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Renata

É quando os dias parecem normais, que algo vem e o arruína. Só não esperava que fosse ele a fazê-lo.

Há uns meses atrás, quando terminamos, disse a mim mesma que ia supera-lo rapidamente. Mas sempre que ele me mandava mensagem dizendo que vinha para a cidade, algo em mim rejuvenescia. O tempo foi passando e a distância entre nós foi aumentando, pensei diversas vezes qual seria o motivo, o tempo, a conexão, a distância. Mas nunca me passara pela cabeça o que vi.

**Quebra de Tempo**

R: Se procura no insta, alguém deve ter colocado alguma coisa! Não é possível todos terem desaparecido.

S: Mas já procurei em todos os lugares, ninguém publicou nada.

R: Como é possível não haver uma alma viva na cidade para roubar.

Continuamos a conduzir em direção ao norte, quando uma moto passa por nós a alta velocidade.

S: Mãe, aquela moto tem duas pessoas.

Rapidamente dou meia volta, e começamos a perseguição. Quando a moto quebra numa curva vejo o Spok e na sua garupa uma mulher morena com os cabelos ondulados, e eu simplesmente paraliso...

S: Renata?! Renata?! Mãaaaaaaaaaaaaaeeeeee, estás a deixar escapar a moto... - Grita a Selena do meu lado.

Quando volto a mim, acelero o carro e tento acompanhar a moto para ter a certeza que vi bem. Paro o carro, uma rua antes e posiciono-o de maneira a só eu conseguir ver.

S: Renata, assim eu não consigo ver e apontar a arma. – ignoro-a.

Quando confirmo a minha suspeita, início a marcha com o carro. E rapidamente uma onda de sentimentos invadem a minha cabeça e juntamente com eles uma Selena cheia de dúvidas ao meu lado.

S: O que aconteceu? Porquê que não perseguimos a moto? Porquê que paraste? Renata?!

R: Selena por favor... - Tentando conter as lágrimas o mais possível.

S: Mãe o que aconteceu? Não estou a entender...

R: Selena...

S: Deixa-me ajudar!

Paro o carro numa garagem e digo-lhe para sair.

S: Eu não vou sair. Olha o teu estado, olha como tu estás, claramente não estás bem. Quem era na moto?

R: SELENA SAÍ! – Já com as lágrimas a escorrem-me no meu rosto.

S: Já te disse, eu não vou sair.

R: Então saio eu! - Saio do carro, pego a minha moto e vou em direção à minha casa do Beco...

S: RENATAAAAAAAA

**

Quando entro em casa e vou a procura da única coisa que me irá entender neste momento, a bebida. Procuro na casa toda, e enquanto o faço deixo todas as lágrimas presas caírem sobre o meu rosto, e de repente um choro compulsivo e uma raiva se apoderam de mim. Esbarro e atiro tudo o que me aparece a frente para o chão para tentar me acalmar, mas nada ajuda. Como é possível ele conseguir afetar-me tanto?

Sinto-me perdida e ao mesmo tempo despedaçada, e quando finalmente encontro a minha coleção de bebidas sento-me ao lado delas. E enquanto bebo a mistura de lágrimas com sabor a álcool, todos os meus pensamentos e recordações voltam a mim, o nosso início, os nossos términos, as nossas discussões, os nossos juramentos, as nossas voltas, a nossa família, o nosso casamento, o nosso final...

O amor devia ser algo bonito quando se é com a pessoa certa, mas eu consegui destruir isso. Parece que uma parte de mim sempre terá que perder, no entanto eu consegui perder tudo...vê-lo com outra mulher na garupa que um dia foi minha, faz me ter a certeza que não há uma volta na situação. Se ao menos pudesse consertar todo o meu passado...

Jurei que com o tempo a escolha que ele fez tivesse sido certa, porém hoje reparo na cama fria ao meu lado e vejo que tudo o que tinha de suficiente na minha vida desapareceu. Quebrei a melhor parte de mim por não entender o que se passa dentro de mim...quebrei as longas noites que passamos, quando o meu dia girava em nosso torno...quebrei o céu azul que ele tão habilidosamente pintou na minha vida, e o transformei em cinza...e hoje vejo claramente que ele realmente se foi...

O tempo vai passando, a bebida vai se apoderando de mim e os meus pensamentos vão ficando mais escassos...começo a ficar com os olhos mais pesados, e tudo à minha volta vai ficando mais turvo e escurecido...

A Misteriosa MulherOnde histórias criam vida. Descubra agora