Don't Think • Byler

Capítulo Único

Mike Wheeler só queria dar a Will Byers a vida que ele tanto merece. Agora, ele entendia isso mais do que nunca.

Depois de todos esses anos sendo aterrorizado pelo Mundo Invertido, Demogorgon e Devorador de Mentes, Mike percebera que Will não tinha vivido nada. Enquanto seus amigos – inclusive o próprio Wheeler – cresciam e se desenvolviam, tinham suas primeiras paixões, aventuras e faziam qualquer coisa estúpida que adolescentes costumam fazer, Will estava preso. Sendo tomado ou controlado por algo muito maior e mais poderoso do que eles, mesmo que William Byers fosse o mais corajoso e forte de todos.

Demorou, mas Mike começou a ver as coisas do jeito que realmente eram.

Às vezes, pessoas precisam de ajuda, certo? Pelo menos, Nancy o ensinara daquela maneira. Mesmo que nesse instante parecesse uma comparação completamente estúpida, considerando que às vezes em que precisou da irmã mais velha foi quando quebrou a perna numa brincadeira de criança e precisava de alguém para levá-lo ao médico, ou então quando estava com dificuldade em alguma matéria – até mesmo o maior dos nerds pode precisar de certa ajuda quando o assunto é estudos.

Então, para Wheeler, tudo bem precisar de ajuda. Um empurrãozinho ou quem sabe um puxão de orelha. E ele queria e iria, ajudar o pequeno Will a ter uma aventura memorável.

No momento em que estava do lado de fora da casa dos Byers, andando e circulando de um lado para o outro, ansioso para o menor aparecer, a idéia começava a se mostrar idiota. Fugir. E se tudo desse errado e eles fossem sequestrados? Ou quem sabe, a polícia acabaria indo atrás deles? Todas essas opções eram possíveis – e um pouco exageradas também. Não é como se fossem fugir para sempre, no máximo seriam dois dias longe. Dois dias.

Mike estava se amaldiçoando internamente por começar a ter pensamentos tão covardes. Já tinha dezesseis anos. E é isso que garotos estúpidos e inconsequentes de dezesseis anos fazem, certo? Ele espera que sim, porque agora já não dava para voltar atrás.

– Will? – chamou, sussurando no walkie-talkie – Por que tá demorando tanto? Câmbio.

Esperou. Esperou. As mãos soando frio e o coração batendo aceleradamente, até ouvir a outra voz ressoar pelo aparelho.

– Eu disse para me chamar só quando for super urgente, eu posso acordar minha mãe se ficar falando!

– Ok? Mas eu estou preocupado. Câmbio.

– Você sempre está, Mike. – falou, ainda num sussurro, demorando um certo tempo até completar o que estava dizendo. – Essa é uma das coisas que eu gosto em você. – Mike sorriu ao escutar isso, Will não conseguia vê-lo, então estava tudo bem se deixar sorrir. – Estou saindo agora, câmbio e desligo.

Wheeler virou seu olhar para a lateral da casa. Will não sairia pela porta da frente e sim pela janela do quarto, da maneira em que haviam combinado.

A última vez que checou o horário eram duas e cinquenta da manhã. Agora, chutaria ser umas três e meia, e isso explicava a escuridão e o frio se instalando no local – e Wheeler estava fodidamente congelando do lado de fora. Mas combinou em esperar o outro exatamente naquele ponto, para depois ambos irem direito para o carro.
Formando uma sombra e também presença, o mais baixo surgiu da parte de trás da casa, com um enorme sorriso estampado no rosto e uma mochila em suas costas. Will parecia feliz. Verdadeiramente feliz.

– Por que não demorou mais, Byers? Estava sendo super agradável te esperar aqui fora nesse frio do caralh… – antes que pudesse completar, Will pegou seu pulso o puxando para longe dali.

– Vamos logo e pare de reclamar. Estou ansioso agora!

Mike sorriu, estava feliz por ver o outro tão animado para algo. Por mais que aquilo o parecesse até estranho.