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assim como estar lá para vê-la logo após sua reunião e treinos com o chef renomado com quem tinha aulas, charles fez questão de estar presente na rotina de gianna durante os dias em que esteve em casa. a italiana se esforçou para fazer o mesmo e nem era assim tão complicado porque ele parecia seguir algo muito balanceado, o que somente a deixava levemente ausente em sua vida durante o período da noite, já que trabalhava no restaurante para bancar as despesas.

mesmo assim não sofria horrores por isso, descobrira que poderia aproveitar outras partes ao longo dos dias para estarem enroscados no corpo um do outro pelas mais diversas partes de cada um dos apartamentos. serem vizinhos caíra como uma luva, inclusive. na relação que estavam criando, sempre que estavam disponíveis para receber um ao outro, trocavam mensagens rápidas e curtas e em menos de dois minutos, alguém brotava na porta com leves batidinhas.

rambaudi conheceu cada parte da casa do monegasco e perguntou a origem de vários itens, sorrindo para os troféus que ele havia ganho e que decoravam sua sala de estar com muita personalidade. leclerc, por outro lado, ajudou a morena a guardar algumas das coisas que continuavam encaixotadas e saíram juntos até mesmo para comprar um outro utensílio de organização que pudesse juntar algumas das coisas que ela possuía de forma menos bagunçada. a verdade é que charles também percebia o quão pé no chão a chef era — dedicada a não gastar dinheiro com futilidades para garantir o que quer que fosse para o futuro.

gianna preparou a maioria das refeições que comeram naqueles dez dias e não porque ele estava ali, mas porque sua rotina envolvia estar constantemente enfiada dentro da cozinha e lá, ela parecia uma deusa! cozinhava sem que o menor dos fios de cabelo, exceto por sua franja, parecesse sequer sair do devido lugar. a comida estava sempre pronta depois de poucos trinta ou quarenta minutos e sempre surpreendentemente apresentada. ensinou leclerc como posicionar algumas das proteínas que consumiam por causa da dieta relativamente restrita que o piloto seguia e ele divertiu-se intimamente aprendendo mais sobre.

charles, por sua vez, tentou seguir a ideia de trocar conhecimentos ao ensiná-la algumas notas mais simples no piano... ao qual a garota não se adaptou tanto assim, franzindo o cenho com certa força algumas vezes. acho que gosto somente de ouvir você ao piano, charlie!, ela exclamou em algum momento dos que desistira de sentar e entender o que ele dizia e logo em seguida o rapaz a agarrava, levando-a para a cama depois de um dos vários apelidos que ela lhe arranjava com variações de seu nome.

era algo muito parecido com o verão antes mesmo deste se aproximar e gianna sentia seu coração acelerando sempre que ele se esticava para segurá-la pela mão ao caminharem para o mais simples dos lugares. ela lhe mostrou as feiras de rua em que comprava seus temperos e verduras, onde suas frutas frescas eram mais cheirosas e coloridas do que ele já havia imaginado, assistindo-a provar uma amora e quase abocanhá-la no meio de todos ao assistir os lábios grossos ficarem levemente azulados pelo sugo da fruta.

conheceram algumas pessoas da rotina um do outro. andrea ferrari se apresentou num dia em que o piloto teve treinos somente aeróbicos e enquanto desciam o elevador juntos para que ela fosse até a boutique, o preparador o esperava no lobby do prédio. conversaram algumas vezes além daquele rápido, primeiro cumprimento e a italiana riu bastante com o humor do homem. charles ficou muito feliz ao assisti-la interagir com um dos seus e ouvi-la falar italiano por horas a fio foi uma das suas coisas preferidas quando andrea ficou para o jantar em alguma das noites.

do lado de lá, sergei edward, um dos colegas de curso que restavam depois de todas as fases de eliminação e o único com quem a jovem simpatizava de alguma forma, esteve no apartamento meio sem decoração para trabalharem alguns recheios juntos e leclerc se ocupou em arregalar os olhos todas as vezes que eles pareciam entrar numa nova discussão sobre certas medidas e acréscimos de ingredientes. sergei adorava bolos e perdia todo o tempo do mundo enquanto gianna somente revirava os olhos em sua direção. o mesmo acontecia ao inverso quando eles produziam pães, gia dedicava todo o seu tempo às massas e era nítido que o amigo não chegava nem perto das obras dela.

então quando o dia de viajar para inglaterra, em direção ao circuito de silverstone, charles quis convidá-la com cada parte de seu ser para acompanhá-lo naquela corrida. chamando-a para que ela fosse seu amuleto enquanto ele tentava voltar à maré de sorte que tivera nas primeiras disputas do ano. ainda assim, gianna vivia seus últimos períodos de curso e por várias vezes, charles a ouvia levantar-se o mais suavemente da cama para anotar coisas num caderno enquanto sussurrava palavras em inglês, ou italiano e vez ou outra, em francês — mesmo que não gostasse tanto assim dessa terceira —, alterando o menu que precisava desenvolver, aperfeiçoando-o com ingredientes que lembrava nos momentos mais absurdos do dia.

portanto, enquanto ele separava as roupas que levaria e as colocava na mala de uma forma bem mais correta do que gianna pensava ter feito durante toda a sua vida, a italiana se pegou sentindo sua falta antecipadamente e dizendo:

"namoradas costumam ir para os circuitos?" franziu o cenho, passando a mão pela perna esquerda, desamassando uma ruguinha que se formara no tecido folgado da calça que usava.

"às vezes... algumas têm agendas mais rígidas e não podem seguir tantos circuitos e viagens ao longo da temporada. mas de forma geral, é comum que elas apareçam." respondeu, sinceramente. olhando-a vez ou outra ao dobrar algumas camisas.

eles ficaram em silêncio depois de ela murmurar um hm e manter-se na mesma posição. de repente, o silêncio havia dominado o lugar de um jeito mais pesado e enquanto gianna queria dizer que gostaria de ser convidada, charles queria dizer que gostaria de convidá-la. ainda assim, nada foi feito e ela fingiu estar ocupada anotando quaisquer nomes que conseguisse pensar numa folha do caderno em que estava criando o menu. por acaso, era uma mistura gigantesca de palavras que se relacionavam com o monegasco.

charles, charles leclerc, CL, número 16, carro vermelho, ferrari, silverstone...

não que ela fosse externalizar, talvez o piloto não se sentisse tão confortável assim em levá-la para os eventos e essa fosse sua forma de se comportar. rambaudi não tinha direito de chatear-se se não planejava expressar em voz alta como se sentia, então quando ele concluiu a arrumação e recebeu uma notificação de mensagem de andrea, que já havia chegado no prédio, colocou a mala pequena de pé e finalmente olhou a italiana nos olhos.

"prontinho..." iniciou, sorrindo pequeno, meio vacilante em sua direção. gianna reagiu com todo o gostar que sentia por ele e deu alguns passos em sua direção, abraçando-o apertado.

"nos vemos quando você tiver algum tempo para monte carlo..." sussurrou, agarrada em sua pele como se não quisesse nunca soltá-lo. não queria. "e para mim."

charles sorriu, beijando-a nos lábios com toda a vontade que tinha em seu corpo, querendo que ela sentisse o quão saudosista ele já se sentia e o quanto gostaria que ela o seguisse por cada um dos circuitos e lugares ao redor do mundo que conheceriam. gianna sentiu um pouquinho daquilo tudo.

"não se preocupe, eu acabo voltando para monte carlo e isso significa voltar para você." respondeu, alisando a lateral do rosto dela com a ponta dos dedos, finalizando o contato íntimo ao lhe dar um beijo na testa.

andaram juntos até a sala e a italiana lhe entregou uma sacola com lanches saudáveis para ele e para o treinador físico, desejando que ele tivesse um bom voo até seu destino final. saíram juntos e gianna caminhou em direção à própria porta enquanto charles esperava o elevador.

de um jeito estranho, agora que se sentiam os dois muito esquisitos, se abraçaram de repente como haviam decidido bater na porta um do outro da primeira vez em que se viram, quando a caixa metálica se abriu no andar, charles soltou-a com relutância. "au revoir, bella." [tchau, linda].

rambaudi soprou-lhe um beijo, jogando-o com a ponta dos dedos e leclerc sorriu uma última vez antes das portas fecharem-se, deixando a italiana com uma sensação no peito nunca antes sentida. a saudade dele já estava consigo e ela sentiu os olhos arderem com lágrimas que não caíram, mas que estiveram ali. charles, por sua vez, pensou nela durante cada segundo do caminho até o aeroporto, mesmo quando andrea tentou distraí-lo.


capítulo importante, eu diria! ainda mais pra trazer novos ares pra fic hehe comentem o que acharam, compartilhem com os amigos! vejo vocês em breve (:

the pianist ⁕ charles leclercOnde histórias criam vida. Descubra agora