Capítulo três

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Após despertar dentro do rio mais uma vez se afogando, houve um dia que retornou, mas, ao chegar até o portão de sua casa, não teve forças para girar a maçaneta. Seus joelhos trepidaram e acabou se sentando na calçada. Encolheu-se, sentia frio com aquela roupa molhada colada ao corpo. Era apenas o início da manhã. Seus olhos pesavam e queriam fechar quando um ponto luminoso no fim da rua chamou sua atenção. Percebeu que a luz estava junto a uma pessoa.

Colocou-se em pé e seguiu a figura na esperança de que pudesse ser alguém que conhecia. Andou devagar. Sentia fome e o queixo tremia. A pessoa caminhava em direção à igreja. Um pouco mais próximo, notou que era a Senhora do Cemitério andando com uma vela nas mãos. Os sinos começaram a soar nas duas torres da igreja, emitindo a característica melodia que anunciava o falecimento de algum morador da cidade.

Ela abriu o portão e seguiu para o cemitério. Como que enfeitiçado pela chama dourada, o garoto seguiu os passos dela.

Ao ver todas aquelas sepulturas, um arrepio percorreu sua nuca. A velha estava mais adiante, parada de costas para ele. Colocou a vela sobre a superfície de um túmulo. E, então, foi embora sem sequer olhar para o garoto.

Ele andou entre as lápides e foi até a sepultura em que a Senhora Do Cemitério estava segundos antes. O cheiro do local não o agradava e evitava olhar para os lados enquanto caminhava. Parou em frente à vela. A chama bruxuleava quase se apagando. O nome do garoto estava escrito em letras douradas acima de uma pequena foto do seu rosto. Observava sua fotografia sem compreender.

O mármore refletiu os primeiros raios de sol que surgiam. O jovem olhou para o horizonte e viu a serra que guardava a cidade parcialmente coberta pela bruma. Sentiu um alívio súbito e reconfortante. Estreitou os olhos quando os feixes do sol despontaram em sua direção. Finalmente o dia estava nascendo. 

O limiar da noiteWhere stories live. Discover now