XVIII

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                                       Dois dias atrás 


Sou acordado com gritos. Por instinto, saio rápido da cama e pego a arma carregada de dentro da primeira gaveta da cômoda ao lado. Abro a porta e saio sorrateiro do quarto, relaxando os músculos por um segundo ao encontrar um Taehyung sonolento no corredor. 

— É a mamãe?  — pergunta ao bocejar. 

Gritos de lamento de novo. 

Ainda segurando a arma, apresso os passos e corro pelo corredor, até o quarto dos meus pais. Sem bater, empurro a porta e entro. Me deparo com a mamma de toalha, ao lado do meu pai, tentando fazer uma massagem cardíaca em seu peito. 

— Ele não acorda. Ele não acorda — ela choraminga.

Entrego a arma na mão de Tae, que me seguiu e parece confuso com a cena, e com as pernas pesando uma tonelada corro até o meu pai. A mamma sai de cima dele e eu começo a fazer a massagem cardíaca, tentando controlar as minhas próprias lágrimas.

Tentando controlar o desespero.

 — Vamos, papà. Acorde — rosno entre os dentes, mas não tenho respostas. — Acorde! — grito. 

O corpo dele está frio, mas não desisto e continuo com a massagem cardíaca, implorando em silêncio para que ele abra os olhos. Ele precisa abrir os olhos. 

Ele não pode morrer assim. Não.

Ainda é cedo. Ele não pode ir embora desse jeito, tão de repente. Não. Meu pai não pode. 

— Acorde! — grito de novo e escuto Tae e mamma chorando — Pai, por favor — suplico.

Namjoon surge à porta, todo suado e com roupas de academia. Os olhos arregalam ao me ver em cima do nosso pai, tentando reanimá-lo. Ele corre até mim, me tira de cima do papà e tenta ele mesmo fazer a massagem cardíaca, enquanto grita para que ele acorde. 

Infelizmente, é tudo em vão. 

As vozes ao meu redor começam a ficar distantes e as lembranças com o meu pai vêm de modo espontâneo. Eu ainda criança e ele rindo, me ajudando a montar o trilho de trem que me deu de presente aos oito anos de idade. Eu e meu pai jogando beisebol. Eu e meu pai, rindo. Eu e meu pai comemorando meus aniversários. Eu e meu pai, fazendo planos para o futuro. 

Eu e meu pai…

Com os olhos ardendo, encaro o corpo do papà em cima da cama. Namjoon ainda tenta reanimá-lo, mas não surte nenhum efeito. 

Sinto a garganta seca e cerro os dentes. Saio do quarto rápido, mas Taehyung me alcança no corredor, aos prantos.

— Aonde está indo? — choraminga, mas eu não consigo responder. Ele corta a nossa distância e envolve os braços na minha cintura, chorando. — Por que isso aconteceu? Por que ele se foi, Jungkook? Ele se foi — sussurra. 

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