Nasce uma borboleta

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No ano de 1214 d.c eu fui gerado e enviado a África, nascido de Loki na forma de uma borboleta que fora regada pelo poder de Qwark e das cordas interdimensionais, nunca soube ao certo se eles desceram aqui, deram uns amassos e eu nasci ou se aconteceu lá em cima e me lançaram aqui em baixo depois, prefiro não pensar em onde aconteceu por que isso me faz pensar em como aconteceu e por sua vez, isso me dá ânsia. Acho que já deu para entender que eu não nasci muito bonito, filhotes de borboletas não se parecem em nada com borboletas, nem tão poderoso, mas ao menos eu não era humano. Passei dez anos submerso em ouro líquido fervente, meu corpo, meu poder e minha mente não pararam de se fortaceler nem por um segundo, recebendo a energia das cordas, a força vital de Qwark, a magia de Loki e a magia natural que floresce no continente africano. Uma tempestade se formou em cima da minha piscina particular do tamanho de uma cidade, por onde correntes elétricas, vindas da tempestade, circulavam tanto nela quanto em meu corpo. O ouro é um super condutor de eletricidade então pode-se concluir que não foi lá muito confortável, mas eu não lembro de ter sentido nada então é indiferente.
Durante os dez anos que se passaram, enquanto estava de molho em ouro fervente, eu me nutri da terra e da água e de tudo que ambas pudessem me proporcionar, principalmente a história e o passado do mundo para onde eu havia sido mandado. Ouvi dizer que a água tem memória e até que faz sentido, mas a terra também tem muito a dizer, sua formação contém restos do que um dia já foi a matéria de um receptáculo de vida, corpos, pra simplicar. Eu vi o caos nascer de uma expansão e o vi morrer com um meteoro, depois o vi nascer uma segunda vez com a criação de um jardim e se espalhar como mofo em um porão, eu vi os seres mais frágeis e insignificantes de todas as dimensões destruirem seu próprio lar em nome de um poder e um domínio que eles nunca terão, em nome de um deus que nunca os amou. Vi as guerras, o amor, o medo, a morte, tudo que essas coisas causaram e tudo que as causou. Eu estive em todos esses lugares, em todos os tempos, antes e depois de qualquer coisa. Foi uma aula de história e tanto, foi bom por que aprendi que odiar seres humanos é meio que o mínimo que todos podemos fazer, eles não se ajudam também, o que eu posso fazer?
Além de ficar sabendo de tudo o que se passou por aqui eu também consegui ver algumas das coisas que existem lá fora, onde meu pai e outros seres moram, até mesmo humanos, há uma porção deles nos outros reinos, legítimas pragas.
O banho da beleza foi bom mas já estava na hora de por a cara no sol, chega de ouro fervente e tempestades, era hora de novas jóias e novos tipos de calor. Dez anos depois, no ano da graça de 1224 d.c eu saí de lá, não houve classe nesse momento, eu simplesmente acordei e tive que rastejar até a margem. Assim que meu corpo estava totalmente fora da lava percebi uma infinidade de água a minha frente, meu banho quente havia se transformado em um banho frio e resfrescante diante de meus olhos. Tentei andar alguns passos e mal saí do lugar, não era possível que fosse tão difícil assim, eu vi humanos fazendo isso como se não fosse nada, como pode pesar tanto. Foi quando percebi que meu corpo estava coberto por lava fria, um material rígido e rochoso que se espalhava por todo o meu corpo, eu estava cada vez mais imóvel, respirando cada vez menos, eu tinha acabado de ganhar a luz e já ia morrer, mais uma das sátiras do Lord ao qual chamo de pai. Quando tudo parecia já sem esperanças um feicho de luz dividiu o céu ensolarado e limpo a minha frente, como um raio mas bem mais forte, intenso e sem barulho. Quando esse feicho de luz bateu na superfície próximo a cidade, uma onda de luz se dissipou e assim que me atravessou minha armadura de pedra caiu ao chão, se misturando a água como se tivesse sido aquilo desde sempre, apenas água.
Agora que eu havia deixado de ser uma larva e era uma borboletinha fora do casulo de pedra livre a voar, poderia explorar os prazeres do mundo para onde fui enviado. Eu até que me parecia com os demais seres que viviam por ali, todos altos, fortes e suas peles brilhavam contra o sol, a diferença era que meu cabelo era imensamente maior que os demais homens e mais liso que o das mulheres, e minha pele um tom mais clara, mas me encaixaria facilmente eu acreditava. Andei por horas e no primeiro reflexo na água em que pude me ver, me apaixonei, eu era o sonho de qualquer uma, isso eu tinha certeza, ou de qualquer um, para ambos apenas um sonho. Apesar de aparentar mais de vinte anos, eu tinha apenas dez, o que tornou as coisas um pouco confusas de início mas logo me acostumei e como não se acostumar com um corpo desses. Após alguns olhares tortos e ameaças de morte eu percebi que tinha algo errado, mas era tarde demais, quando percebi já estava no chão desacordado, a última coisa de que me lembrava era do punho de um homem três vezes maior que eu se chocando contra meu rosto. Quando acordei tinha uma velha bem acima de minha cabeça, me encarando os olhos, ela parecia doce, cuidadosa, talvez estivesse com pena, quando tentei me levantar ela bateu com um cajado na minha testa e em seguida lançou um punhado de roupas em meu rosto, claro que eu não estava usando roupas, eu tinha acabado de nascer, esperavam o que?
Vesti as roupas que havia ganhado, que provavelmente haviam sido roubadas de um cadáver pelo estado em que estavam e entrei na cidade que se erguia a minha frente, ao contrário de antes agora ninguém me olhava, apenas se expantavam com as borboletas, as minhas meninas estavam espalhadas por toda a cidade, eu não controlava, apenas sentia o bater de suas asas e as consequências disso. Passei um dia inteiro perambolando pela cidade, atrás de algo que me chamasse atenção, algum sinal de meu pai ou algo do tipo. Eu já estava quase saindo da cidade e nada havia acontecido até que na escuridão da noite, um brilho azul cintilante se estendeu por um único caminho, borboletas em cada um dos lados da rua, me levando em direção a alguma coisa ou algum lugar. Se era de um sinal que eu precisava então ali estava, segui minhas borboletas por mais de uma hora, até que cheguei a uma casa pequena, bem simples e aparentemente abandonada. Quando olhei ao redor as borboletas haviam sumido e ali estava eu, em frente a casa de um desconhecido sem saber o que fazer, apenas esperando alguém abrir os olhos e passar por aquela porta assim que o sol nascesse.

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⏰ Última atualização: Aug 22, 2022 ⏰

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