III

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Renata

Acordo num lugar diferente de onde estava. Dói muito a minha cabeça e isso dificulta-me a identificar um bocado que estou no meu quarto. Como terei vindo parar aqui?

Levanto-me e vou até ao banheiro a procura de algum medicamento para a diminuição das dores de cabeça. Quando volto ao quarto reparo que a minha arma não está comigo. Onde terei deixado? Está tudo muito confuso, mas o sentimento de raiva e tristeza permanecem...

Desço até a sala à procura da arma e reparo no caos que a casa está, aos poucos as recordações das últimas horas vão voltando como flashback, a perseguição, o Spok, a garupa, a raiva, a tristeza, a confusão, e é quando percebo minimamente o que aconteceu...

Enquanto procuro a minha arma, ouço as meninas do lado de fora da minha casa a falarem. Que estarão a fazer aqui? Não deviam estar a trabalhar?

S: Cass já te disse eu não sei quem era na moto! A moto é familiar para mim, mas não me lembro de onde...

Cs: Tá bem, tá bem...mas claramente foi a pessoa da moto que a deixou neste estado, não tens nem uma suspeita?

S: Eu poderia dizer que era o meu pai, mas ele não avisou que vinha hoje! Deve ser outra pessoa, Cass.

Cs: E ele já te respondeu?

S: Ainda não...

As meninas são demasiado perspicazes, mais tarde ou mais cedo elas irão descobrir o verdadeiro motivo de eu ter ficado assim. E tentaram impedir-me de fazer qualquer coisa a respeito, especialmente a Cass. Então decido sair sem avisar ninguém, pego na minha moto e começo a minha procura.

Se ele está mesmo envolvido com ela, eles devem estar juntos por aí. Contudo se eu tiver e moto rosa e ele ver, ele saberá facilmente que fui eu. Tenho que tentar passar despercebida, mas todos os meus carros são rosa. Não posso ir pintar porque todos na mecânica me conhecem e achariam estranho eu estar a trocar de cor de qualquer veículo, e avisariam logo as meninas. Se ao menos tivesse um carro preto...

Lembro-me da última vez que ele esteve na cidade deixou cá o Tesla para ir de moto, e o Tesla é preto e todo fumado. Iria tornar mais fácil passar despercebida na cidade. Mas será que ele deixou a chaves em casa ou levou com ele?

Decido então ir até a mansão ver se ainda está lá o carro. Quando vejo o carro na garagem entro em casa, e vasculho a mesma a procura das chaves do Tesla dele. Acho estranho, as chaves não estarem junto a todas as outras. Onde será que ele as colocou?

Procuro pela sala e no escritório e não encontro nada. Quando entro para procurar no nosso quarto, uma onda de recordações me invade, está tal e qual a última vez que cá estive. Remexo nas gavetas secretas do closet e nada. O último lugar que procuro é na gaveta da mesa de cabeceira dele. Vou remexendo na gaveta quando encontro finalmente a chaves do carro e juntamente com ela a foto que ele levava sempre nas viagens.

Porquê que ele guardou aqui a foto da nossa família? Porquê que ele não se manteve com ela? Terá sido aquela mulher a pedir-lhe para deixar a foto para trás?

Uma onda de dúvidas invadem mais ainda a minha cabeça, e a raiva e tristeza de o ver a seguir com a sua vida em frente apoderam-se de mim. Então pego na chaves e vou indo em direção à garagem. Juro que mato aquela mulher quando tiver com ela nas minhas mãos...

Desço até a cidade e começo a minha procura. Passado pouco tempo encontro os dois a falar ao lado do Flecca da praça, que previsível eles estarem ali. Além de tira-lo de mim também quer o seu dinheiro, sinceramente.

Vou vigiando os dois escondida, quando ela se afasta dele sigo-a discretamente, até ela parar na garagem atrás do banco. Paro com o carro ao lado dela e:

R: Olá, precisas de ajuda!

A: Oi! Ah não, eu estava só espera de uma pessoa.

R: Então acho que essa pessoa pode esperar por ti agora! Entra no carro vai! – Digo-lhe apontando a arma a cabeça.

A: Porque razão eu entraria no carro?

R: Estou a mandar-te entrar no carro. Queres morrer agora ou preferes primeiro ter uma conversa comigo?

A: Tá bem, tá bem!

E assim que ela entra tranco o carro para a espertinha não tentar atirar-se do mesmo.

R: Passa o telemóvel vai!

Continuando a apontar a arma para a cabeça dela. Assim que ela passa o telemóvel, pego nele, atiro pela janela e volto a fechar os vidros do carro.

R: Qual o teu nome?

A: Ayla.

R: Muito bem Ayla, vamos lá dar uma voltinha...

Afasto-me o mais possível da cidade, e quando vejo que já estou longe o suficiente enfio-me com ela numa casa abandonada de madeira no norte. Mando-a sair do carro, mas ela parece uma anta a andar.

R: Bora Ayla! Não tens pernas o suficiente para andar, ou só tens coragem o suficiente de te meter com o marido das outras?

A: Marido? Ah tu é que és a famosa Renata que ele tanto falava... - Diz ela em tom de deboche.

R: Onde é que está a graça?

A: Em lado nenhum...Coitadinha! Afinal tu não gostas de ser corna, mas gostas de colocar os cornos nos outros...ah esqueci-me! Perdão, ele acabou contigo porque teve o mínimo de consideração por ele...

R: Não achas que para quem está com uma arma apontada à cabeça está a ser demasiado debochada?

A: Tu achas que estou a ser debochada? Não fui eu que passei uma semana ao lado dele no hospital, mas passado dois dias de voltar andava gadar todo o mundo...

Quem era ela, como ela sabia que eu tinha estado ao lado dele no hospital? Como ela sabia destas coisas?

R: Como sabes isso? Quem és tu?

A: Achas que eu não sei do pedido especial que foi feito naquele hospital? Um paciente que já estava considerado morto, que não recebia praticamente visitas, do nada recebe tudo do bom e do melhor...Pensas que és assim tão desconhecida no Hospital que o teu pai trabalha, Renata Moretti?

E derrete as coisas vão fazendo sentido...

R: Tu eras a enfermeira, que queria entrar sempre no quarto. Porquê? Porquê estás aqui?

A: Não é assim tão obvio? Estou aqui por ele, com ele e para ele.

R: E tu achas mesmo que ele te ama? Achas mesmo que ele te quer?

A: Eu acho que sim! Afinal, não fui eu que perdi o lugar na moto dele. Aliás eu até ganhei um lugar nela. E como é bom estar naquela garupa, a sentir o cheiro dele...Não fui eu que destruiu a vida dele. E ele merece tanto ser feliz, e ele é tão feliz a meu lado...cada riso, cada momento, cada conversa nossa, parece que estamos num mundo só nosso! Para completar a perfeição só faltava mesmo o Noah, que ainda bem que passa mais tempo com a babá que com a mãe irresponsável dele.

Aquilo para mim foi a gota de água. Atiro-me a ela e começo a lhe bater, e a cada frase que ela tenta soltar, vou descontando mais a minha raiva. Só paro quando ela está quase inconsciente. Saco a minha arma e com os olhos cheios de lágrimas aponto a mesma a ela com o dedo no gatilho...

A: Podes me matar a vontade, mas ele jamais voltará a amar-te!

??: RENATA!

Disparo...

A Misteriosa MulherOnde histórias criam vida. Descubra agora