntou

- Tu que é sempre tão apressada! 

Subimos no ônibus e fomos até o último assento, apoiei minha cabeça na janela e fiquei admirando a escola, um prédio antigo com a escadaria levando a uma entrada com colunas gregas, em cima das colunas havia um retângulo com o nome da escola em letras latinas "Colégio Católico São Guedes do Faro". Diversos alunos saiam da escola esperando os próximos ônibus, nessa altura já estávamos bem longe da escola, viramos à direita, a estrada parecia passar no meio de uma floresta, árvores altas e natureza por todos os lados. Ana lia um livro azul-esverdeado que eu não consegui ver o título, tentei abaixar mais um pouco a cabeça para checar o nome.

Anjos e Garotos (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora