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Segunda-feira.
Matilda, Harry Styles.

O tempo de Brasília está ensolarado e ventoso, o sol bate na janela da cozinha, esquentando meu rosto. Meus pais estão calados e isso é um milagre, suas vozes animadas pela manhã não faz nenhuma falta.

Apesar de interagir com todos pela manhã, eu não sou uma pessoa matinal. Ter que suportar meus pais todos os dias às 08h sorrindo e cantando era quase pior que estudar para medicina.

- Minha filha, esse vestido tá lindo. - meu pai quebrou o silencio com sua voz grossa de pastor. Eu sorri para ele em agradecimento e engoli o café amargo, uma desculpa para não falar nada.

Meu estilo não é muito diferente do que me é imposto, mas as escolhas de peças da minha mãe às vezes não me deixa contente. E hoje é uma dessas vezes. O vestido preto de pano fino pega nos joelhos e tem botões da gola até a barra. Por isso o elogio do meu pai me dá vontade de revirar os olhos.

Pareço uma filha odiosa, mas não, é muito diferente disso. Faço de tudo para que meus pais fiquem felizes com a filha que tem.

- Vi a mãe da Lívia ontem no açougue, ela disse que vocês não estão se falando. O que houve? - os dentes da minha mãe brilharam quando perguntou, desmanchando o cubo de açúcar na sua xícara.

Eu suspirei. Por breves minutos achei que meus pais haviam percebido que eu não gosto de falar de manhã e resolveram respeitar isso. Seria um pouco tarde, mas seria bom.

- Só estamos nos acostumando com as faculdades, mãe. - Dei meu melhor sorriso e logo o escondi com café, novamente.

Meu pai me olhou por um tempo e eu senti todo seu humor mudar.

- Então fala com ela logo. - Ordenou, me fazendo o olhar com um pouco de covardia. - Seus planos são ser solteira aos dezoito e sem amigos?

Passo grande parte do meu tempo estudando (passava, agora que já estou na faculdade tentarei da uma maneirada nos estudos, mas nunca parando.) Como estudar ocupava todo meu tempo acabei perdendo minhas amizades por não poder sair com eles. Menos Lívia. E eu não vejo problema em ser solteira com 18 anos, mas entendo meus pais quererem que eu já tivesse pelo menos um pretendente, já que eles se casaram com 16.

- O senhor tem toda razão, pai. - assenti com a cabeça, afastando a cadeira para trás. - Irei falar com ela hoje. - Limpei a boca com o guardanapo e fique de pé. Beijei os cabelos escuros da minha mãe, que se parecem com os meus, e depois a careca do meu pai. - Vou pegar minhas coisas e já estou indo.

- Ai, nossos corações se partem toda manhã de segunda quando você volta para aquele dormitório. Não é, Rogério? - minha mãe disse melancólica, colocando uma mão no coração e outra sobre a do meu pai.

- Sim. Gostamos de te manter aqui, Vitória. Onde podemos cuidar e proteger de você. - Meu pai completou, apertando a mão dela e me olhando com carinho. Eu sorri como sempre e subi as escadas.

Eu comecei a faculdade a um mês e meio, e escolhi ficar no dormitório de lá, ao invés de continuar morando com meus pais. Minha maior motivação foram as manhãs em que eu posso ser livre, posso acordar e passar a manhã de pijama sem falar por um bom tempo, essa motivação é tão boa que me faz esquecer que esse quadrado que chamam de quarto só tem espaço para duas camas, duas mesas de estudos e um armário.

Divido meu quarto com a Roberta, uma estudante de música que se deixar não abre a boca pelo dia inteiro e fica mais na casa da namorada do que aqui.

A primeira coisa que fiz ao chegar no meu lar dos últimos dias foi jogar a mochila de roupa do final de semana no chão e me jogar na minha cama.

Liberdade para Miss Excelência.Onde histórias criam vida. Descubra agora